[ATO 11] ATRAÇÃO

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Indicações de música: "How does it feel", por Matt Bomer; e "Your precious love", por Marvin Gaye e Tami Terrell.

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Naquele dia, foram ao local de ensaio juntos. Kim utilizava um boné de aba reta e óculos escuros, deixando seu tórax parcialmente exposto graças a uma folgada e cavada camiseta acinzentada. Era um tipo de peça que ele não costumava usar. Porchay, caminhando discretamente próximo a ele, não pôde evitar encarar as costelas do homem, que pareciam convidar seus olhos à medida que se moviam em conformidade com o ritmo de sua respiração. Contemplou a musculatura definida da lateral do corpo alheio, cujas linhas entregavam ao mistério os possíveis desenhos esboçados na extensão daquela pele parda, dada a existência de uma indesejável camada de tecido.

O Phi frequentemente andava à sua dianteira, então o garoto acabava se demorando nos fios de cabelo escuros que abraçavam aquela nuca alongada — a nuca que ele mesmo havia podido abraçar.

E suas recordações serviam paradoxalmente ao deleite e à lástima, porque o tanto que a abraçara não foi suficiente para suprir seu desejo.

Chegando à sala, cumprimentaram alguns colegas. O mais velho colocou sua mochila num dos vários assentos que estavam ali na ocasião e sentou-se no chão ao lado. Porchay avizinhou-se deste, pois não suportava a ideia de estar longe dele, mesmo sabendo que logo outros se aproximariam deles para conversar sobre assuntos diversos. Deixou sua bolsa no próprio colo, as pernas estiradas. Porsche, que estava no outro lado do recinto, cutucou ligeiramente Kinn e apontou para o outro casal. Os dois estavam com folhas de papel em mãos. O segundo ergueu ambas as sobrancelhas e fez que sim com a cabeça, e eles trocaram algumas palavras, incompreensíveis em meio à algazarra que ecoava. Kimhan espiou a cena.

— Chay... — Ele chamou a atenção do mais novo, que conversava com Pete, o qual cumprimentou-o com um aceno breve. — O seu irmão falou com você?

— Hum? — Porchay olhou para Kim e fez que não com a cabeça. — Na verdade, não. Eu só o cumprimentei de longe, quando entrei.

— Entendi... — O homem apoiou as mãos no chão de madeira, deixando o dedo mindinho de uma delas encostar no do garoto.

— Ele deve estar ocupado conversando sobre hoje. Uma cena dele com o Kinn está entre as que vão ser passadas. — O jovem discretamente acariciou aquela extremidade que roçava na sua, e a pessoa próxima a eles reparou na cena, mas fingiu que não a viu.

O veterano fez que sim com a cabeça, pensando em como aquilo não passava de uma meia-verdade. Tinha quase a mesma idade que o irmão de seu parceiro e, apesar de não serem tão próximos, conhecia muito bem a superproteção dele para com o caçula. Não sentia que sua proximidade com o rapaz era bem-vista. Antes que pudesse finalizar mais algum pensamento sobre isso, a atenção do grupo foi chamada. O ensaio estava prestes a começar.

***

De fato, era um dia no qual uma cena entre Kinn e Porsche estava prevista para ser ensaiada. Não tardou para que fosse a vez deles. Kim e Porchay aproveitavam-se do desvio de atenção para o primeiro casal e deixaram-se encostar discretamente: mão em mão, ponta de pé em ponta de pé, ombro em ombro. Queriam estar abraçados o tempo todo.

Kimhan já tinha ciência das implicações de se envolver afetivamente com um parceiro de ship, por ter vivenciado algo do tipo no passado. Por outro lado, somente então Chay via-se tendo de lidar com algo que nunca lhe fez realmente questão: a imagem. Afinal, era uma pessoa espontânea, admirada justamente por isso. Entretanto, os limites entre trabalho e vida pessoal eram-lhe suficientemente nítidos, por mais que ele fosse amorosamente inexperiente, desde o princípio de sua carreira.

[KimChay] Entre takes e manchetes (A primeira vez)Onde histórias criam vida. Descubra agora