Por Maraísa
Após a notícia bombástica que o suposto pai de Maiara havia aparecido, estava completamente confusa e, com uma vontade imensa de fugir. Veja bem, eu sempre fui muito correta em minha vida, apesar das bebedeiras e das festas, tinha noção que dali há 2 anos eu teria uma responsabilidade muito grande, a de ser uma boa médica. Todavia, o medo de Danilo tirar minha sobrinha de mim era enorme e, por alguns momentos eu cogitei voltar a viver em Goiânia ou então em algum lugar distante dele. No entanto, eu sabia que ele era de lá, pois pelo que eu havia entendido na carta, ele e minha irmã haviam se encontrado em uma boate famosa localizada na região central de Goiânia.
Honestamente eu queria que ele morresse. Isso é um pecado? Desejar que alguém morra apenas para deixar o outro em paz? Se fosse eu não estava me importando, afinal de contas, após tudo que continha naquela carta eu já estava confusa o suficiente.
Procuraria Danilo? Conversaria com ele? Autorizaria que ele fizesse um teste de DNA em minha sobrinha? Sinceramente não tinha ideia do que fazer. E se ele fosse o pai? Ele a tiraria de mim?
Era um domingo chuvoso, Maiara estava na casa de Ana Flávia, sua colega de escola, as duas tinham um trabalho para fazer e, ela decidirá dormir na casa da amiga para ter tempo de estudar e também conversar com alguém de sua idade. Porque convenhamos, de uns tempos para cá, minha companhia sempre tão desejada por ela, passou a ser desprezada. Com o passar do tempo fui sendo trocada pelas amigas dela.
Maiara era realmente a filha de Juliana, pois tinha o mesmo comportamento de minha irmã quando tinha a sua idade, o hábito de fugir da família e trocá-la por outras pessoas de fora e, mais uma vez eu me sentia desamparada, desejando loucamente minha sobrinha e sua companhia, enquanto ela preferia as amigas.
"Mamãe, você tem que me deixar ir ver a Raquel!" Ela dizia aos berros e, me chamava de mamãe apenas para me chantagear, afinal de contas ela sabia que essa palavra com toda sonoridade me fazia derreter. Eu sabia que não era mãe dela, contudo, era perfeito saber que ela me considerava assim.
E todos os fins de semana era um compromisso novo na casa de uma amiga nova, o que me dava tempo de sobra para estudar e sair, mas não sem antes checar a procedência dessas meninas. Marília dizia que eu era super protetora e que precisava viver, sem me preocupar tanto com Maiara.
"Você está precisando transar Maraísa! Faz tempo que não te vejo fazendo isso!" Ela dizia me zoando "Você é jovem, mas está se comportando como uma velha!" Completava. Eu suspirava profundamente pensando em tudo.
Não me recordava da última vez que havia saído com um homem, afinal de contas como disse anteriormente tenho um medo absurdo de cometer os erros da minha irmã e, acabar engravidando. Contudo, de uns tempos para cá comecei a me interessar por um rapaz chamado Wendel. Ele estava no décimo período de medicina e, queria ser pediatra, o que de certa forma fazia com eu me derretesse por ele.
"Amo rapazes que gostam de crianças!" Dizia baixinho para mim mesma. Ele não era bonito, era branco, barba por fazer, cabelos negros, olhos castanhos e, um leve sobrepeso. Contudo sua inteligência me fascinava e, eu dizia que queria se igual a ele quando crescesse, ao passo que, ele dizia que eu era desprovida de altura e que por isso eu não cresceria tão cedo. Ou seja, eu nunca seria como ele, mesmo que eu quisesse.
Saímos algumas vezes por insistência dele e, acabou rolando um beijo no último encontro, o que para ele foi mágico, mas para mim não significou nada. Eu estava apenas carente e a carência deixa as pessoas vulneráveis.
Não, eu não o amava, mas sentia que de certa forma eu precisava dele, como se ele fosse meu escudo. Por isso, naquela e domingo chuvoso, quando ele me convidou para ir ao cinema assistir a um filme aceitei de bom grado.
[1 mês depois]
Finalmente as provas chegaram ao fim e, eu já me preparava para o fim do semestre que estava chegando. Um frio na barriga tomou conta do meu ser, uma vez que, no próximo semestre iríamos estagiar em hospitais e, eu fui escalada justamente para ficar em um hospital oncológico. Honestamente eu não tinha estrutura para ver crianças com câncer, contudo, algo me dizia que daria certo. Marília, Murilo e Henrique iriam conosco, o que de certa forma me aliviou um pouco e, eu desejei internamente que ela fosse minha dupla nas consultas e, não me trocasse pelo Henrique, o qual ela tinha uma quedinha.
Esqueci de comentar que todos os dias ela me enchia o saco pedindo para que eu ligasse para Danilo e marcasse um encontro para conversarmos sobre Maiara, todavia eu sempre desconversava, o que fez com que com o tempo ela também esquecesse disso.
Era uma tarde de quinta feira, o dia estava ensolarado e, Maiara havia ido para a escola e, eu tinha aula o dia inteiro. Confesso que minha cabeça estava me matando, a aula sobre violência obstétrica não estava tão interessante e, tudo que eu mais gostaria naquela momento era ir para minha cama e dormir. O professor não calava a boca e, tanto eu como Marília estávamos caindo de sono.
Meu celular começou a tocar insistentemente, ele estava no modo silencioso, mas como estava em cima da minha mesa consegui vê-lo vibrar de forma contínua. Normalmente eu não o atendia, contudo, estranhei ao perceber que era Maiara ligando, sai da sala preocupada já que ela não costumava me ligar durante o dia.
