10 de Agosto de 2009
Estava dormindo na manhã de sábado quando sinto meu celular vibrar perto do meu rosto. Devo ter dormido enquanto usava de novo.
— Oi? — Pergunto entre um bocejo.
— Bom dia! — Ouço aquela voz sempre animada do Daniel — Pronto pra hoje? — Ele pergunta me deixando confuso.
— O que tem hoje?
— Ben, nós estamos planejando isso a semana toda — Sua voz muda do seu tom habitual para um mais desapontado — Você, Emma e eu vamos pro parque da cidade hoje, lembra?
— Ah! Sim, claro — Respondo me levantando rápido e procurando algo para vestir — Que horas a gente marcou mesmo? Só pra confirmar aqui.
— As 8h30 Ben — Responde impaciente — Por favor, não se atrasa.
Com a roupa em mãos, corro para o banheiro quando vejo que já eram 7h55 no relógio do criado mudo. Tento arrumar meu cabelo e passo apreçado pela cozinha, pegando apenas o essencial para um piquenique a três.
— Bom... Dia — Comprimento Dante e Emma enquanto tento recuperar o fôlego.
— Tá atrasado — Emma dá uns tapinhas nas minhas costas — Uns 10 minutos.
— Dá um tempo pra ele — Daniel me defende — Você também marcou o negócio pra 8h30 da manhã.
— Não tem essa comigo, eu acordei às 5h pra correr. Não tem desculpa — Ela rebate.
— Tá gente, só vamos pro parque — Digo para encerrar o assunto que não levaria a lugar nenhum.
— Na verdade... — Emma diz nos olhando estranho — Minha mãe ligou agora pouco... e me pediu pra voltar pra casa urgente. Não foi Danny? — Ela o fita para confirmar sua, muito óbvia, mentira.
— S-Sim — Ele pigarreia — Ela ligou agora pouco, vamos se nós dois por hoje — Termina, dando um sorriso fechado.
— Vai logo Emma — Digo sem paciência e a mesma sai andando por seu caminho.
— Pelo visto somos só você e eu — Sorrio para Daniel e percebo seu nervosismo.
— Vamos lá então — Responde com a voz falha.
Depois da desculpa esfarrapada da Emma para, pelo que parece, nos deixar sozinhos. Seguimos até a entrada principal, onde um caminho de pedras passava pelas árvores do parque. Sinceramente, não sei o que aquela garota tem na cabeça. Faz uma semana que vem jogando indiretas sobre Daniel, acho ele bonito, mas nunca tentaria nada já que ele grita heterossexualidade.
Fomos até a entrada principal, onde seguimos um caminho de pedras pelas árvores.
— Eu espero que você não me mate, seja lá onde está me levando — Tento puxar assunto, já que depois daquela troca de sorriso, as únicas palavras ditas foram "por aqui" e "quase lá"
— Pode deixar — Daniel responde — O que vai te matar é a vista.
— Você vai cair na minha frente? — Alfineto como de costume.
— Seu sonho me ver no chão né.
— Você bem que queria, que eu sonhasse com você.
— Quem? Eu? — Ele gagueja — Não sei do que tá falando...
— Esse parque é grande — Tento mudar de assunto quando percebo o que não quero.
— Chegamos! — Anuncia, apontando para um gazebo.
— Um gazebo? — Pergunto pouco animado, o fazendo me olhar sério — Um gazebo, ebá! — Repito mudando o tom.
Pusemos nossas coisas no chão do gazebo. Pensei ter trago coisa demais pra alguém atrasado, mas Daniel tinha tanta coisa na mochila dele, que fiquei até com vergonha de não ter trago mais.
— Desculpa — Digo sem graça — Trouxe pouca coisa — Completo tirando alguns biscoitos e frutas da mochila.
— Que nada, você trouxe morangos — Ele diz rindo e pegando um de um pote — Eu adoro morangos.
— Não ri, eu tô falando sério — Repreendo, mas rio junto.
