|Narração Raquel|
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Torci a água do pano dentro do balde, arrumei o pano no rodo e comecei a passar sobre o azulejo do banheiro. Eu estava tão distraída com os afazeres do meu dia que esqueci do mundo lá fora.
Hoje é sábado. Faz exatamente um dia que me mudei para Londrina, conversei um pouco com a minha mãe por ligação ontem, e Lucas pediu para me ligar pelo FaceTime hoje, mas não sei se eu estava afim de vê-lo.
Tenho medo de sentir saudade nos primeiros dias de todas as pessoas que deixei para trás, e isso faça com que eu desista da minha nova vida.
Nem sempre fui persistente nas coisas que eu queria, tenho o coração mole demais, não sei agir diante de sentimentos intensos.
Fui despertada dos meus devaneios pelo toque do meu celular, soltei um longo suspiro ajeitando meu corpo, já que eu estava arqueada.
— Que não seja o Lucas... Que não seja o Lucas. — murmurei baixinho sabendo que era ele, essas horas ele deveria estar voltando do seu treino matinal, ele é uma pessoa muito rigorosa quanto as atividades físicas.
Peguei meu celular vendo que era ele mesmo, haviam algumas mensagens dizendo que ele me ligaria assim que chegasse em casa.
— Oi Lucas... Posso te ligar depois? Estou ocupada. — torci os lábios sabendo que eu estava sendo um pouco rude.
— Oi amor, como você está? Também estou bem, e estou com saudades de falar com você, já que ontem você me ignorou o dia todo! — disse firme e eu espremi os olhos.
— Desculpa meu bem, mas eu estava tão ocupada com a mudança que nem me atentei a isso... — falei me sentindo extremamente mal, eu não queria me afastar dele, mas no momento preciso de espaço para me adaptar a essa nova vida, espero que ele entenda isso.
— Está tudo bem, eu só queria ouvir sua voz... Podemos nos falar por vídeo mais tarde? — propôs e eu assenti mesmo que ele não pudesse me ver.
— Podemos... — torci os lábios.
— Até mais tarde então... Gosto muito de você, não se esqueça disso! — sorri ao ouvir isso, ele me dizia isso todas as noites antes de dormir.
— Até mais tarde... — finalizei a ligação não correspondendo as suas palavras, eu não sei se conseguia sentir o mesmo no momento.
Passei o resto do dia evitando o meu celular, eu não queria conversar com as pessoas da minha antiga vida, eu preciso me adaptar a nova vida de uma forma ou de outra.
Terminei de arrumar o apartamento no fim da tarde, estava cheiroso e exatamente do jeitinho que eu gostava, eu estava bastante animada com a ideia de morar sozinha.
A campainha tocou e eu fui despertada dos meus pensamentos, torci os lábios sabendo que era um dos meus vizinhos, quem sabe até mesmo o meu mais novo chefe.
Quando abri a porta fiquei surpresa, era a Catarina, seu olhar superior caminhou pela minha roupa, eu estava com uma roupa surrada, especialmente para usar nas minhas faxinas.
— Oi Catarina! — murmurei olhando firme para ela.
— Oi... Posso entrar? — torceu os lábios e eu assenti.
— Claro, fica a vontade. — apontei para dentro do meu apartamento dando espaço para que a mesma entrasse.
Catarina caminhou em passos lentos para dentro do meu apartamento, fechei a porta atrás de mim esperando que a mesma dissesse o motivo de estar aqui, já que no dia anterior ela me tratou muito mal, não estou entendendo.
— Você deve estar estranhando o fato de eu ter vindo até aqui... — disse se sentando no sofá.
— Sim, confesso que não esperava. — suspirei cruzando os braços.
— Jordan e eu estamos planejando um jantar hoje, e logo depois pensamos em sair para um barzinho, ou balada, algo do tipo. Como você irá trabalhar com a gente, queremos te conhecer mais, você não quer nos acompanhar? — disse rapidamente e eu arquei as sobrancelhas surpresa, eu esperava um convite desses vindo do Jordan, mas dela não.
— Claro, eu gostaria. — sorri de canto e ela se levantou.
— Perfeito! — soltou suas mãos ao lado do corpo. — Seu apartamento está muito cheiroso. — murmurou caminhando até a porta do meu apartamento.
— Que horas será o jantar? — perguntei.
— As oito horas da noite, no apartamento do Jordan, ele que vai cozinhar para nós. — deu de ombros abrindo a porta.
Assenti com um breve sorriso, eu realmente não esperava um sorriso se quer da Catarina, seja lá o que aconteceu com ela, espero que permaneça, afinal, iremos ser colegas de trabalho.
Era extremamente estranho ser convidada para um jantar pela pessoa que te odiou desde o primeiro momento em que te viu, mas eu acho que ela estava querendo trégua, então eu não hesitei.