"O que houve Maiara?" Perguntei ao atender o telefone, minha voz estava aflita.
"Estou passando mal" Ela disse "Vomitei algumas vezes e minha barriga está doendo muito, além disso acho que estou com febre" Completou e, meu coração saiu pela boca. Eu estava sem carroções o tinha deixado na revisão e, Marília não sabia dirigir.
"Certo, aonde você está? Você comeu hoje? Quem está com você?" A bombardeie de perguntas e, ela bufou nervosa.
"Estou no banheiro da escola. Só tomei o café da manhã, não consegui almoçar e, a Mirela está aqui comigo!" Ela disse e logo a imagem de Danilo veio em minha mente, era inevitável não pensar nele quando Maiara falava em Mirela.
"Ok, eu vou chamar um Uber e vou para aí, pode falar para a coordenadora que eu vou te buscar" Falei nervosa.
Voltei para sala aflita, Marília me encarava curiosa, peguei minhas coisas guardando-a com uma certa presa e caminhei em direção ao meu professor, o qual estava bastante ocupado explicando a matéria.
"O que você quer, Maraísa?" Ele me perguntou ao me ver parada em sua frente.
"Professor vou precisar sair, minha sobrinha está se sentindo mal e, eu vou ter que levá-la ao pronto socorro" Disse baixo para que ninguém escutasse. Ele me encarou e assentiu positivamente com a cabeça parando sua explicação na metade.
"O que ela tem?" Ele perguntou e eu falei os sintomas.
"Isso está com cara de apendicite, é melhor ir mesmo" Disse calmo. Ele colocou a mão esquerda em meu ombro como se quisesse me confortar e, eu sai da sala com Marília atrás de mim.
"O que houve?" Ela perguntou com sua mochila roxa surrada nas costas
"Maiara está passando mal" Disse "Vou pedir um Uber e ir buscá-la, acho que é apendicite e, o professor Marcelo também acha" Falei aflita.
"Se for ela vai ter que operar" Marília falou séria. Isso só me deixou mais nervosa.
"Eu sei" Disse impaciente "Meu Uber está há 3 minutos vou descer" Falei indo em direção ao elevador já que estávamos no terceiro andar. Escutei seus passos atrás de mim.
"Vou com você" Ela disse
"Não precisa" Falei sem olhar para trás
"Isa, você sabe muito bem que você surta todas as vezes que ocorre qualquer coisa com Maiara. Eu sou sua âncora nesses momentos" Ela falou séria. Ok, ela estava certa. Eu me preocupava demais com aquela menina, realmente eu a tratava como minha filha, de uma hora para outra tornou-se impossível viver sem aquela garota ruiva ao meu lado.
"Você tem razão, obrigada" Disse quando já estávamos no elevador, ela sorriu.
"É para isso que servem os amigos" Falou.
O caminho no Uber foi silencioso, Marília havia avisado Henrique que se ofereceu para nos levar ao hospital, contudo, eu havia conversado com o motorista que estava nos levando até onde Maiara estava e, ele disse que nos levaria, por isso o dispensamos, uma vez que, ele tinha prova de patologia de tarde e teria que faltar caso fosse nos levar.
Ao chegar na escola encontrei Maiara deitada na enfermaria com feições de dor, corri até ela e acariciei seus cabelos, sentindo a temperatura de sua testa, ela estava realmente febril. Conversei rapidamente com a enfermeira responsável pela enfermaria, peguei-a no colo e a levei para o Uber que nos esperava. Marília me auxiliou carregando a mochila de Maiara nas costas.
Eu estava preocupada, tão insegura e nervosa que sentia como se fosse desmoronar.
Sabia que uma apendicite era algo simples e que uma apendicectomia resolveria tudo e, no dia seguinte minha sobrinha ficaria novinha em folha. Contudo, todo procedimento cirúrgico poderia causar complicações. E se ela tivesse uma sepse? E se isso levasse a uma peritonite? E se ela morresse? E se.....
Eu sentia como se fosse desmaiar a qualquer momento.
Marília acariciou levemente meus cabelos como se dissesse que estava ali ao meu lado e eu emiti um sorriso fraco.
"Te amo"Falei tão baixo que me assustei com a própria altura de minha voz. Ela apenas continuou sorrindo.
"Vai ficar tudo bem" Ela falou. Maiara dormia tranquilamente em meus braços. Mas eu conseguia ver pelo seu rosto que ela estava com dor.
"Queria que a dor dela passa-se para mim" Disse acariciando seus cabelos.
"Ela precisa passar por isso" Foi a única coisa que Marília disse. Eu me calei.
[...]
Como eu suspeitava Maiara estava realmente com apendicite, todos os sinais batiam e, eles decidiram leva-la para a cirurgia. Eu sabia que essa cirurgia não era demorada, contudo, a espera estava me dando nos nervos.
Henrique veio e ficou fazendo companhia a Marília e a mim e, juntos fizemos uma prece silenciosa a Deus. Depois os dois ficaram conversando sobre coisas aleatórias e eu fiquei pensando em Maiara.
Estava tão concentrada em meus pensamos que nem ouvi um pigarreio atrás de mim e o cheiro irreconhecível de madeira.
Eu tremi dos pés a cabeça.
Era ele.
"Quando pretendia me contar sobre Maiara?" Ele perguntou em alto e bom som, o rosto vermelho de raiva. Eu não pude deixar de reparar o quão bonito ele estava naquela calça jeans e camiseta social branca, além do terno negro que repousava em seu braço direito. Mas ele estava ocupado demais me encarando com raiva para notar meu olhar sobre ele.
