Capítulo 12

14 2 0
                                    

|Narração Jordan|

Era estranho pensar em Raquel a todo o momento, eu nunca me senti assim com uma mulher antes, ainda mais sem beija-lá ou toca-lá.
Já me apaixonei diversas vezes, mas meu coração nunca palpitou tanto a ponto de querer muito estar perto de alguém.
Não sei descrever o que estou sentindo pela Raquel, mas é um sentimento bom, até demais.
Peguei o saco de lixo para levar para baixo, eu não tinha muito tempo para fazer faxina no meu apartamento, então sempre que sobrava um tempo, eu aproveitava para fazer isso.
Quando abri a porta do meu apartamento, dei de cara com Raquel e Lucas, eles estavam sorrindo e possivelmente estavam saindo.
Meu coração apertou.
Engoli em seco.
Não se explicar o que eu senti, mas eu não estava nenhum pouco confortável com essa cena, mas eu não podia demonstrar.
— Boa noite! — os cumprimentei com um belo sorriso no rosto.
— Boa noite Jordan, tudo certo? — Lucas indagou esticando sua mão em minha direção, como um cumprimento.
— Tudo certo sim cara, aproveitei para fazer uma faxina... — brinquei balançando o saco de lixo em minhas mãos. — E com vocês, tudo bem? — perguntei vendo que sim, a felicidade exalava pelos olhares dos dois.
Como pude me atrair por uma pessoa que já está comprometida? Parece que a cada momento em que isso se confirma em minha mente, eu fico mais afim da Raquel, isso é frustrante.
— Bom, estamos bem... Vamos sair um pouco! — Lucas disse empolgado.
— Ah, isso é bom... Tem lugares incríveis em Londrina para curtir a sexta-feira à noite.
— Sim... E você não vai sair para curtir também? — Lucas perguntou e Raquel me olhou sorrindo, como se esperasse uma resposta.
— Eu marquei de fazer algo com a Catarina, mas acho que não vamos sair, vamos ficar no meu apartamento mesmo. — murmurei.
Não era verdade, eu e Catarina não tínhamos combinado nada, na realidade eu passaria a minha sexta-feira à noite sozinho, mas eles não precisavam saber disso.
— Ah, isso é bom também. — foi a vez de Raquel dizer alguma coisa, ela estava completamente encabulada ao lado de Lucas, isso é estranho para alguém que gosta de conversar.
— É... Não quero mais tomar o tempo do casal, vou descer levar o lixo, tenham uma ótima noite. — sorri de canto caminhando em direção as escadas, eu queria fugir daquele constrangimento em ver a mulher que me arranca suspiros com outro homem.
Após colocar o saco de lixo no seu devido lugar, pude observar o casal de longe caminhando abraçados, eu não queria admitir para mim mesmo, mas eles faziam um belo casal, e estavam felizes.
Eu tenho que parar de pensar em Raquel dessa forma, estou cometendo um grande pecado por cobiçar a mulher do próximo, meus instintos tem que aprender a lidar com esse desejo, não posso me deixar levar.
Subi para o meu apartamento e pensei em chamar a Catarina para que pudéssemos fazer algo, não quero ficar pensando em Raquel dessa forma, não hoje.
Mandei uma mensagem para a minha amiga, e não demorou muito para que ela aparecesse no meu apartamento com numa garrafa de uísque.
— Até que enfim vamos beber essa garrafa de uísque que eu estava desejando há um tempo. — murmurou empolgada.
— Não vamos beber isso puro, não é? Precisamos misturar alguma coisa. — falei firme e ela cerrou os olhos em minha direção.
— Você não está bem, o que aconteceu? — perguntou me olhando firme.
Catarina é muito observadora, nada passa batido por ela, esse era o meu maior receio, que ela percebesse que eu estava "abatido" por ter assumido para o meu coração que a Raquel está feliz com o Lucas, e que eu não posso interferir na sua felicidade.
— Não aconteceu nada. — dei de ombros.
— Jordan, eu te conheço há cinco anos, eu te conheço mais que a sua própria mãe.... O que aconteceu? — cruzou os braços.
— Catarina, vamos ao mercado comprar um energético... Podemos pedir uma pizza, o que acha? — propus mudando de assunto.
— Ok, se você não quer falar, não irei insistir, mas eu vou descobrir o que fez você ficar assim. — afirmou convincente.
Peguei a chave do meu carro, e fomos rumo ao mercado para comprar energético e gelo. O mercado mais próximo não era tão longe e nem tão grande, mas pelo que parece as pessoas optam por ele, ou melhor dizendo, a Raquel e o Lucas.
