We don't talk about it

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Oi gente! Como estão ?
Andei SUPER sumida, eu sei...e peço perdão por isso!
Estou em semana de provas então podem imaginar como está levemente caótico por aqui kkkkk.
Enfim, sejam bem vindos a mais um capítulo.
Espero que gostem e beijo da Nan 💚

⚠️ Contém gatilhos de sangue e mutilação.

P.s. — Sugiro que ouçam a música "Elastic Heart - Sia" juntamente com o capítulo. (Aliás, eu até acho que essa música é muito desse casal hehe)






 (Aliás, eu até acho que essa música é muito desse casal hehe)

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Bobby Montana pov.


Eu não me considerava uma pessoa sensitiva.
Mas as vezes, só as vezes, nosso corpo parecia reagir a sensação de coisas futuras se aproximando.
Mas estranhamente, eu me sentia sensitiva, como se algo diferente fosse acontecer.
Como se algo estivesse errado, mas ainda sim, com a estranha sensação incerta.
Uma estranha sensação de frio na barriga me invadiu durante todo o treino, durante meus últimos dias e a cada mensagem de voz que eu depositava na secretária eletrônica de Damian.
O que significava essa sensação ?
Eu sabia que seria uma surpresa, principalmente quando eu não via Damian haviam três dias.
Uma missão, eu sabia, e isso significava sem contatos.
Sem um "adeus" ou uma mensagem rápida.
Era um silêncio agonizante.
Sem surpresas agora seria o ideal, ainda mais quando eu ainda podia a ansiedade da situação me arrebatando aos poucos.
Fechei o livro que estava lendo, já que minha reflexão barulhenta perturbava a tentativa de uma leitura pacífica. Tirei meus fones ainda sentindo a estranha sensação.
A estranha sensação não durou muito, não considerando o que se pendia em minha janela em um barulho alto seguido por um gemido rouco.
Damian tinha seu corpo apoiado contra a pequena escada anti incêndios, jogado na grade metálica.
Usava seu traje de missões, a máscara estava caída sobre sua mão e seus cabelos grudados na testa molhada da chuva fina que caía em Gotham.
Eu quase podia sentir meu sorriso rasgar meu rosto até notar seu estado.
Seus olhos estavam fechados mas eu ainda podia ver os hematomas em seu rosto. Seu peito subia e descia lentamente.
Calmo demais em sua própria agonia.
Abri a janela rapidamente e ele me encarou em silêncio, abrindo um de seus raros sorrisos.
Um sorriso que eu odiava.
O amanhecer ainda se pendia a acontecer, as nuvens preguiçosamente davam espaço aos poucos raios de sol que se esforçavam para terem seu espaço sobre a chuva constante de Gotham.
Abro a janela rapidamente e o encaro minuciosamente, procurando por sangue ou dor. Mas Damian apenas não se pronuncia, permanecendo apenas a me encarar com seus olhos cansados demais.
Suspiro e me sento ao seu lado, tentando lidar com meus péssimos instintos de toxicidade descompensada que se unia a minha agonia dos últimos dias em que eu não tinha notícias.
Eu sabia que era seu trabalho, sua missão, mas aquilo era preocupante pra caramba.
E eu só não sabia como lidaria com isso em minha vida. Não sabia como era apenas lidar com o silêncio que queimava minha mente.
E Deus, como eu queria que muitas coisas tivessem sido ditas agora, mas Damian apenas permanecia risonho, com os olhos lentos que me encaravam fixamente.
Me sento ao seu lado e deito minha cabeça contra a grade.
- Como você está ? — pergunto e ele apenas me encara.
- Eu só preciso...— fecha seu olhos. – Respirar um pouco. — vejo seu pomo de Adão mover-se em seu pescoço.
Ele parecia em agonia.
- O que houve ? — pergunto e ele abre os olhos esmeralda me encarando.
- Como foi seu dia, princesa ? — pergunta.
Eu o odiava quando fazia isso.
Sua ausência de profundidade emocional acabava comigo, a forma como ele simplesmente evitava qualquer tipo de conexão profunda entre nós.
Suspiro e me levanto.
Merda, eu precisava demais e eu sabia que poderia lidar com qualquer coisa.
Sinto sua mão sobre meu pulso, me parando.