"Quem é você para querer satisfação?" Disse "Você demorou dez anos para aparecer, onze se formos fazer as contas de forma mais exata" Completei. Ele bufou.
"Eu não sabia, era justamente isso que eu queria dizer para você. Eu queria contar a história toda, me desculpar e tentar ser seu amigo, todavia, você está escolhendo o caminho mais difícil! Poxa o que custa me escutar?" Ele disse nervoso me olhando dos pés a cabeça.
"Eu estava em provas, ok?" Falei
"Provas que duram um mês?" Ele perguntou irônico. Eu quis dar um chute em seu traseiro para que ele fosse para bem longe, mas ele era maior do que eu e, com toda certeza se eu fizesse isso seria expulsa daquela hospital.
"Não, otario! Provas que são feitas durante o mês! Eu estudo medicina, esqueceu? Diferente de você eu quero fazer as coisas corretamente!" Disse gritando. Ele me encarou vermelho de raiva.
"Sabe aonde eu me formei?" Ele perguntou como se eu o tivesse ofendido. Um sorriso vitorioso surgiu em meus lábios, eu o mandaria a merda naquela momento mesmo.
"Em alguma uniesquina, talvez" Falei sem pensar.
"Fiz faculdade em Stanford, sou arquiteto com mestrado" Ele disse imponente
"Ótimo, pega o seu diploma e volta para Los Angeles, deixando minha sobrinha em paz!" Falei
"Minha filha você quer dizer!"
"Pai é quem cria e você nunca esteve presente!"
"Eu não sabia, está legal! Recebi essa carta do meu pai ontem. A desmiolada da sua irmã poderia ter ido até a minha casa, me procurado nas redes sociais, que eu assumiria a menina, contudo ela fez o mais cômodo para ela, me mandou uma carta!" Ele disse praticamente gritando "Meu pai esqueceu de entregá-la para mim já que eu vivia nos Estados Unidos" Completou
"Gente, sério. Agora é hora de orar pela Maiara, para que ela saia bem da cirurgia! Depois vocês conversam" Marília disse calma apoiada no ombro de Henrique.
"Conta essa história direito Danilo" falei ignorando completamente a fala da minha amiga.
"Eu não vinha muito para o Brasil, porque tinha medo de querer voltar para cá antes de finalizar meu curso, por isso nem sabia da existência da carta e, meu pai esqueceu de levar a carta para mim nas muitas vezes que ele ia me visitar. Por favor não o culpe, ele tem Parkinson em estado avançado, inclusive eu estou aqui no ambulatório de neurologia com ele para uma consulta" Falou se explicando "Mirela me contou por telefone que a amiga passou mal, ela está muito triste e com medo que ocorra o pior, eu quis tranquiliza-lá já que meu pai é médico e conhece esse tipo de cirurgia" Completou. Eu suspirei.
"Como posso saber que isso não é a história da novela das nove que você está plagiando?" Perguntei
"Assim você me ofende, Maraísa!" Ele falou sério "Eu não mentiria com uma coisa dessas, se eu não me importasse com Maiara eu não estaria nem aqui. Veja bem, seria confortável para mim ler a carta depois de anos e não procurar minha filha, já que se passou tanto tempo, mas aqui estou eu tentando recuperar o tempo perdido. Por favor me dê uma chance, não estou pedindo que goste de mim, mas que me respeite!" Ele disse de forma calma e sincera.
"Me desculpe" Disse estendendo a mão para que ele apertasse "Eu estou nervosa com medo de Maiara ter uma sepse, uma peritonite, sei lá qualquer complicação dessa cirurgia" Expliquei "Eu a amo Danilo, não suportaria perder minha balala!" Finalizei. Ele apertou minha mão com uma certa força e, inexplicavelmente me senti bem com seu toque. Encarei seus olhos e ficamos em um certo transe por algum tempo.
Seus olhos eram de um castanho claro mas vivo, todavia, seu olhar estava triste, eu só não sabia se era pelo seu pai ou pela sua filha ou pelos dois.
"Podemos pelo menos coexistir em paz?" Ele perguntou ainda segurando minha mão firme
"Tudo bem" Falei baixo. Ele suspirou e se sentou há algumas cadeiras de distância.
"Ei eu não mordo" Disse o encarando
"Mas tem uma língua ferina!" Ele disse visivelmente sentido
"Como você queria que eu agisse Danilo? Que te abraçasse e te beijasse e entregasse minha sobrinha de mãos beijadas para você?" Falei voltando a ficar irritada "Dez anos não são dez dias" Finalizei. Ele se calou e se sentou ao meu lado sem dizer uma palavra. Ficamos em silêncio, acho que ele havia entendido o motivo de eu estar tão irritada.
Eu estava com medo de perde-la e, nunca aceitaria isso.
[...]
A cirurgiã pediátrica foi muito solicita em vir até mim para me dar notícias de Maiara, ela explicou tudo o que havia sido feito nos mínimos detalhes (fato esse que eu acredito que ela só fez ao constatar meu desespero) e depois dizer que ela precisaria ficar em observação naquela noite, contudo, no dia seguinte, se ela estivesse bem poderia ir para casa. Naquele momento, minha sobrinha estava na sala de observação, ainda dentro do centro cirúrgico e, segundo a técnica de enfermagem eu poderia entrar lá para que assim que ela acordasse da anestesia pudesse me ver.