Me animei, tomei um banho e fui me arrumar para o jantar, quando sai do banheiro pude observar que meu celular estava tocando em cima da cama, eu sabia bem quem era, então suspirei ignorando ele.
Lucas não me daria sossego, mas eu precisava de espaço, espero de verdade que ele entenda isso, quando eu quiser atende-lo eu irei fazer isso, caso contrário eu quero um pouco de paz e sossego.
Optei por algo casual, mas um pouco extravagante, como um vestido vermelho de manhãs, seu tecido era bem confortável e fresquinho. Eu não queria parecer arrumada demais, então fiz uma maquiagem leve, com um batom vermelho para destacar, cacheando meus cabelos apenas nas pontas.
Não coloquei um salto, iriamos jantar no seu apartamento, e depois possivelmente sairíamos para um barzinho, então a melhor opção era uma bota confortável.
Suspirei fundo me olhando no espelho, eu estava pronta, algo bem casual para o jantar com os meus novos vizinhos e colegas de trabalho, sinto que esse é apenas o começo de uma grande amizade com eles.
Peguei minha carteira com os meus documentos e dinheiro, coloquei na pequena bolsa preta que logo em seguida pendurei no meu ombro.
Caminhei até a porta que era a minha esquerda, soltei um longo suspiro antes de tocar a campainha, talvez eu tenha exagerado no meu perfume, mas era tarde demais pra pensar nisso.
Quando me preparei para tocar a campainha, a porta se abriu fazendo com que eu desse de cara com o Jordan, foi inevitável não sorrir.
Nesse instante foi como se tudo tivesse ficado em câmera lenta, nossos olhares se firmaram, estávamos vidrados um no outro, não sei dizer o que aconteceu aqui, mas foi bem intenso, eu cheguei a sentir as famosas borboletas no estômago.
— Olá! — falei por fim.
— Oi... Eu estava indo levar o lixo, mas pode entrar, fica a vontade. — deu espaço para que eu entrasse.
— Ok, pode ficar a vontade para levar o lixo. — falei divertida e ele riu.
— Catarina ainda não chegou, mas se quiser servir uma bebida, eu vou bem rápido. — disse agitado fechando a porta.
Soltei um riso frouxo achando seu jeito fofo, ele estava todo atrapalhado, suspeito que fosse pelo clima estranho que rolou há poucos minutos.
Analisei todo o ambiente vendo que seu apartamento estava impecavelmente arrumado, sem contar o aroma de comida que exalava por ali. Observei a cozinha de longe, mas pude reparar que ele estava cozinhando, eu só não conseguia distinguir o que era, porém pelo aroma devia ser delicioso.
Não demorou muito para que a porta se abrisse e por ela passasse o Jordan com a mesma agitação de antes, ele colocou o avental em frente ao seu corpo caminhando até a cozinha.
— O que você gostaria de beber? — perguntou enquanto eu estava na sala encabulada, não costumo ser tão quieta assim, mas a sua presença me deixava tímida, como pode isso?
— Tanto faz... O que você tem aí? — murmurei torcendo os lábios.
— Gosta de gin com tônica e laranja? — indagou levantando as sobrancelhas.
— Gosto. — sorri de canto, eu nunca tinha bebido isso, mas eu não queria fazer desfeita.
— Ótimo, vou preparar uma taça pra você. — sorriu pegando uma taça enorme que estava em cima da pia.
— Ok... — suspirei me aproximando dele. — Posso fazer uma pergunta inconveniente?
— Pode, mas se for muito inconveniente, eu não vou responder. — disse divertido.
— Tudo bem... — soltei um riso frouxo. — O que você está fazendo para o jantar? O cheiro está ótimo.
— Lasanha... — me olhou por cima dos olhos e voltou a cortar algumas rodelas de laranja.
— Que será a melhor lasanha que você já comeu em toda a sua vida. — fomos interrompidos pela Catarina entrando no seu apartamento, estava bom demais para ser verdade.
— Oi Catarina. Bom saber disso! — falei divertida e ela não esboçou um sorriso sequer.
Catarina parecia que estava em seu apartamento, pois chegou sem bater, jogou sua bolsa no sofá e se aproximou do Jordan lhe dando um beijo caloroso no rosto.
— Oi Raquel, como você está? Animada para a nossa noite? — perguntou cínica e Jordan a repreendeu com um olhar.
Eu tinha a leve impressão que ela estava sendo muito falsa comigo, mas espero de verdade que seja apenas impressão, pois eu estava muito afim de me dar bem com ela.
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Amor ao lado
RomanceRaquel era uma mulher cheia de sonhos, que apesar dos tombos que a vida havia lhe dado, ela jamais tirava o sorriso dos seus lábios. Sua insegurança e ansiedade caminhavam ao seu lado desde o amanhecer, mas ela era forte, lutava todos os dias e co...