Ficamos então presos nesse ciclo sem fim de piadas e risadas que formávamos ao longo da semana, as piadas sempre vindas de Daniel, talvez pra distraí-lo do fato de que não sabe nada sobre mim além do meu nome e minha cantora favorita. Do meu lado da conversa só saiam alfinetadas que o deixavam nervoso, mas me faziam rir. O que será que ele pensa de mim?
Enquanto ele ria e contava mais histórias malucas, pude reparar em como seus olhos se fecham quando ri, e no jeito que seu nariz fica também. Pude notar seus dentes, que claramente usaram aparelhos, mas foram tirados cedo de mais. E uma pinta que ficava bem na ponta de sua sobrancelha. Sua voz é grossa, mas suave de ouvir, mesmo que eu seja quieto e goste normalmente de ficar sozinho, sinto que poderia ouvir ele falando a tarde inteira, como aqueles locutores de rádio que falam sobre qualquer merda chata e desinteressante, mas mesmo assim você sempre liga a mesma estação, porque as músicas que tocam são boas. Não gosto de onde esses pensamentos estão me levando.
— A comida que você trouxe é realmente muita boa — Tento criar assunto quando vejo que o silêncio novamente tomou conta do momento e a única coisa sobrando foram nossos desvios de olhar um para o outro — Você quem fez?
— Boa parte, sim, mas a torta e o suco eu só comprei mesmo.
— Deu pra ver pela sacola dentro da mochila — Digo olhando pra sua mochila aberta.
— Droga, achei que podia te passar a perna — Responde rindo — Quer fazer algo legal?
— Você acha tanta coisa legal, que tenho até medo do que você pode sugerir.
— Primeiro você levanta — Ordena e assim faço. O mesmo se levanta e dá um paço a frente, ficando tão perto que acho que posso sentir sua respiração. Por alguns segundos exito em abrir a boca, com medo do que pudesse sair. Me sinto como uma represa segurando tanta água de um rio com apenas uma grossa parede, mas que vista de longe parecia tão fina quanto meus dentes. "Por que ele está demorando tanto?" me pergunto.
Vejo-o estender o braço direito até o meu antebraço esquerdo, o tocando de leve. Logo, dá um passo para trás e diz — Tá com você! — Começando a correr em direção às árvores igual uma criança alta.
— Não vale! — Respondo alto — Você tinha que ter me avisado para me preparar! — Concluo então correndo atrás dele — Você é um crianção, sabia disso?
Corro entre as árvores, desviando dos galhos e pedras no chão esverdeado. De início, podia vê-lo de longe correndo e sempre olhando para trás, checando se eu estava perto ou não, o que não fazia sentido, já que sou muito sedentário. Um tempo se passa e começo a perceber que não estava mais na minha frente.
Paro minha corrida e começo andar pela direção que o vi pela última vez. Chamo pelo seu nome e sem resposta, continuo andando. Uso o resto de coragem restante no meu corpo de garoto covarde. Na minha mente apenas o pior pode ter acontecido: alguém o levou, ele se machucou e se sentou em algum legar ou até mesmo se perdeu e estamos ambos perdidos longe um do outro, já que eu não conheço nada nesse parque e minha volta para casa depende toda dele.
Vejo uma pequena casa no meio das árvores há alguns passos a frente, mais como um depósito ou algo assim. Vou chegando perto até entrar na área do local e avanço mais alguns passos na direção da porta, não sei realmente o que eu esperava disso, a porta está provavelmente trancada. Chego perto da porta, mas sou parado por uma mão em meu ombro me puxando para direção contrária.
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Meu Amor Por Você
RomantizmBenjamin, um garoto quieto e de poucos amigos se muda para uma nova cidade em Detroit. Na crença de que não precisava de ninguém e que ficava melhor sozinho, mesmo sabendo que lá no fundo, procurava uma conexão real que nunca havia tido antes. Em u...