E eu entrei naquele lugar horrível, com todos aqueles aparelhos apitando de forma assustadora e, visualizei minha sobrinha deitada adormecida sob a cama com aparelhos a monitorando. Chequei sua saturação, batimentos cardíacos, pressão, tudo que pudesse de alguma forma estar alterado frente a cirurgia e, uma sensação de alívio tomou conta de mim ao perceber que ela estava realmente bem e que a médica não havia mentido sobre seu estado.
Felizmente após alguma horas (que para mim passaram como uma eternidade) Maiara foi para o quarto, ela ainda estava muito sonolenta por isso deixei que ela dormisse e fiquei na recepção durante toda a noite. Ela tinha direito a um acompanhante, mas fiquei sabia que se falasse qualquer coisa brigaria novamente com Danilo e, sinceramente eu não queria isso.
Marília foi embora com Henrique alegando que estava cansada e que como minha sobrinha estava fora de perigo ela podia ir. Ela quis que eu a acompanhasse, mas eu disse que não iria. Não queria dar esse gosto a Danilo.
Então eu fiquei na recepção com Danilo ao meu lado também sem dizer uma palavra, eu estava cansada e precisava de um tempo para digerir tudo que ele disse e, ele também precisava de um tempo para compreender tudo.
"Olha eu quero dizer que tudo isso é muito novo para mim, meus pais foram horríveis colocando minha irmã par fora de casa e, eu precisava de alguém para culpar" Expliquei "Sinto muito se te ofendi, é só que eu estou com medo de perder o único da minha irmã que me restou" Completei "Por favor diz que não vai toma-la de mim" Falei em prantos. Ele suspirou profundamente e me abraçou por trás.
Eu me senti mole com esse abraço.
Eu me assustei com essa atitude.
Eu não sei o que aconteceu comigo, mas por alguns instantes eu me senti em paz.
"Não chore!Por favor" Ele disse de uma forma amável. Eu apenas suspirei por alguns instantes sentindo o cheiro dele em minhas narinas. Ele pareceu perceber que eu havia me acalmado e se afastou. Meus olhos que estavam fechados se abriram e eu voltei a me sentar corretamente em minha cadeira.
Eu não podia me deixar levar pela minha carência.
Aquilo era só mais uma demonstração de como meu emocional estava fortemente abalado com tudo.
"Você deveria ficar com Maiara no quarto" Ele disse sem olhar nos meus olhos
"Ela está bem lá, prefiro ficar aqui" Disse. " Os barulhos dos equipamentos não me deixariam dormir e, eu tenho certeza que ficarei a vigiando a noite toda. Tenho medo de não deixá-la descansar com minha preocupação excessiva" Completei
"Você se comporta mesmo como a mãe dela" Ele disse e eu dei um leve sorriso. Eu gostava quando as pessoas diziam isso.
Porque eu me sentia realmente a mãe dela.
E iria lutar por ela até o fim, mesmo que Danilo tentasse me impedir de estar com ela.
[...]
Um frio tomou conta de mim, a temperatura caiu para cerca de 13 graus durante a noite e, eu que estava sem nenhum agasalho comecei a tremer, o que me impediu de dormir. Olhei para o lado e observei Danilo dormindo calmamente com a cabeça levemente inclinada, encostando na parede. Ele parecia estranhamente em paz.
Levantei-me e fui até o posto de enfermagem pedir um cobertor, todavia me foi dito que não podiam me ofertar nada para que meu frio passasse e eu os xinguei mentalmente. Voltei para minha cadeira, todavia, antes verifiquei as horas, eram 03:54 da manhã. Tentei me aconchegar como podia, contudo foi impossível. Eu estava literalmente tremendo de frio.
"Está tudo bem?" Escutei Danilo dizer abrindo os olhos e me encarando "Você não para de se mexer!" Falou
"Só estou com frio" Disse olhando para baixo. Essa era uma mania que estávamos pegando, ele não me encarava nos olhos, quando se dirigia a mim estava sempre com o olhar baixo e, eu comecei a fazer o mesmo. Talvez fosse a vergonha de olha-lo depois de tudo que ele me disse ou o remorço de ter falado coisas duras para ele.
Subitamente ele passou os braços pelo meu corpo e me abraçou, sem perceber minha cabeça descansou em seu ombro e, eu fechei os olhos. Seu corpo era quente e eu senti uma paz inexplicável ao sentir o calor que seus braços emanavam. Tudo bem que ele estava usando um terno, o que de certa forma o auxiliava a manter sua temperatura.
"Não precisa se incomodar eu vou ficar bem! Essa posição é desconfortável para você" Falei sem me desvencilhar de seu abraço.
"Não se preocupe comigo! Apenas durma!" Ele disse fechando os olhos, eu fiz o mesmo e sem me dar conta finalmente descansei.
Alguns sonhos estranhos perturbavam minha mente e, eu não entendi o motivo. Sonhei que estava em um tribunal com um senhor grisalho ao meu lado, ele me ditava algumas coisas que eu precisava falar. Ao meu lado direito Danilo estava impecavelmente vestido com um terno negro e, ao seu lado uma mulher loira ditava o que ele deveria dizer, assim como o homem grisalho dizia para mim. A nossa frente uma juíza morena fazia perguntas, as quais eram intercaladas entre eu e Danilo.
Ele me encarava com feições de poucos amigos e, eu o retribuía da mesma forma e na mesma intensidade.
"Eu preciso ficar com ela!" Ele dizia "Ela é minha por direito!" Completava
"Você matou minha sobrinha e minha irmã, seu infeliz!" Eu o xingava.
A discussão estava tão calorosa entre eu e ele que tivemos que parar diversas vezes por ordem da juíza.
