Capítulo 7

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|Narração Raquel|

Meu primeiro dia de trabalho chegou, e com ele o nervosismo também. Eu estava com muito medo de fazer algo errado, ou até mesmo estragar tudo, afinal, eu sou muito insegura quanto a isso.
Respirei fundo e meu celular vibrou, olhei pela barra de notificações e era uma mensagem do Lucas, ele havia me desejado bom dia, e um ótimo primeiro dia de trabalho.
Passamos o domingo todo juntinhos, pelo fim da tarde ele decidiu pegar estrada e meu coração ficou apertado, era esse o meu maior receio, sentir muita saudade dele.
Mas no fim das contas nos entendemos e eu consegui expressar meus sentimentos, sei que agir como uma idiota não iria ajudar a minha saudade a ir embora, então vou deixar rolar.
Peguei a minha bolsa e sai do apartamento para descer rumo ao escritório, a parte boa de morar em cima do seu emprego é que se você não conseguirá se atrasar por conta de trânsito nunca, mas quem sabe por dormir mais que a cama algumas manhãs.
A primeira pessoa que vi assim que sai foi Jordan, apesar da sua carinha amassada, ele continuava muito bonito, isso não dá pra negar.
Era estranho ver aquele Jordan de sábado à noite, que cozinhou e se divertiu, vestindo um terno perfeitamente alinhado ao seu corpo, com uma postura de advogado.
— Bom dia Raquel. — disse firme sem esboçar um sorriso se quer. Tenho que admitir, isso foi formal demais para uma pessoa que estava me tratando com muita intimidade.
— Bom dia Jordan. — sorri fechando a porta do meu apartamento, logo em seguida girando a chave.
Ele passou por mim em passos longos e desceu rumo ao escritório, não pensei que sentiria falta da sua cordialidade, mas eu estava, e muito.
— Como foi seu domingo? — perguntei tentando alcançá-lo, ele estava andando muito rápido.
— Foi bom, e o seu? — devolveu minha pergunta extremamente frio e rude, será que eu fiz alguma coisa pra ele e não lembrava?
— Foi bom também... O que você fez? — puxei mais um assunto afim de ver sua reação, conforme a sua resposta eu saberia se ele estava estranho mesmo, ou se era coisa da minha cabeça.
— Nada, dormi até tarde, acordei de ressaca e comi o resto da lasanha que sobrou de sábado à noite. Depois eu deitei no sofá e dormi o resto da tarde, até chegar à noite. Tomei um banho, pedi uma pizza e voltei a dormir. Domingos são tediosos para mim! — afirmou assim que chegamos em frente ao escritório, ele abriu a porta de vidro segurando a mesma para que eu pudesse entrar.
— Você não parece curtir domingos. — suspirei e ele deu um sorriso forçado, sem ao menos dizer algo a mais.
Jordan estava agindo como a Catarina, e isso não era do seu feitio. Como sou uma pessoa que não consegue guardar o sentimento para si, eu perguntaria o que estava rolando, afinal, não gosto quando as pessoas mudam comigo sem motivos, é péssimo.
— O que aconteceu com você Jordan? Porque está me tratando assim? — perguntei enquanto passávamos pela recepção, não havia ninguém ali, para variar.
— Não aconteceu nada Raquel! — me olhou de canto.
Segurei seu braço mesmo sabendo que era uma atitude ousada, mas eu só queria saber o que havia acontecido para ele estar me tratando dessa forma, logo ele que foi tão gentil desde o primeiro momento em que eu pisei aqui.
— Eu não sei o que aconteceu com você, mas ninguém muda sua forma de agir do nada. — engoli em seco quando o seu olhar firmou no meu.
— Estava rolando um lance. Um clima. Eu pensei que você fosse solteira e tivesse disponível, mas você correspondeu me deixando agir como um homem sem escrúpulos. Eu não sou assim Raquel!
— Então você está assim por causa do Lucas? Olha, eu sei que não devo explicações para você, mas antes que pense que sou uma mulher safada e sem vergonha, eu não sou assim. Lucas e eu estamos tendo um romance sim, isso ficou bem claro no sábado, mas eu estava correspondendo aos seus flertes porque eu também estava sentindo um clima, afinal, eu sou solteira! — afirmei com todas as palavras.
— Sou um homem intenso, não quero disputar mulher com outro homem. Quero estar com uma mulher que estará comigo no dia seguinte, não sou homem de uma noite, desculpe... — suspirou se afastando de mim.
Não fui mais atrás, não queria causar uma clima mais pesado do que esse que havia ficado.
Talvez eu tenha agido de má fé, eu omiti o fato de estar quase em um relacionamento sério com outro homem, e me deixei levar pelo desejo de ficar com o Jordan, acontece.
Não era dessa forma que eu queria começar meu primeiro dia de trabalho, mas foram consequências dos meus próprios erros.
Cheguei na sala do Ricardo e ele estava extremamente concentrado em frente ao seu notebook, quando ele me viu, um pequeno sorriso brotou em seus lábios.
— Bom dia Doutor Ricardo! — falei educadamente.
— Bom dia Doutora, animada para o seu primeiro dia? — perguntou me cumprimentando com um beijo no rosto.
— Sim, estou bem animada. — sorri largo tentando demonstrar entusiasmo, mas estava difícil, ainda mais depois da "discussão" que eu tive com o Jordan.
— Perfeito, sente-se! — apontou para a cadeira em frente a sua mesa, e então eu me sentei.