Não tinha como voltar atrás e ir para outro mercado, Catarina já tinha visto o casal de longe, e seu olhar sobre mim era firme, ela estava desconfiada.
— Acho que descobri o que te fez ficar mal. — murmurou enquanto caminhávamos até o freezer para pegar o energético.
— Não faço ideia do que você está falando Catarina! — me fiz de desentendido.
— Eu vi o casal juntos, acho que você está apaixonado pela alegrinha.
— Não viaja, somos amigos... — revirei os olhos parando em frente ao freezer.
— Eu percebi isso antes de você Jordan, o teu coração bate forte quando vê a alegrinha, admita! — insistiu naquele assunto.
— Porra Catarina, você não vai deixar esse assunto pra lá mesmo, não é? — falei farto após pegar o litro de energético.
— Eu só quero dar uma de boa amiga e consolar teu coração, ele está implorando por álcool ao ver a mulher da sua vida nos braços de outro. — disse rindo, ela estava fazendo piada com a minha desgraça e eu nem podia falar nada, caso contrário ela saberia que eu queria afogar minha tristeza no álcool.
— Depois falamos disso, aqui não é lugar adequado para isso. — pedi com cautela e ela revirou os olhos.
— Você é um chato! — caminhou em minha frente.
Catarina é difícil de lidar, mas é uma das únicas pessoas que me entendem e não sai do meu lado quando eu mais preciso. Ela é ranzinza, mal humorada e grosseira, mas quando estamos juntos, essa postura vai embora, e ela vira uma manteiga derretida.
— Vamos pedir uma pizza? — propus enquanto caminhávamos até o caixa.
— Vamos. — sorriu olhando para trás de relance.
Eu não disse? A manteiga derretida está presente, ela sempre aparece quando estamos sozinhos, só queria que ela fosse assim com outras pessoas também.
Pagamos o energético, e voltamos para o meu apartamento, no caminho mesmo Catarina pediu a pizza pelo aplicativo enquanto voltávamos, fazia tempo que eu não via um sorriso em seus lábios, ela com certeza precisava sorrir mais, seu sorriso é muito bonito, isso eu não posso negar.
— Você tem que sorrir mais. — a olhei assim que parei no semáforo.
— Por quê? — perguntou sem entender.
— Porque seu sorriso é bonito. — afirmei, e ela corou no mesmo instante.
— Você está me zoando, consigo sentir sua vontade de rir da minha cara. — disse rindo.
— Não estou Catarina, se você sorrisse mais a sua vida seria melhor, te garanto! — murmurei dando partida assim que o sinal ficou verde.
— Eu sorrio para as pessoas que merecem, caso contrário não irei sorrir mesmo. — deu de ombros.
— Como você é difícil de lidar. — soltei um longo suspiro.
Pode parecer complicado, mas eu tento ao máximo ser um bom amigo para Catarina, por algum motivo sua vida já é amargurada demais, então eu faço o possível para deixa-la "mais colorida", por mais que ela seja um tanto quanto relutante quanto a isso.
Chegamos em frente ao prédio, e eu abri a garagem para que eu pudesse estacionar o carro. Catarina foi logo pegando as sacolas e se mandou na frente enquanto eu fechava o carro, ela estava eufórica para começar a beber.
— A pizza chega em quarenta minutos, estou faminta! — choramingou.
— E eu estou apertado... — apressei meus passos passando em sua frente.
Entrei no meu apartamento com tudo correndo em direção ao banheiro, fiz minhas higienes e voltei para a sala onde Catarina já estava com dois copos de uísque com energéticos prontos.
— Um brinde a nossa amizade que supera qualquer esqueminha! — ergueu o copo assim que entregou o outro em minhas mãos.
— Como assim Catarina? — arqueei uma sobrancelha confuso.
— Como você é lerdo. — revirou os olhos. — É sexta-feira à noite Jordan, podíamos estar com um esquema qualquer curtindo, mas não, estamos fazendo companhia um ao outro, pois os dois estão na seca. — suspirou se sentando.
— Quem disse que estou na seca? — me fiz de ofendido.
— Quanto tempo faz que você não transa? — perguntou e eu beberiquei a minha bebida sem jeito.
— Ah... Uns seis meses. — respondi me sentando ao seu lado.
— Seis meses Jordan? Um homem nunca fica tanto tempo assim sem fazer sexo. O que houve com você? — perguntou alarmada.
— Me diz uma coisa, que tempo eu tenho de conhecer mulheres? Eu passo boa parte do meu tempo trabalhando, e nos finais de semana fico em casa. — falei firme e ela assentiu.
