Fui ao hotel apenas para pedir minha demissão e lógico que também me despedir do chefe Ruan, não iria simplesmente embora sem ao menos conversar com a única pessoa que admirava naquele local, ao me verem os outros funcionários ficaram curiosos para saber o que havia acontecido, ainda mais porque ontem não vim trabalhar e foi justo depois que alguém me deixou trancado no banheiro.
Ao entrar na cozinha percebi que o ômega e os alfas que me atacaram abaixaram a cabeça e até deram um passo atrás, realmente pareciam estar com medo... de mim? Estranho... mas ao olhar ao redor notei também que estavam faltando um outro ômega e um beta daquele turno, eram os que sempre tentavam me atrapalhar durante o meu horário de trabalho, mas não era dia de folga deles...bem... talvez eu tenha me enganado.
O chefe Ruan quando me viu, deixou a cozinha sob o comando do souschef e veio ao meu encontro. O vi olhar ao redor com seu olhar sério como em advertência aos outros, antes de terminar de enxugar as suas mãos e ficar a minha frente.
_ Veio pedir sua demissão, Elias? - ele me fala com seus grandes olhos azuis me olhando profundamente.
_ Como sabe que consegui a vaga? - falo meio sem jeito, devido a sua pergunta e a sua aproximação.
_ Dúvida ainda da minha capacidade de observação e da minha intuição, garoto? - ele me fala sério, com uma pequena ruga se formando acima das suas sobrancelhas, acabei engolindo a seco e um tremor percorreu meu corpo.
_ Acalme-se Elias, (ele abre um pequeno sorriso e eu solto uma lufada de ar) venha... vamos conversar onde não haja tantos ouvidos. - observo que alguns funcionários haviam parado o que estavam fazendo para prestar a atenção em nossa conversa e até ouvi alguns cochichos, depois que ouviram a palavra "demissão".
O segui até a área externa, que ficava atrás do hotel e ali havia um pequeno jardim com algumas mesas e alguns bancos, longe da área dos hospedes, reservada apenas aos funcionários poderem confraternizar entre si ou para alguns almoços, caminhamos até chegar a uma sombra de uma árvore, nos sentamos em um banco disposto ali e ele quebra o silêncio que havia se formado entre nós.
— Então nem vai precisar de uma carta de recomendação, mas... mesmo assim eu a fiz. - novamente ele me surpreende, quando me estende um envelope com uma bonita caligrafia. Não tive tempo de lhe solicitar a tal carta, mas fiquei feliz pelo seu gesto, então a peguei e fiz uma reverência o agradecendo.
Ficamos ali conversando um pouco a sobra daquela arvore e sentindo a brisa marítima que tocava nossa pele, falei como era o restaurante, sobre a minha impressão sobre o Sr. Fonseca e do novo chef, lhe contei sobre a ideia de contratar um tutor para que eu continuasse meus estudos, por fim como havia sido o meu teste naquela cozinha e que no final fiz o meu bolo surpresa.
— Então está querendo ganhar o seu novo chefe pelo estômago? - ele fala isso de modo sério e eu coro.
— Não... não... Não é isso... - tento me explicar e ele sorri. Seu sorriso iluminava seu rosto, suavizando os seus traços, acho que dos funcionários que trabalham com o chefe, fui o único a vê-lo sorrir.
— Eu faria isso... (ele sorri contido desta vez), bem então não vamos nos ver mais... - ele suspira e seu olhar se perde no horizonte.
— Por favor, se não se importar poderia vir visitá-lo? - ele me olha em meus olhos e havia um brilho que não consegui decifrar ali.
— Melhor não, você sabe como é aqui, você não estaria seguro, mas eu tenho um presente de despedida. - ele me dá uma caixa bem embrulhada e com um laço vermelho, não havia visto quando ele a pegou, ou onde ela estava antes, mas ao abri-la com cuidado, vejo um celular dentro.