"Chega! Vocês já desacataram demais o tribunal! Nenhum dos dois tem maturidade o suficiente para cuidar da menor, por isso eu vou transferi-lá para um abrigo!" A juíza disse séria nos fuzilando com o olhar. Eu a olhava com lágrimas nos olhos.
"Não! Eu não posso perdê-la! Por favor não faça isso comigo! Não nos separe! Por Deus! Não a tire de mim!" Eu gritava. Danilo gargalhava gostosamente a plenos pulmões como eu nunca havia visto.
"Vocês dois não conseguem se entender, brigam como gato e rato, parecem marido e mulher!" Ela disse séria "Como querem que uma pré adolescente cresça de forma saudável desse jeito!" Finalizou. Eu abaixei a cabeça com raiva e senti meu corpo desfalecer. Eu a havia perdido, para sempre!
"Maiara, não!" Gritei
Danilo se mexeu ao meu lado e, eu abri meus olhos nervosa. Estava claro e algumas pessoas que passaram pelo corredor me encaravam com curiosidade, uma enfermeira veio até mim trazendo um copo de água.
"Sua filha está fora de perigo senhora. Tome, beba essa água!" Ela falou me entregando o líquido que eu bebi de uma só vez. Danilo me olhava curioso.
"Você está bem?" Pobre homem, deve estar me achando uma mulher maluca!
"Eu tive um pesadelo" Falei "Desculpe te acordar, eu não sou assim normalmente" Completei. Ele sorriu.
"Está tudo bem, tomei a liberdade de ligar para Marília, talvez ela possa te acalmar" Falou sem me olhar nos olhos "Como eu não tenho o numero dela peguei seu celular emprestado" Explicou.
"Como se não sabe a senha?" Perguntei curiosa
"Imaginei que fosse a data do aniversário de Maiara e, acertei na mosca" Ele sorriu sem mostrar os dentes e, pela primeira vez naquela manhã eu o encarei. Seus cabelos cacheados estavam bagunçados e, os olhos apresentavam olheiras, uma remela estava presente em seu olho esquerdo e, ele parecia sem graça pelo meu olhar sobre ele.
"Tem uma remela no seu olho" Disse desviando o assunto. Ele se apressou em limpar. Eu ri da forma que ele fez isso, pois ele parecia desengonçado. Sem se dar conta que eu estava rindo dele, Danilo começou a rir baixinho.
Eu ia falar algo quando a enfermeira me chamou dizendo que Maiara havia acordado. Levantei-me dali, ele foi atrás de mim, por um instante imaginei se ele iria comigo até o quarto dela, contudo, ele não fez nada. Apenas me olhou de cima a baixo.
"Parece que um caminhão passou em cima de você" Ele disse
"Você não está muito diferente" Falei.
"Vou para casa comer algo, tomar um banho e tirar esse cheiro de hospital que me enoja, depois eu volto" Falou
"Não quer ver Maiara?" Perguntei
"Ela ainda não está preparada para me conhecer, vamos fazer as coisas por partes" Disse "Não quero colocar a carroça na frente dos bois" Disse já caminhando em direção a porta de saída.
"Ei Danilo?!" Chamei-o, ele se virou rapidamente
"Obrigada" Falei e ele apenas sorriu. Um sorriso verdadeiro, como se tivesse realmente entendido que apresar de nossas brigas ele fora importante para mim e, sua companhia fez diferença.
"De nada" Falou se virando para frente novamente e acenando com as mãos "Até mais tarde" Disse.
E eu caminhei despreocupadamente até o quarto de Maiara, com uma estranha sensação de paz.
Era isso, Danilo me transmitia paz e, eu não conseguia entender o motivo desse sentimento. Nunca havia sentido essa sensação.
Talvez porque apesar de termos quase saído no tapa conseguimos dar a volta por cima e se respeitar, e algo em mim gostava disso.
Que grande paradoxo! Alguém que queria tomar minha sobrinha me transmitir paz! Eu deveria estar mesmo enlouquecendo!
Mas ele não parecia ser tão ruim, ele não iria tomá-la de mim. Pelo menos eu gostaria de acreditar nisso!
Deus tomara que ele não a tome de mim!
[....]
Marília chegou quando eu estava a ponto de arrancar os cabelos dado o meu nervosismo. Eu havia visto Maiara, conversado com ela, forçado ela comer a comida horrível do hospital e, dito que ela estava bem. Tive que convencê-la que ela teria 30 dias sem atividades físicas pesadas, o que fez com que ela se aborrecesse.
Por que segundo ela ficar 30 dias sem poder dançar as músicas do tik tok eram um castigo grotesco! Eu ri ao contatar que ela continuava ali, com a mesma personalidade de sempre. Acariciei seus cabelos e, logo um residente veio vê-la, a fim de saber se ela podia ter alta ou não.
Mais 30 minutos e ela foi liberada. Marília estava na recepção nos esperando juntamente com Henrique que estava de carro. Os dois continuavam na amizade colorida, contudo, não tinham coragem nenhuma de assumir o que sentiam um pelo outro. No fundo eu achava que ela não o amava, mas isso não era da minha conta. Como dizer se uma pessoa amava ou não a outra se eu mesma nunca havia amado ninguém?
Claro que, ultimamente meus sentimentos estavam me traindo, com na noite passada quando Danilo esteve tão próximo a mim que eu tive uma vontade insana de deitar em seu colo, sem preocupações, sem medos, apenas sentindo o calor que o corpo dele emanava. Eu o odiava, é claro que o odiava, mas algo nele me chamava atenção! Alguma coisa nele mexia comigo! Mas eu não sabia dizer ao certo o que era, sinceramente eu me sentia incapaz de colocar em palavras o motivo de me sentir como se ele fosse ao mesmo tempo veneno e remédio. Veneno porque ele tiraria minha sobrinha de mim e, remédio porque a companhia dele apesar de tudo me fazia bem, me transmita paz.
