[ATO 16] DECLARAÇÃO

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Recomendação de música: "Quem sabe isso quer dizer amor", por Milton Nascimento.

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Vamos desvendar parte da reta final, amores?

Por favor, não se esqueçam de comentar e favoritar, pois adoro as interações de vocês. Até breve com o (provável) último capítulo do primeiro arco!

Abraços ternos da yuudae.

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Porchay havia se recordado, nos poucos momentos em que observava seu amado digitar, da primeira imersão que eles tiveram juntos. O nervosismo que sentira naquele dia parecia bailar com o que o tomava enquanto esperava impacientemente, no silencioso quarto de Kimhan, um único mas decisivo impulso para começar a falar.

— Eu achava impossível sentir atração por você naquela primeira vez. — Murmurou, finalmente.

O mais velho, ao ouvir as palavras alheias, apenas bloqueou a tela do telefone celular e pousou ambas as mãos no colo, uma delas ainda segurando o aparelho. Suas extremidades eram tomadas por um tremor fino, quase imperceptível, enquanto se moviam a fim de mostrar-se receptivo ao discurso alheio. O menor continuou, olhando fixamente para a porta:

— Eu nunca havia sentido isso por alguém antes, e sozinho, muito raramente. No dia, estava nervoso por atuar com você, é verdade, mas também tem a questão de que… — Engoliu em seco, hesitando por um momento. — … eu não costumo sentir atração pelas pessoas. O diretor falou sobre uma aproximação apaixonada, sobre desejos dos personagens e tudo. Para além do papel, eu mal sabia o que era isso.

Kim fez como se fosse endireitar as costas e encarar o par, mas Chay recusou-se a desencostar-se de seu corpo.

— Eu quero continuar assim. — A voz do jovem tremulava.  — Por favor, não olhe para mim. Não agora.

O maior nada disse.

— … Eu sinto vergonha de falar disso. — Preencheu os pulmões de ar tanto quanto pôde. — É que eu sempre achei que tinha algo de errado comigo.

*

No dia em que tudo começou, o júnior estava muito nervoso. Sua nova experiência como ator em ascensão significaria uma virada em sua carreira, e além de tudo, ele estaria sendo observado e avaliado durante a imersão que realizaria com Kimhan. Mas não se tratava apenas disso. Algo mais o deixava angustiado, na verdade, e mais do que todo o resto: o fato de não entender bem os afetos que deveria pôr em cena durante a prática. Sendo sincero consigo mesmo, ele podia concluir que não sentia desejo muito constantemente — se é que sentia —, a ponto de temas como masturbação e conhecer pessoas romanticamente pouco o interessarem. Por essa razão, tinha medo de não dispor de bagagem suficiente para dar conta daquele papel, que era tão desafiador para ele.

Ainda encostado no perfil alheio, Porchay ia recuperando as memórias daquele dia, comunicando-se:

— Mas foi muito fácil entrar no personagem, sabe? Com você…

Lembrou-se do fervor que preenchia seu peito e do frio que inundava suas extremidades. Das palavras e dos olhares trocados e de seu próprio corpo, que de tão perdido em sensações, misturava-se muito intimamente com a ficção pressuposta na cena. Rememorou, ainda, o fato de perceber-se chorando e agindo sem entender as próprias reações, uma vez invadido por tais afetos, pois tudo era uma grande e assustadora novidade. Ambos estavam entregues e desapercebidamente perdidos no labirinto do olhar um do outro, sem buscar meios de fuga. E mesmo se quisessem escapar, era como se a chave para a libertação estivesse atravessada na língua alheia tal qual um piercing — chave essa que confundia-se com a do desejo, cuja porta estava escancaradamente destrancada. E como quis beijá-lo, inclusive no momento em que desviou o rosto — reação de temor em relação ao rompante de excitação!

[KimChay] Entre takes e manchetes (A primeira vez)Onde histórias criam vida. Descubra agora