- Só por favor...— suspira. – Me diga coisas bonitas e me leve pra dentro. — engoliu seco. – Longe dessa merda toda.
Existia algo que eu sabia sobre Damian e suas missões.
Desde cedo, como um jovem garotinho, quando seus pés mal alcançavam o chão quando sentava-se nas cadeiras, ele já via as coisas feias do mundo.
Damian, todos os dias, via a feiura do mundo, e ele nunca reclamava. Ele nunca estava cansado demais dessa merda toda.
E hoje, mais do que outros dias, ele havia visto o feio e lidado com isso em silêncio, e eu podia sentir isso em suas palavras.
Machucado e cansado demais para ao menos reclamar.
Suspiro e me ajoelho a sua frente, lutando para exibir meu melhor sorriso e vejo que seus olhos se seguram em minha boca.
Talvez, em seu infinito silêncio, Damian só precisasse de um pouco de barulho. Um pouco do meu barulho.
- Ei, amor. — chamo e seus olhos atentos se viram aos meus olhos e eu quase posso vê-los com uma sombra rápida de emoção.
Sempre forte demais para chorar e dizer que precisa de um tempo.
- Vamos para dentro. — digo oferecendo minha mão, que ele agarra prontamente.
Como se sua vida dependesse daquilo e talvez só naquele momento, dependesse.
Ele se levanta, apoiando-se sobre a grade e eu levanto seu braço sobre meus ombros, apoiando seu peso sobre mim.
Ele geme baixo e manca entrando com dificuldade em meu apartamento pela janela.
Quando jovem, sempre que eu estava machucada demais com o futebol, mamãe vinha até mim, beijava minha testa, lavava todas as minhas feridas e me abraçava até dormir.
E essa era a maior prova de amor em minha vida.
Porque ela me daria amor a cada machucado.
Ela seguraria meu mundo e o dela, sozinha, em seus ombros até que eu pudesse fazer isso.
E talvez, pessoas como Damian, que só enxergavam o feio do mundo, precisavam disso.
Em silêncio, arrastei seu corpo até o banheiro. Ele apoiou seus braços no mármore frio de minha pia e começou a puxar o zíper em suas costas, fechando seus olhos.
Sem um gemido ou uma reclamação.
Mas eu podia ver, no pequeno sinal em sua testa, sua dor.
Suspirei e mesmo sentindo minhas mãos trêmulas e meu coração saltando pela boca, acariciei seus ombros e tirei sua mão do zíper, acenando para ele pelo espelho.
Eu cuidaria disso.
Damian, segurou rapidamente minha mão, parando-me enquanto enviava um olhar severo sobre o espelho.
Beijei sua mão e sorri, tentando manter minha feição calma.
Eu cuidaria disso, amor, proferi silenciosamente.
Ele concordou, ainda que lutando em sua consciência  e pude respirar fundo antes de começar.
Eu podia ver a mancha de sangue vasta mesmo que em seu traje escuro.
Não chore, Bobby, seja forte por vocês dois.
Damian abaixou seu corpo, apoiando-se na pia e pude começar a descer o zíper lentamente.
Prendi a respiração assim que a pele amolecida e sangrenta surgia em meu campo de visão.
Encarei seus olhos pelo espelho e ele desviou seus olhos dos meus.
Assim que o zíper descia por minha mão, minhas lágrimas teimosas e cruéis desciam descontroladamente por meu rosto.
Marcas horríveis, como eu jamais havia visto, marcavam as costas de Damian.
Como chicotes cruéis que transformaram suas costas em enormes cortes sangrentos e que eu sabia que doíam mais do que ele poderia dizer.
Assim que terminei de tirar suas roupas, tentava engolir meu choro e encarei Damian, que tinha seu maxilar trincado e seus olhos brilhantes, segurando suas próprias lágrimas.
Joguei suas roupas manchadas no cesto e voltei a segura-lo com cuidado. Damian apoiou-se em meus ombros e deixei-o em meu box de banho, ligando o chuveiro gelado e dobrando as mangas de meu moletom e minha calça. Fecho a evasão de água e deixo a banheira encher-se.
Damian se senta mordendo seus lábios e ainda de costas para mim, sem me encarar nos olhos e sem palavras.
Nós apenas lidaríamos com isso agora.
- Isso pode doer. — digo a ele antes de depositar um pouco de shampoo em seus cabelos.