Por isso quando Marília me chamou para a sala após eu colocar Maiara na cama, para que ela pudesse descansar e me perguntou como havia sido a noite com Danilo, eu a olhei sem saber o que responder.
"Foi boa, ele até foi gentil" Disse sincera.
"Vocês quase quebraram o hospital ontem" Ela disse calma
"O que você queria que eu fizesse amiga? O homem vem depois de anos e quer sentar na janelinha como se na tivesse feito nada?" Disse cruzando os braços.
"Acho que você deveria dar uma chance a ele, pensa, ele quer se redimir pelo sofrimento causado a você e a sua irmã" Ela falou calmamente. Isso estava me assustando, contudo, eu sabia que se Marília perdesse o controle nós acabarmos discutindo.
"Ele foi um dos responsáveis por matar a minha irmã, se ele estivesse com ela isso não teria acontecido! Ela ainda estaria viva conosco!" Falei nervosa os braços cruzados sobre o peito, sentindo o olhar preocupado de Marília me fuzilar.
"Você acha mesmo que um menino de 18 anos seria capaz de cuidar de uma mulher e de uma criança?" Ela perguntou "Não é desmerecendo idade mas, ele era novo demais para essa responsabilidade, as vezes, ficar longe foi até melhor do que se ele estivesse por perto" Falou sincera.
"Marília, sabe com quantos anos eu peguei Maiara?" Perguntei. Ela suspirou, pois já sabia a resposta, calando-se ao recordar que eu a havia "adotado" aos 19 anos incompletos. "Então não venha me falar de maturidade" Disse "Eu fui madura o suficiente para assumir uma menina, e se ele não foi o problema é dele!" Falei mais alto do que o normal. Ela me olhou assustada.
"Acho melhor eu ir" Disse "Nada que eu disser vai mudar sua opinião, eu só queria que você soubesse que, mulheres amadurecem mais cedo do que os homens. Você sabia que iria cuidar da sua sobrinha, tinha planos relacionados a isso, contudo, ele não tem esse mesmo pensamento que você. " Disse "Para ele Maiara vai ser só mais uma responsabilidade." Finalizou
"Então por que ele a quer tanto?" Perguntei
"Para se redimir da culpa" Ela falou "Danilo se sente culpado de ter deixado ela e sua irmã a Deus dará, por isso ele se aproximou de você, caso contrário ele não estaria nem aí" Finalizou "Pelo menos ele quer ajudar de alguma forma" Finalizou
"E se ele tirar ela de mim?" Perguntei nervosa
"Ele não vai fazer isso, a guarda é sua, não se preocupe" Ela me olhou fixamente "Juliana deixou ela para você" Completou
"Ela fez isso porque ele não estava presente, mas ele é o possível pai, não podemos deixar de mencionar isso" Disse
"Isa, vamos fazer o teste primeiro, depois pensamos nisso. Ok?" Ela disse me abraçando. Eu suspirei profundamente, não queria parecer dramática, mas vinha agindo assim nos últimos dias, desde que tudo aconteceu em minha vida.
"Marília?!" Disse chamando-a com a voz rouca quase sensual. Eu queria dizer tantas coisas, chorar, correr, sei lá, qualquer coisa que fizesse com que aquela angústia se esvaísse do meu coração.
"Não se desespere!" Ela entendeu minha súplica "As coisas se ajeitam" Finalizou.
Eu a encarei, não sei porque acreditei nela.
[...]
Wendel veio me visitar naquela tarde, Maiara ainda estava dormindo e, eu estava estudando as matérias que havia perdido na faculdade. Contudo, a visita dele, que tinha o intuito de me animar, acabou me deixando mais nervosa.
Ele chegou trazendo um buquê de flores nas mãos, com um sorriso bobo no rosto, confesso que fiquei feliz ao vê-lo, mas ela alegria de esvaiu quando ele começou a me fazer perguntas.
"Ei aonde você esteve ontem a noite? Te liguei e você não atendeu?" Ele perguntou calmamente após um beijo caloroso da parte dele, o qual tentava a todo custo me mimar.
"Estive no hospital" Disse calma, buscando respirar fundo para a possível enxurrada de perguntas e preocupações que viriam em seguida. Ele me olhou de cima a baixo procurando possíveis causas para minha estadia repentina no hospital.
"O que houve?" Ele perguntou não encontrando nada evidente "Aconteceu alguma coisa?" continuou
"Maiara foi submetida a uma apendicectomia. Ela está bem, já está em casa" Falei o tranquilizando. Ele me olhou com cara de pena.
"Amor eu sinto muito" Disse me abraçando. Instintivamente eu me recordei de Danilo, comparando de forma espontânea o toque dos dois. Busquei sentir em Wendel tudo aquilo que o primeiro me proporcionou após um simples toque mesmo após quase irmos para um campo de guerra, contudo não senti nada. Absolutamente nada o que ao meu ver era estanho. Eu não estava carente? Se fôssemos pensar por esse lado deveria sentir por aquele ser na minha frente todo o turbilhão de emoções que senti com Danilo, contudo, isso não ocorreu.
"Você está bem? Quer dizer, como está sua cabeça frente a tudo isso?" Ele perguntou fazendo carinho em minha bochecha esquerda. Eu sorri com o gesto dele. Wendel era canceriano com ascendente em peixes, então carinho era algo que não faltava em sua personalidade e, empatia também.
