20 de Dezembro de 2009
Depois de nossa longa conversa filosófica sobre a vida e tudo que aconteceu nos últimos cinco anos, ou pelo menos quase tudo. Miguel e eu nos separamos pela escola no caminho para nossas respectivas salas. Onde finalmente me encontro com Daniel na aula de biologia.
— O que foi que deu em você hoje de manhã? — Ele me cutuca com um lápis como se não tivesse ouvido nada do que falei.
— Você realmente quer conversar sobre isso agora? — Sussurro de volta com medo da professora ouvir.
— Claro, eu não te achei em lugar nenhum mais cedo.
— Eu tava conversando com um amigo — Respondo mas me arrependo logo em seguida.
— Amigo? Que amigo? — Pergunta com um ar de ciúmes — E precisava sumir assim na escola pra conversar com um amigo?
— A gente se esbarrou na biblioteca e ficamos conversando depois, só isso — Sussurro um pouco mais alto, já irritado com o interrogatório.
— Posso saber sobre o que?
— Livros — Menti — Perguntei que livro ele tava procurando e a conversa fluiu daí. Por sinal, conversei com ele mais do que conversei com você a semana inteira.
— Entendi... — Ele diz e então olha para frente, fazendo me arrepender de abrir a boca de novo.
— O que você queria que eu fizesse?
— Talvez ignorasse ele? E viesse conversar comigo? — Resmunga irritado olhando para mim novamente.
— Então agora você quer conversar? — Respondo de forma sarcástica.
— Senhor Hallwell e Senhor Vannes — Somos interrompidos pela professora, que faz a sala inteira ficar em silêncio — Gostariam de dividir com a turma esse assunto tão importante?
— Desculpa professora, não vai se repetir — Daniel se vira e não olha para mim a aula inteira.
Tentei conversar com ele mais uma vez quando a aula terminou, mas andou direto para fora da sala me ignorando. Quando consigo vê-lo fora da sala, estava ao lado de uns garotos que eu não pude reconhecer estar de costas. Me viro, sentindo uma mistura de raiva e tristeza, mas também não podia julga-lo, já que menti sobre minha conversa com Miguel.
A única opção restante então foi almoçar sozinho. Entro na fila para pegar meu almoço e vou para a sala onde me sentei no primeiro dia, sozinho de novo.
— Como vai? — Miguel aparece na porta com um sanduíche de casa e suco — Te procurei no refeitório mas não te achei. Então resolvi vir almoçar aqui e aqui está você. O universo deve querer a gente junto agora.
— Como é? — Quase engasgo achando que estava me passando uma cantada. Logo Miguel, que me conhece a tanto tempo. Ele é bonito e gay mas nunca o vi dessa forma.
— Eu acredito que quando duas pessoas precisam de ajuda em problemas que se completam, o Universo conspira a favor delas para se ajudarem — Completa, se sentando ao meu lado.
— Nossa, que susto.
— O que? Achou que tava dando em cima de você? — Ele ri, fazendo me sentir mal — Te conheço a mais de 10 anos, você é tipo um primo pra mim.
— Que bom — Digo aliviado — Desembucha então o seu problema.
— Primeiro me fala como foi com o Daniel, você disse que ía ter uma aula com ele agora.
— É sério? Eu te perguntei primeiro.
— Mas seu problema é mais urgente. Vai, fala.
— Não consigo falar, era no meio da aula. E pra piorar, discuti com ele. Por isso não tô no refeitório.
— Que merda... Mas foi muito feio?
— Nem tanto, foi por ciúmes de estar conversando com você.
— O que? Mas eu sou a última pessoa que ele devia se preocupar — Miguel diz um pouco triste — Queria poder ajudar nisso, mas você precisa conversar com ele sozinho.
— Vou tentar, no final do dia. Mas agora é sua vez de contar o seu problema.
— Eu te diria mas já faltam cinco minutos pro sinal tocar e eu mal comi meu sanduíche. E nem você a sua gordura da cantina.
— Não é gordura — Respondo rindo — Fica gostoso quando você se acostuma.
— Valeu, tô evitando me acostumar faz tempo.
Após o sinal tocar nos separamos, mas peguei seu número novo antes de sairmos da sala.
E não consegui cumprir com o que falei para Miguel. No final da aula não o encontrei em lugar algum. Será que foi mesmo minha culpa essa discussão? Não queria que ele ficasse chateado. Não deveria ter mentido.
***
Ao chegar em casa, vejo Agatha sentada no sofá, assistindo A Noiva Cadáver. Estava no final, então não prestei muita atenção. Ela também não prestou, por que logo quando me sentei ao seu lado, se virou e me olhou séria nos olhos.
— Eu queria conversar com você sobre uma coisa...
— Pode falar — Respondo rapidamente, um pouco feliz por conseguir conversar com ela apropriadamente depois de semanas.
— Primeiro, quero te pedir desculpas por gritar com você hoje de manhã. Sei que você se preocupa comigo — Ágatha para um pouco para respirar, pude sentir a falha como se estivesse segurando o choro — Segundo, quero dizer que tem sido um pouco difícil pra mim ultimamente, o estresse da faculdade somando com alguns problemas pessoais, que eu não to pronta pra falar sobre no momento. Por enquanto, quero deixar assim, até ter certeza de tudo.
— Tudo bem, eu te perdoo. Me desculpa por ser um irmão chato também.
— Você só quer ajudar... — Ela se ajeita no sofá.
— O que você quer então? — Pergunto, tentando animar o clima.
— Não sei, só senti sua falta e quero conversar com você — Agatha sorri sem jeito, com seus olhos cheios de água — Você quer assistir algum filme e me contar como tá sua vida?
— Eu quero muito...
Ághata então me abraça, no meio do abraço posso ouvi-la chorando um pouco, mas ela para e começa a fazer perguntas sobre mim como se nada tivesse acontecido. Falo sobre as últimas semanas e tudo que aconteceu hoje até então. Naquele momento, parecia que estávamos em São Francisco de novo, conversando no sofá sobre qualquer coisa com a televisão ligada para não parecer que estamos só nós dois ali.
Perdi totalmente a noção do tempo, quando vi, já estava quase dormindo no sofá com minha cabeça deitada no colo de Ághata, mal conseguia abrir meus olhos direito. Mas, posso senti-la acariciando meus cabelos e falar que me ama antes que eu caísse no sono.
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Meu Amor Por Você
RomanceBenjamin, um garoto quieto e de poucos amigos se muda para uma nova cidade em Detroit. Na crença de que não precisava de ninguém e que ficava melhor sozinho, mesmo sabendo que lá no fundo, procurava uma conexão real que nunca havia tido antes. Em u...