— Para isso existe Tinder! — deu de ombros e eu neguei com a cabeça.
— Tinder Catarina? Eu não vou usar isso não.
— Ah, como você é da idade na pedra. — revirou os olhos. — Jordan, aquele romantismo dos anos quarenta não existe mais, hoje em dias as coisas estão mais práticas, você conversa com a pessoa, sai para conhecer, faz sexo e fim. — deu de ombros.
— Não, eu não quero conhecer alguém dessa forma, se for pra ter uma namorada eu quero fazer tudo certo. — umedeci os lábios pensativo.
— Quem disse em namorar? Tinder não é pra namorar, é para fazer sexo.
— Como você é evoluída! — afirmei perplexo.
— Você que não sabe ficar com uma mulher apenas pelo sexo, tem muitas mulheres que querem só isso com você, está perdendo oportunidades. — se levantou do sofá caminhando pela sala.
— Com o cara que te faz de trouxa você não é assim... — falei firme e ela me olhou no mesmo instante.
— O assunto é você, e não eu. — fez uma careta virando todo o liquido do seu copo de uma vez, eu estava perplexo com sua frieza.
— Ok... Não vamos abusar sem comer antes, não é? — a adverti e ela franziu o nariz caminhando até a mesa da cozinha.
— Cara, como você é chato. Agora entendo porque nenhuma mulher quer transar com você. — suspirou.
— Catarina, eu só quero o teu bem. Eu me abro com você, e você não se abre comigo. Qual a dificuldade de deixar eu te ajudar? Eu sou seu amigo, jamais vou te fazer mal. — me levantei com cautela caminhando até ela.
— Mas quando eu me abro, você só me julga. Eu estou vivendo a minha vida Jordan, diferente de você que está deprimido porque está afim de uma mulher comprometida. — jogou na minha cara, e agora foi a minha vez de virar toda a bebida na minha garganta, se for pra falar da Raquel, prefiro falar bêbado.
— Não começa...
— Agora você vai me falar a verdade, você está afim da Raquel Linares, não está? — insistiu naquele assunto, eu não podia mais negar isso para ela, estava explícito na minha cara, pois toda vez que eu via a Raquel com o seu namorado, aquilo mexia comigo de uma forma que eu não queria.
— Sim Catarina, eu estou afim dela. — respondi sua pergunta sabendo que não havia mais saída, ela já sabia disso, só queria a minha confirmação.
— Eu sabia! — afirmou alarmada.
— Mas não vamos falar disso. — propus colocando algumas pedras de gelo no meu copo, para que eu pudesse fazer outra dose de bebida.
— Vamos falar sim, eu quero saber tudo.
— Tudo o que? Nunca rolou nada entre a gente. — dei de ombros colocando uma dose de uísque no meu copo.
— Jordan, não tem nenhuma idiota aqui não, eu sei que está rolando algo entre vocês, todas as manhãs vocês correm juntos, não se desgrudam, e ainda quer que eu acredite que não rolou nenhum beijinho? — bufou impaciente.
— Eu juro Catarina, nunca rolou um beijo se quer. Ela quer só amizade comigo, está estampado no olhar dela como ela é perdidamente apaixonada pelo Lucas, jamais vai rolar alguma coisa entre nós. — respirei fundo colocando energético no meu copo para finalizar a minha bebida.
— Homens são lerdos, mas você é além disso... Não é possível! — revirou os olhos se aproximando de mim.
Catarina largou o copo em cima da mesa, e ficou bem próxima de mim. Suas mãos tocaram o meu rosto e ela me olhou firme, eu estava como uma estátua, sem mexer um musculo se quer, apenas esperando o que ela iria fazer.
— Não estou entendo... — falei me referindo aos seus gestos.
— Raquel está afim de você também, ela possivelmente ainda não se entregou a tentação por conta do Lucas, mas se você insistir mais um pouco, ela cede. — disse rindo, suas mãos ainda estavam sobre o meu rosto, ela segurava meu rosto com tanta cautela entre as suas mãos pequenas e delicadas.
— Não, ela é comprometida. Eu jamais faria algo que eu não quisesse que fizessem comigo, isso é errado. — umedeci os lábios sentindo minha respiração descompensar.
Não posso negar o quanto Catarina é atraente, mas eu jamais poderia sentir desejo por ela, somos praticamente melhores amigos, com certeza é o álcool fazendo efeito.
Fomos interrompidos pelo interfone tocando.
— Deve ser a pizza. — me afastei dela quebrando o "clima". Não pode haver mais nada entre nós. Somos melhores amigos, apenas isso.

Amor ao lado Onde histórias criam vida. Descubra agora