— Eu não posso aceitar, é algo muito caro... - ele rejeita veemente, empurrando minhas mãos e as mantém segurando antes de voltar a falar.
— Não tem devolução, percebi que você não tem um e meu número já está salvo, poderemos nos comunicar assim e caso você precise de qualquer coisa, se tiver dúvidas, ou quiser apenas conversar, poderá me chamar, a qualquer hora, ok? - fiquei olhando o celular e pra ele, que com seu jeito estava irredutível e com certeza não aceitaria a devolução, para então assentir. Novamente faço uma reverência em agradecimento e o chefe Ruan transparece uma felicidade que para mim era meio inexplicável... sentiria falta dele, com toda certeza.
•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•
Não tive muito tempo para pensar e lá estava eu naquela manhã trabalhando no restaurante, o Sr. Fonseca recebeu a carta de recomendação do chefe Ruan e insistiu que eu começasse o quanto antes, nem li o que estava escrito, mas parece que o Sr. Fonseca ficou muito impressionado.
A dinâmica do restaurante afinal era bem diferente do hotel, mas ao menos os colegas de trabalho eram bem mais fáceis de lidar e me ajudaram em todas as dificuldades, o chefe era também diferente do chefe Ruan, pois sorria mais e seu timbre de voz era mais calmo, tornando o ambiente estranhamente harmonioso, mas o que me impressionou naquele dia foi quando Raul apareceu na cozinha ao final do expediente com um sorriso no rosto corado, como se tivesse feito alguma travessura e em suas mãos havia um envelope, que me entregou, não demorei em abri-lo com curiosidade e um certo receio, apenas para no momento seguinte o olhar pasmo.
_ Como? Não entendo? - acho que minha cara de descrença era muito nítida.
_ Cortesia do Heitor e do Felippo!!!! Só não me pergunte como eles conseguiram, porque pra mim isto ainda é um mistério.
Dentro do envelope estavam meus documentos, não os que tinha em casa, mas novos e até conseguiram um passaporte e os examinando percebi que não eram falsificados. Como será que os alfas conseguiram??? Fiquei olhando o passaporte e sendo sincero nunca pensei que iria ter um, apesar do meu enorme desejo de fazer alguns cursos de culinárias em outros países. Olhei a foto e me perguntei de onde haviam conseguido aquela foto minha, olhei novamente para Raul, que continuava me olhando com seus olhos bicolores brilhantes e um sorriso no rosto.
— Nem me pergunte, porque comigo foi desta forma também, agora vamos? Já terminou? - apenas assenti e saímos para voltar para casa, já que ainda não teria aulas com o tutor que o Sr. Fonseca estava tentando contratar.
Quando voltávamos para casa, passamos na praia para poderemos brincar aproveitando o final de tarde, sabia que era a forma de Raul compartilhar seus últimos momentos aqui comigo, já que pretendia em breve ir para Julliard. Naquele dia os seus alfas apareceram na praia, eles vieram um dia antes, mas sentia que não era somente por saudades, mas para lidar com algo muito sério, fiquei com os amigos dos alfas para que eles conversassem, mas senti Raul triste depois dessa conversa, voltamos para casa em silencio e ele foi tomar um banho rápido e contou pra mim e para o Carlos que os alfas haviam encontrado a Dna Laura, que era a pessoa que cuidou dele no orfanato, antes do carrasco assumir e para Raul era considerada como uma mãe, mas infelizmente já fazia cerca de um mês que ela havia falecido e os alfas iriam leva-lo para ver o local do sepultamento e instintivamente sabia que havia mais a ser falado, mas me mantive quieto apenas abraçando meu amigo.
•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•
N.A.: O destino não deixará o nosso pequeno Elias permanecer quieto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Elias: Destino Inesperado
RomansaEssa história se passa no omegaverso, sendo um spin-off de "Ironias do destino" Elias nasceu um beta, mas ao descobrir o que seus "pais" queriam fazer com ele, mesmo com medo ele foge, mas o destino o leva até a porta de Raul, que junto com seus ami...