— Bom, só passei aqui para vermos como será dado continuidade nos meus serviços. Eu sei que vou ajudar o Jordan e Catarina, mas no que especificamente?
— Depois que o nosso outro advogado se demitiu, o Jordan ficou com boa parte do trabalho dele, então vou pedir que ele te passe exatamente tudo. Você irá auxiliar ele no começo, até se adaptar a tudo e conseguir dominar todo o trabalho. Pode ser? Lembrando que aqui todos vocês são iguais, ninguém é melhor que ninguém. — murmurou e eu assenti, mesmo sabendo que Catarina agia com inferioridade.
— Claro Doutor! — me levantei pronta pra sair.
— Aguarda um momento, vou chamar o Jordan. — disse com cautela, e logo em seguida pegou o telefone em mãos.
Eu estava em uma tremenda sinuca de bico, o que era pior nesse momento? Ser auxiliar do Jordan ou da Catarina? Não sei bem ao certo, estou confusa no que seria mais constrangedor pra mim, apesar de ser apenas o começo.
Jordan entrou na sala do chefe sem ao menos me olhar, ele só foi fazer isso quando o Ricardo disse que ele teria que me "ensinar" todo o serviço, pela sua expressão eu sei que ele não estava contente com isso.
O silêncio predominava no ambiente enquanto caminhávamos até a mesa do Jordan, ele não trocou uma palavra se quer comigo, e talvez eu mereço isso.
— Sua mesa será ao lado da minha, algum problema pra você? — perguntou ele quebrando aquele silêncio constrangedor.
— Nenhum. — falei simplesmente e ele assentiu sorrindo.
— Ótimo, vamos começar. — pegou uma pilha de papéis e colocou em minha mesa.
De repente aquele Jordan seco e frio tinha ido embora, e o Jordan gentil e doce que eu conheci estava em minha frente, agradeci imensamente por isso.
Estranhei o fato da Catarina não ter dado as caras ainda, tenho quase certeza que ela faria questão de me infernizar no meu primeiro dia de trabalho, então ousei em perguntar dela para o Jordan, era estranho o seu sumiço.
— Catarina não vem para o trabalho? — questionei enquanto realizada o processo do serviço, estávamos revisando algumas provas de um dos casos em que iremos "trabalhar juntos" a partir de hoje.
— Então, não faço ideia de onde ela esteja, não nos falamos desde sábado. — deu de ombros sem dar muita importância.
— E você não se preocupa? — arqueei uma sobrancelha.
— Catarina está com o cara que lhe deu um pé na bunda na sexta, ela postou foto com ele ontem. No mínimo os dois encheram a cara e ela perdeu a hora para o trabalho. — disse com cautela, pela sua calma, ela era acostumada a fazer isso.
— Você está tranquilo demais.
— Quer apostar que daqui uma meia hora ela aparece com o cabelo bagunçado, a roupa amarrotada, e a cara amassada? Eu conheço bem a peça, não será a primeira vez que ela leva um pé na bunda desse cara, e poucos dias depois ela tem uma recaída com ele. — chacoalhou a cabeça rindo.
— Nossa... Ela parece ser uma mulher tão forte, que não deixa um homem babaca brincar dessa forma com seus sentimentos. — admiti olhando firme para o monitor em minha frente.
— Ela é assim com outras pessoas, mas com quem ela teria que ser, ela é uma manteiga derretida... Ele estala os dedos e a Catarina volta correndo! — afirmou.
— Falando mal de mim cedo já? — fomos interrompidos por uma voz atrás de nós, era Catarina.
— Não estou falando mal, só estou falando a verdade. Você estava com o babaca que te faz de pano de chão! — Jordan não estava com papas na língua hoje.
— É, eu estava. Mas o que você tem a ver com isso? A vida é minha. — Catarina retrucou se se sentando à mesa do meu lado esquerdo. Que ótimo, eu ficaria entre eles dois.
As mesas era em formato de "ilha", haviam quatro mesas no total, mas uma delas ficava a impressora, e eu ficava entre eles dois, o que não parecia tão agradável nesse momento.
— Ainda bem que eu não tenho nada a ver com isso. — disse Jordan revirando os olhos.
— Olha Jordan, hoje nem você vai estragar meu dia. — afirmou ela com desdém e Jordan riu com muito deboche.
— Vamos dar continuidade Raquel? Afinal, estamos aqui para trabalhar. — Jordan disse cutucando ela novamente.
— Antes preciso garantir que vocês dois não irão ficar se cutucando o dia todo. Eu realmente não quero ficar no meio da briguinha. — soltei um longo suspiro.
— Sorte a minha que você está entre nós dois, assim não preciso olhar pra cara desse idiota. — Catarina afirmou com raiva e Jordan permaneceu em silêncio dessa vez.
Depois das últimas palavras de Catarina, Jordan só falava coisas que se tratavam do trabalho que ele estava me passando, não era tão difícil quanto parecia ser, só era mais complexo pois os casos eram complicados e intensos.
Os casos que Lucas resolvia no escritório não eram tão complicados assim, diga-se de passagem, eles exigiam menos de um advogado como esses.
Não estou diminuindo o escritório que me ensinou tudo o que eu sei, longe de mim, só estou fazendo essa comparação, pois aqui a demanda de clientes é maior que em Maringá, pois são casos de todas as partes do Brasil que vem para nós.
Agradeci imensamente pela manhã ter passado voando, pois o clima estava extremamente pesado aqui, eu não via a hora de sair do meio deles dois, dava pra sentir uma vibração ruim dos dois lados.

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