Capítulo Dezesseis

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Kate

Só as pessoas de quem a gente gosta é que podem nos magoar.

O tempo parou. Eu podia senti-lo escoar para algum lugar distante. Eu podia ver o rastro de perguntas atrás de mim assim que repetia na minha mente cada palavra dita por Anthony. Conseguia lembrar do casamento, de todas as coisas boas e ruins até aqui. Portanto, o tempo devia estar passando, em algum lugar. Tudo parou. Eu não conseguia sentir nada, não conseguia fazer nada, não conseguia pensar em nada.

A certa altura, após um longo tempo, ele saiu do closet impecavelmente arrumado e lindo. Antes de cruzar a porta, ele estendeu a sua mão gelada e perfumada. Em seguida, beijou minha cabeça. E, então, saiu e eu sentia cada passo, só que nada mais estava acontecendo. Quando escutei o barulho do carro através da varanda que estava aberta, caminhei até lá e vi quando ele desapareceu no carro que ao contrário do de sempre — um motorista dirigindo —, ele mesmo dirigia.

E foi como se o tempo voltasse a girar.

Trazendo consigo uma perfeita recordação.

Como sempre, Anthony estilhaçava o meu coração em milhares de pedacinhos.

Palavra por palavra, relembrei cada detalhe.

O ódio fervia dentro de mim. Que outra emoção poderia ser aquela que me incendiava? Ódio pelo homem que men­tiu, que mentiu sem parar, dia após dia, noite após noite a cada palavra, a cada toque. Saí ainda atordoada do quarto e gritei por Susie.

— Por favor, arrume as minhas coisas o quanto antes. Partirei desta casa ainda hoje. Obrigada.

— Mas... Senhora...

— Não faça objeções e nem questionamento, Susie apenas cumpra a tarefa.

Após as instruções, resolvi ir ao jardim. Era sem dúvidas a minha parte favorita da casa e da qual eu sentiria mais falta.

Restava apenas uma tarefa a ser feita antes que a antiga realidade tornasse a tragar-me por completo.

Entorpecida, com dedos lerdos, apanhei o celu­lar. Ainda era cedo, e eu não podia evitar. Tinha que fazer isso. Não restava escolha. Enviei uma mensagem para Grace, informando-lhe sobre tudo e pedindo a sua ajuda. Eu não posso simplesmente, juntar as minhas coisas e voltar para casa dos meus pais sem evitar os questionamentos e incisões. Eu preciso de tempo.

Grace me indicou uma viagem e eu gostei da ideia.

Paris, Viena. Depois Rio de Janeiro, México, Índia. Em seguida, Austrália, Nova Zelândia. E, então, Orlando, Miami. Por fim decidimos por Londres — onde nos divertimos imensamente.

Assim como se organizaram para receber-me, os empregados se dispuseram numa fileira aos pés da escada e assim que desci com a última mala e com o casaco na mão, pude vislumbrar a imagem de cada um, curiosos e aflitos com a novidade, porém todos gentis em se despedir.

— Quero agradecer a todos pelo carinho com que me receberam nesta casa. Sentirei falta de cada detalhe que faziam a minha rotina menos trágica nessa casa. Até um dia.

— Senhora, — tomou a palavra a senhora Stevens — somos apenas empregados, sabemos de nossa condição. Mas, estamos resguardados na esperança de que a senhora volte logo. — Dei-a um abraço afetuoso, de certo que ela havia sido sempre muito cortês e atenciosa comigo.

Nora me esperava do lado de fora da casa.

— Você irá mesmo embora?

— Seu filho me deu a liberdade. Não há motivos para que eu continue aqui.

O ContratoOnde histórias criam vida. Descubra agora