Kate
Só as pessoas de quem a gente gosta é que podem nos magoar.
O tempo parou. Eu podia senti-lo escoar para algum lugar distante. Eu podia ver o rastro de perguntas atrás de mim assim que repetia na minha mente cada palavra dita por Anthony. Conseguia lembrar do casamento, de todas as coisas boas e ruins até aqui. Portanto, o tempo devia estar passando, em algum lugar. Tudo parou. Eu não conseguia sentir nada, não conseguia fazer nada, não conseguia pensar em nada.
A certa altura, após um longo tempo, ele saiu do closet impecavelmente arrumado e lindo. Antes de cruzar a porta, ele estendeu a sua mão gelada e perfumada. Em seguida, beijou minha cabeça. E, então, saiu e eu sentia cada passo, só que nada mais estava acontecendo. Quando escutei o barulho do carro através da varanda que estava aberta, caminhei até lá e vi quando ele desapareceu no carro que ao contrário do de sempre — um motorista dirigindo —, ele mesmo dirigia.
E foi como se o tempo voltasse a girar.
Trazendo consigo uma perfeita recordação.
Como sempre, Anthony estilhaçava o meu coração em milhares de pedacinhos.
Palavra por palavra, relembrei cada detalhe.
O ódio fervia dentro de mim. Que outra emoção poderia ser aquela que me incendiava? Ódio pelo homem que mentiu, que mentiu sem parar, dia após dia, noite após noite a cada palavra, a cada toque. Saí ainda atordoada do quarto e gritei por Susie.
— Por favor, arrume as minhas coisas o quanto antes. Partirei desta casa ainda hoje. Obrigada.
— Mas... Senhora...
— Não faça objeções e nem questionamento, Susie apenas cumpra a tarefa.
Após as instruções, resolvi ir ao jardim. Era sem dúvidas a minha parte favorita da casa e da qual eu sentiria mais falta.
Restava apenas uma tarefa a ser feita antes que a antiga realidade tornasse a tragar-me por completo.
Entorpecida, com dedos lerdos, apanhei o celular. Ainda era cedo, e eu não podia evitar. Tinha que fazer isso. Não restava escolha. Enviei uma mensagem para Grace, informando-lhe sobre tudo e pedindo a sua ajuda. Eu não posso simplesmente, juntar as minhas coisas e voltar para casa dos meus pais sem evitar os questionamentos e incisões. Eu preciso de tempo.
Grace me indicou uma viagem e eu gostei da ideia.
Paris, Viena. Depois Rio de Janeiro, México, Índia. Em seguida, Austrália, Nova Zelândia. E, então, Orlando, Miami. Por fim decidimos por Londres — onde nos divertimos imensamente.
Assim como se organizaram para receber-me, os empregados se dispuseram numa fileira aos pés da escada e assim que desci com a última mala e com o casaco na mão, pude vislumbrar a imagem de cada um, curiosos e aflitos com a novidade, porém todos gentis em se despedir.
— Quero agradecer a todos pelo carinho com que me receberam nesta casa. Sentirei falta de cada detalhe que faziam a minha rotina menos trágica nessa casa. Até um dia.
— Senhora, — tomou a palavra a senhora Stevens — somos apenas empregados, sabemos de nossa condição. Mas, estamos resguardados na esperança de que a senhora volte logo. — Dei-a um abraço afetuoso, de certo que ela havia sido sempre muito cortês e atenciosa comigo.
Nora me esperava do lado de fora da casa.
— Você irá mesmo embora?
— Seu filho me deu a liberdade. Não há motivos para que eu continue aqui.
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O Contrato
RomansaKate estava sonhando com apenas uma coisa: uma faculdade. Ela queria fazer a diferença no mundo cada vez mais competitivo, onde o gênero que possui maior dificuldade em se destacar é a mulher. Conhecidas como sexo frágil, Kate quer ser mais um exemp...