Capítulo Vinte e Um

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Anthony

O acidente me deixou várias dores, mas ainda sinto que a decepção que tive com Kate foi maior. Ela não me abandonou um minuto sequer, o que me faz pensar que realmente ela tem mais valor do que supus. Maldita dor de cabeça.

Os médicos me alertaram da incapacidade de andar. Me sinto mal. Mal, como nunca me senti antes. A minha revolta e vergonha por ser um aleijado é tanta, que prefiro não continuar a ver Kate. Espero que ela assine os papéis o quanto antes e me deixe em paz.

A presença de Meggie me serviu para alguma coisa, ao menos ela me ajudou a expulsar aquela teimosa daqui mesmo contra a sua vontade, e a de Norah que a todo momento me olhou pedindo a Deus que eu voltasse a ser criança para que eu levasse uma boa surra.

Sei o quanto ela gosta de Kate, mas não consigo mais levar adiante essa história que trouxe tantas dores, magoas e destruição para todo mundo.

Kate foi embora. Finalmente. Ela se despediu muito pálida, os olhos sem lágrimas, e depois Meggie saiu do quarto. Aposto que foi tripudiar em cima dela.

Ninguém pareceu reparar que meu contentamento com o que acabara de fazer — mais uma burrice para variar —, era forçado. Minha mãe também tinha os olhos brilhantes demais e a voz, estava ligeiramente alterada.

—  O que pensa que está fazendo? — Norah perguntou enfática.

—  Mãe, não se meta. — Respondi.

—  Você é cego?! Não enxerga as burradas que faz, uma atrás da outra?

—  Acabou mãe. Está tudo bem.

Fui distraído pela entrada de Meggie; ela entrou acuada, mesmo assim não pude ignorá-la, no outro extremo do quarto em uma poltrona, praticamente escondida, e com o rosto vermelho.

—  O que aconteceu?

—  Aposto que apanhou da Kate. —  Norah disparou.

—  É o que você queria que tivesse acontecido não é Norah? — Enfrentou Meggie.

—  Sim, vou tomar um café antes que eu faça o mesmo.

Norah cumprimentou-me, calorosamente com um beijo:

Em silêncio, Meggie folheava uma revista, como se tentasse não chamar atenção sobre si. Mas os implacáveis olhos verdes ardiam em seu rosto avermelhado.

—  Kate bateu mesmo em você?

—  Ela vai ser arrepender!

—  Você deve ter a provocado.

— Ah, claro! — exclamou. — Pobrezinha da Kate... Ela ficou morta de recalque, isso sim.

Levantei o olhar. Estava tentando parecer vagaroso e inexoravelmente manipulado. E o instinto me dizia que não adiantava agir de outra maneira com Meggie.

—  Está bem — concordei, sem interesse. —  Deixa ela pra lá.

Em outras circunstâncias, teria ficado feliz com a atitude de Kate. Isso só demonstrava que ela sentia algo por mim. Ela disse que havia alguém, será que mentiu para me afastar? Ela não nos apresentou, nem seu nome, e não fez qualquer comentário novamente.

—  Vamos conversar. Diga-me, como foi esse acidente e o que fazia em Londres? — perguntou Meggie, seca.

—  Negócios. Me atrapalhei, você sabe que não dirijo bem.

—  Mas é prudente.

—  Não dessa vez.

—  Você veio atrás dela?

O ContratoOnde histórias criam vida. Descubra agora