"Eu só estou cansada, quase não dormi a noite, passei frio e, fiquei com medo de ocorrer o pior" Falei sincera. Ele me olhou com cara de pena.
"Bem, eu acho que vou te deixar descansar então" Ele falou me olhando fixamente. Subitamente eu agarrei seu braço, puxando-o de encontro ao meu corpo.
"Não vá!" Eu disse fazendo com que ele cambaleasse e seu corpo se chocasse em com o meu. Ele sorriu frente ao meu ato, contudo eu não conseguia entender o motivo desse comportamento repentino da minha parte. "Dorme comigo?" Perguntei e devo ter feito uma cara de cachorro abandonado pois no segundo seguinte ele já havia trancado a porta com um sorriso maléfico no rosto.
Eu o conduzi até meu quarto, não sem antes checar se Maiara ainda dormia, fui até ela, olhei seus pulsos, a encarei e percebi que ela estava corada, sem sinais de desidratação evidente. Ela também não apresentava febre ou algo do tipo. Minha sobrinha estava viva e bem.
Wendel me encarava enternecido enquanto eu fazia minha inspeção e sorriu para mim ao me ver caminhando ao seu encontro.
"Você não suportaria perde-la" Ele me falou olhando fundo nos meus olhos e, sem entender muito bem o motivo comecei a chorar, liberando tudo que havia guardado dentro de mim, desde aquela maldita carta. Wendel me encarava surpreso sem entender minha atitude.
"Isa, ela está bem! Está viva! Você acabou de constatar isso! Por Deus, se acalme!" Ele disse visivelmente preocupado dado o meu comportamento ansioso. De repente me vi contando tudo para ele.
"Por que não me contou antes? Você precisa de algo? Nós podemos recorrer! Minha família é advogada, eu posso falar com meu pai, ele vai dar a causa para nós" Wendel disse com uma naturalidade assustadora. Eu queria acreditar nele, mas não conseguia. Imaginar minha sobrinha com Danilo me enojava.
"Wendel, eu......Honestamente eu agradeço o carinho mas, não sei se isso daria certo!" Disse deitada em seu peito.
"É preciso tentar, meu amor" Disse carinhoso beijando minha testa de forma tranquila.
Ele queria me ajudar, ele se importava comigo. Eu podia dar uma chance a ele, talvez eu conseguisse com o passar do tempo amá-lo da mesma forma que as mocinhas amavam os mocinhos nos romances juvenis.
Mas eu não pensava nisso, o único que vinha a minha mente com uma clareza arrebatadora era Danilo. A imagem dele, seu olhar, o calor que seu corpo proporcionou ao meu naquela noite fria no hospital. Era incrível como mesmo depois da discussão que tivemos eu não conseguia parar de pensar nele, mesmo que eu não quisesse admitir.
Recordei da sensação de paz que ele me proporcionou e, de como ele havia sido carinhoso comigo mesmo após eu tê-lo ofendido. Está certo que eu ainda o odiava com todas as minhas forças mas, como uma barra de chocolate que se derrete em contato com o calor eu começava a sentir que todo o sentimento negativo que eu nutria por ele se esvaia aos poucos.
"Wendel eu acho melhor deixar você fora disso, agradeço o apoio da sua família, mas eu prefiro resolver isso com o Danilo" Disse sincera olhando nos olhos dele. Eu sabia (ou pelo menos devia saber) que ele não fazia o tipo ciumento, por isso ele suspirou profundamente.
"Como quiser, Maraísa" Disse calmamente "Eu só gostaria que você confiasse em mim" Completou "E gostasse de mim como eu gosto de você" Ele me beijou acariciando com cuidado meus seios de forma provocativa.
Eu não queria me entregar a ele, eu não sentia isso por ele. Eu não queria confundir as coisas. Minha cabeça estava rodando. Eu só queria poder montar aquele quebra cabeça.
"Wendel eu ainda não estou pronta" Disse tirando as mãos dele do meu seio direito "Eu não consigo ainda" Falei
"Nunca vai conseguir se não tentar!" Ele disse sério. Eu suspirei. Que péssimo momento de tentar transar comigo.
"Minha sobrinha está no quarto ao lado, eu não dormi bem essa noite, tem um idiota tentando pega-lá de mim! Eu não consigo agora! Não quero tentar, só preciso dormir! Chamei você aqui porque talvez seu carinho me ajudasse, mas estou vendo que está sendo inútil!" Falei séria. Ele bufou, se afastou de mim levantando-se da cama e vestindo a camisa polo preta.
"Maraísa eu não vou te esperar para sempre!" Ele falou calmo mas sério
"Então siga seu caminho" Disse sincera. Ele me olhou incrédulo. Eu me virei de lado fingindo estar dormindo.
Ele saiu do meu quarto e, segundos depois escutei a porta da sala ser batida com força, ele havia ido embora, e eu esperava do fundo do meu coração que fosse para sempre.
Que merda que eu estava fazendo com a minha vida para mandar todos embora dela? Por que eu estava me comportando desse jeito?
Como se o destino quisesse me humilhar e me pregar mais uma peça recebi no mesmo segundo uma mensagem de Danilo. Sim agora eu tinha o número dele salvo. Talvez para que ele parasse de me encher o saco e, percebesse que apesar de tudo eu estava tentando desempenhar minha parte do processo.
"Posso ir ver Maiara?" Ele perguntou na mensagem "Queria aproveitar e levar Mirela comigo, ela está com saudades da amiga e, nos podíamos conversar"
Eu suspirei. Não queria fazer sala para ninguém, contudo, ele estava se mostrando solicito, demonstrando preocupação com a situação toda.
