[ATO 8] SEDUÇÃO

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Indicações de música:

"Meu cinema" e "Das palavras a pele", por Phill Veras. (Presente.)

"Wayfaring Pilgrim", por Roy Buchanan; e "I fall in love too easily", por Frank Sinatra. (Passado.)

Porchay estava recostado no encosto amadeirado daquela confortável cama king size, e Kimhan debruçava-se sobre seu peito. Este parecia um moleque contente após receber um doce, embora só manifestasse isso internamente; por fora, ele mantinha as pálpebras relaxadas, simulando um cochilo tranquilo tal qual criança exausta após um dia agitado. Era, no entanto, um homem feito — um homem que de algum modo tinha reencontrado um antes adormecido lado infante em si. Chay o encarava e sorria, os olhos semicerrados e iluminados, enquanto deixava-o repousar ali.

Sentia-se mais próximo de seu querido. "Querido? Sim, talvez sim", pensou. Aquela visão era extremamente adorável, então não se incomodava com o fato de um de seus braços estar começando a ficar dormente. Achava o calor do outro por baixo das cobertas algo tão agradável, que poderia morrer sem arrependimentos. Recebia um abraço aconchegantíssimo, no qual mesmo o peso da perna alheia sobre seu colo era-lhe satisfatório.

O maior desfrutava de um suave toque de dedos por suas costas, sob a camisa social, e ocasionalmente era tomado por prazerosos arrepios. Parecia um instrumento sendo dedilhado, e a melodia entoada não poderia ser mais harmoniosa para sua pele. Ocasionalmente, recebeu um carinhoso beijo na testa, o que o fez entreabrir as órbitas castanhas e encarar, dentre o baile entre luz e sombra que adornava o tranquilo ambiente do quarto, sua pessoa especial.

— Porchay... — ele sussurrou.

— Oi, Phi...

Após uma troca de olhares hesitante, Kim roubou um beijo breve do rapaz, que retribuiu timidamente. Era como se o sangue deste tivesse voltado à temperatura normal. Ele estava envergonhado. O ator veterano percebeu algo estranho no comportamento do par.

— Você está com vergonha? — sorriu preguiçosamente.

Porchay cobriu os olhos alheios com uma mão.

— Por favor, pare.

Kimhan soltou uma risada breve e rouca em resposta.

Apesar de o menor não ser muito bom com palavras, sua reação à declaração do parceiro comunicou, por si só, tudo que era necessário. Eles estavam juntos desde o silencioso abraço de mais cedo. O que quer que aquela emoção fosse — era péssimo com nomes, afinal —, tratava-se algo recíproco. Sem dúvida, gostava do sênior daquela forma e queria estar com ele. Era, no fim das contas, uma pessoa que falava por meio de ações, e Kim sabia bem disso.

— Como você está se sentindo, P'Kim? Conseguiu cochilar um pouco? — perguntou Porchay.

O homem sentou-se após a palma do outro ser retirada de seu rosto, acomodando o dorso num travesseiro.

— Mais ou menos, mas valeu porque eu pude ouvir seu coração bater... — baixou o olhar. — e você ficou aqui.

Os dedos de ambos tocaram-se devagar, antes de cruzarem-se amorosamente. Era-lhes difícil, no ápice daquele afeto fervente, interromper o contato entre seus corpos. Chay, tímido, apoiou a cabeça sobre o ombro alheio.

— Sabe, Porchay... eu sou gay — manteve os olhos baixos, pois era algo difícil de enunciar. — Só depois de adulto é que eu parei para refletir sobre isso — intensificou o aperto entre as duas mãos. — Mas eu juro que nunca quis me aproveitar de ninguém, muito menos de você, nesse tempo de indústria... Mesmo que em algum momento eu tenha começado a pensar em você de outra forma, eu não entrei nesse mundo por gostar de homens e querer intimidade com eles...

[KimChay] Entre takes e manchetes (A primeira vez)Onde histórias criam vida. Descubra agora