Vejo sua cabeça balançar e apenas vejo-o encolher o corpo rapidamente com o contato da espuma em suas costas. Ele logo se ajeita e começo a esfregar os fios escuros em sua cabeça.
O sangue escorria, deixando a banheira vermelha e me manchando com o sangue de Damian.
Lágrimas desciam por meu rosto tão gradativamente quanto a espuma de banho de Damian derramava-se por seu corpo.
Lavei suas feridas e minhas lágrimas em boa parte, lavaram a parte de minha alma que havia machucado-se junto a ele.
A água que caia sobre seus ombros, aliviava sua dor e acalmava a minha.
Sequei-o com cuidado e ele apenas encarava meus movimentos, com seus olhos agoras vermelhos.
E sei que jamais falaríamos disso.
- Vai ficar tudo bem. — tentei sorrir limpando meu rosto e acariciando o dele.
Voltei a apoiá-lo em meus ombros e deitei-o em minha cama com suas costas para cima.
Encarei as feridas abertas e contei até cinco mais uma vez, pegando a caixa de primeiros socorros que eu sempre guardava comigo.
Quando mais nova, mamãe insistiu que eu deveria fazer cursos de primeiros socorros, já que eu estava quase sempre com hematomas.
E aqui estava eu, desinfetando minhas mãos e colocando luvas.
Peguei o antisséptico e suspirei encarando Damian.
- Isso pode doer. — aviso-o e derramo um pouco do líquido sobre suas costas, ele geme alto em dor e eu mordi meus lábios com força, fechando os olhos e derramando mais de minhas lágrimas silenciosas. — Me desculpe, me desculpe. — sussurrei repetidamente acariciando seus cabelos.
Sequei cada uma das feridas de Damian, depositei várias e várias camadas de compressas de gazes com remédios.
Dei comprimidos para sua dor e me ajoelhei ao lado de seu rosto.
- Nós nunca falaremos sobre isso, eu sei. — começo a dizer e vejo os olhos esmeralda, cansados me encararem. – Mas, mesmo que sem comparação e pouco fútil, eu sempre vou me lembrar da forma como você sempre vai ser meu herói favorito. — digo a ele. – Desde o dia em que me encontrou sozinha depois de um bolo, com uma caixinha de veludo e sua carranca de sempre. — sorrio. – E principalmente agora, você é o mais forte que conheço. — limpo as lágrimas que beiravam o canto de meus olhos e antes que possa me levantar, Damian mais uma vez segura meu pulso.
- Nunc possum sentire cor meum* — diz em latim.
- O que isso significa ? — pergunto.
- Outro dia, princesa. — sorri cansado e seus olhos verdes gradativamente começam a tornarem-se mais pesados graças aos remédios para dor é para que ele pudesse descansar.
A dor nunca foi algo com que eu pudesse lidar.
Sempre protegida na enorme casa de meus pais, rodeada por seguranças, lidando com jardins bonitos, holofotes e preocupada demais com meu futebol e minhas expectativas.
Sempre preocupada demais em tornar o mundo mais bonito.
Sempre protegida do lado feio.
E até mesmo agora, trocando as gazes de feridas dolorosas nas costas de Damian. Mesmo nesse momento, nada é feio para mim.
Mesmo com Damian, sempre lidando e até trazendo o lado feio do mundo até mim.
Mesmo nesse momento, eu o acho o mais lindo do mundo.
Mesmo agora, eu o admiro e sinto que poderia ser capaz de arrancar a dor de seu peito, que é grande demais para que ele se quer expor, e colocá-la em mim.
Transformar tudo aquilo que parece feio, que está machucado, em algo melhor.
Bem baixinho, em um quase sussurro, começo a cantar a música que mamãe cantava sempre que eu fechava meus olhos.
Amor tinha dessas coisas, ele tinha seu lado feio.
Tinha sua perspectiva horrorosa longe dos olhos dos outros.
Mas que baixinho, no fundo e silencioso, amor também era dor, e era como lidar com ela.
Meu amor por Damian hoje, doeu como nunca.
Mas aquilo seria bonito um dia, e pararia de doer.
Mesmo que nós nunca falássemos sobre isso.
Naquele dia e nos próximos que viriam, eu carregaria o meu mundo e o seu, sozinha, sobre meus ombros.





Tradução *: "agora eu posso sentir meu coração".

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