Levantei da cama e caminhei até o quarto de Maiara, ela estava entediada mexendo no celular.
"Mirela quer te ver" Disse colocando a cabeça na porta, ela sorriu, afinal de contas, essa era sua melhor amiga, sua Marília versão criança.
"Manda ela vir" Ela disse.
Não sei porque eu também sorri, não sei se pela oportunidade de discutir logo as coisas com Danilo ou por ver minha sobrinha com saúde novamente.
Gosto de pensar na segunda opção.
"Pode vir" Digitei para Danilo bloqueando o celular em seguida.
"Vou estar esperando" Falei para mim mesma "Como uma boba tonta prestes a entregar o ouro para um desconhecido" Completei.
"Agora você deu para falar sozinha titia?" Maiara perguntou saindo do quarto, assustando-me completamente dado o silêncio do seu ato.
"Não querida, estou apenas pensando alto" Disse. Pensando alto o quão burra eu era por estar ali querendo que Danilo viesse e como seria bom conversar com ele e colocar tudo em pratos limpos. Talvez eu devesse tomar um calmante para que não discutíssemos mais, contudo achei isso meio impossível, afinal de contas, dependendo da historinha que ele contasse eu o atacaria com palavras sem dó e nem piedade. Mesmo que eu houvesse prometido que não brigaríamos mais, eu me precisava estar preparada como um soldado que prepara a arma para um possível confronto.
"Aonde você vai?" Perguntei vendo que ela se dirigia para o banheiro
"Tomar banho e me arrumar, Mirela não pode me ver com esse pijama horrível" Disse apontando para o pijama vermelho do bob esponja que eu a havia presenteado há alguns dias atrás.
"Você ainda está em convalescença" Disse "Nada de estripulias com Mirela!" Falei vendo que ela se dirigia ao banheiro sem me dar importância. Eu pensei em ajudá-la a banhar-se mas sabia que seria duramente reprimida.
"Estripulias!" Ela falou rindo "Tenho certeza que minha bisavó falava isso no século retrasado!" Gritou de dentro do box. Eu fui obrigada a rir.
Maiara me deixava feliz, o jeito dela me encantava e, como uma boba eu esqueci completamente da vinda dele e da conversa que teríamos.
Até que a campainha tocou e eu me vi novamente ansiosa como nunca havia estado em toda minha vida. Eu havia dito ao porteiro que poderia liberar a entrada de Danilo e de sua prima, por isso não foi surpresa para mim a vinda deles sem ser anunciados.
Abri a porta e uma súbita taquicardia tomou conta do meu ser, ele estava ali com um sorriso amigável no rosto, como se dissesse "Ei eu não quero brigas!".
Parei ali e fiquei estática observando o sorriso esperando que por alguma intervenção divina algo acontecesse.
"Titia!" Maiara disse já na porta abraçando Mirela gostosamente e dando dois beijinhos em sua face.
Eu me desvencilhei do transe e encarei Danilo que ainda estava parado na porta me encarando curioso.
Por que eu tinha que passar tanta vergonha quando ele estava por perto? Seria algum tipo de carma ou algo do tipo? Será que eu havia cometido algum pecado para passar por isso todas as vezes que aquele ser de cabelos castanhos desgrenhados estava perto de mim?
Ele deveria me achar uma maluca, com toda certeza ele deveria pensar em me mandar para um CERSAM devido aos meus distúrbios de personalidade.
"Ei homem que escala paredes comigo!" Maiara disse sorridente abraçando Danilo "Eu estava tão aérea naquele dia que esqueci de te agradecer por ter me incentivado a escalar a parede! Foi tão bom, depois que você escalou comigo eu perdi o medo!" Finalizou sorrindo. Enquanto eu os encarava estática.
Maiara e Danilo já haviam trocado palavras?
Ele a havia ajudado?
Quando isso?
Por que raios ela não havia me dito isso?
Será que ele havia contado toda a história a ela?
E se ele a colocasse conta mim?
Eu fiquei pálida, Danilo percebeu isso e desvencilhando do abraço de Maiara veio até mim e me abraçou de forma cordial.
Seu toque mesmo que sútil me causou arrepios. E de novo eu me perguntei porque todas as vezes que ele se aproximava eu entrava em êxtase como se tivesse acabado de fazer o uso de substâncias ilícitas.
No intuito de me deixar ainda mais fora dos eixos ele sussurrou calmamente em meu ouvido esquerdo "Depois eu te conto a história, prometo que não é nada disso que você está pensando"
O resto de juízo que havia em mim se esvaiu como neve e, eu fiquei ali estática tentando assimilar tudo. Minha razão havia ido para um lugar distante deixando as emoções tomarem o controle.
Eles se conheciam.
Ele ajudou ela.
Ele se importa com ela.
Talvez ele não seja tão mal assim.
E deixando tudo de lado eu sorri para ele.
"Entre, temos muito o que conversar" Disse.
E realmente tínhamos, eu só esperava que minhas emoções estivessem normalizadas e que meu ataque de carência estivesse passado.
Por Deus que eu consiga controlar todas essas emoções antes de ser internada às pressas em um hospital psiquiátrico!
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Quebra cabeça do destino [DANISA]
FanfictionEla estava bem. Ninguém imaginava que ela iria partir daquela forma, contudo, a perda de Juliana foi mais do que Maraísa podia imaginar. Ela era sua irmã, sua melhor amiga, sua confidente nas horas vagas. Por que ela? Por que justo ela? A dor da per...