Capítulo Dezenove

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22 de Dezembro de 2009

São duas da manhã e não conseguia dormir. Não parava de pensar na conversa que tive com Agatha e que ela não estava errada. Passar a vida inteira em um lugar só e de repente ter que se mudar e ainda largar o namorado? De todas as pessoas, eu deveria ter sido o mais compreensivo. Porém, ele escondeu de mim e me afastou, não me deu nem chance de ser compreensivo ou soltar a franga e matar ele. Me sinto péssimo.

Mas não posso simplesmente ligar para ele, nem aparecer na casa dele. Merda. Vou ligar.

— Daniel? — O chamo quando atende — Eu te acordei? Desculpa...

— Benjamin? — Sua voz era quebrada — Não acordou, passei o dia arrumando as coisas e decidi assistir algo na televisão.

— Desculpa pela forma como falei com você ontem. Eu fiquei puto mas não consigo imaginar como deve ter sido pra você.

— Não quero conversar sobre isso no telefone — Não deveria ter ligado, agora que não durmo mesmo.

— Tudo bem, você quer se encontrar na escola amanhã? — Sugiro, indo totalmente contra minha cabeça ansiosa.

— Nós não temos mais aula — Ouço sua risada leve e um pouco forçada, sinto que fez isso para não me deixar nervoso. Só de pensar nisso me sinto pior do que já estou — Posso ir te ver?

— Agora? — Deus, vou ter que tomar outro banho as duas da manhã — P-Pode, claro! — Eu sou patético — Mas você não vai poder subir, meus m
pais estão em casa.

— Tudo bem, me encontra na praça no caminho até minha casa? Não vai ficar tão longe para nenhum dos dois...

— Sim, sim.

Tomei um banho rápido e me agasalhei o suficiente para aguentar o frio da madrugada, mas não o suficiente para parecer uma bola de bilhar ambulante. Mas, sinceramente, roupas são a última coisa que me importavam quando não sei nem o que dizer para Daniel quando o vir. Meu Deus, o que falaria para ele? Não sei o que ele vai me dizer. E se dizer que deveríamos continuar, será que quero? Devemos terminar? Não sei se poderia aguentar um relacionamento a distância, nem sei para onde vai e quanto tempo vai ficar. Será que nunca mais o verei, não quero pensar nisso agora, mas não consigo pensar em mais nada e isso está me matando. Espero conseguir chegar lá antes de me jogar na frente de um carro.

A noite estava muito fria e as ruas estão muito vazias. Quem não estava dormindo, deve estar em alguma festa ou em algum bar se divertindo. O clima natalino já tomou conta de tudo agora tão perto da véspera, único presente que eu quero agora é acordar e isso tudo ser um sonho muito, muito, muito horrível.

Já eram três da manhã, Dante já deveria estar no parque. Merda, esqueci de perguntar onde procura-lo. Vou ter que dar meu jeito.

Entro pelo portão contrário ao que fica perto do seu apartamento. Pela sua lógica, ele está no meio do parque, para não ficar tão longe. Boa coisa que ás árvores brilham com os pisca-pisca por todo o parque, acha-lo não vai ser tão difícil quanto pensei.

Lá estava ele, mergulhado em um casaco grosso marrom claro e um cachecol vermelho vinho. Sua feição é triste mas distraída, encarando o rio artificial que passa pelo parque.

— Oi... — O pego de surpresa, quebrando seu transe — Boa noite — Sorrio fraco quando me vê.

— Como você está? — Ele sorri e se aproxima.

— Poderia estar melhor, não vou mentir.

— Desculpa o horário, mas não posso esperar mais pra falar com você. Não sabendo que você também quer conversar comigo.

— Digo o mesmo... Não ia conseguir dormir.

— Eu-- — Dizemos em uníssono.

— Desculpa. Pode começar.

— Quando eu te conheci, você que veio até mim e insistiu em ser meu amigo... Ver que você me afastou de novo hoje, trouxe de volta aquele sentimento de meses atrás e sentimentos sobre coisas que te contei sobre mim. Eu não quero que você vá embora Daniel, mas você tem que ir e não nos vejo dando certo a distância...

— Então, você acha que é melhor se terminarmos? — Ele me olha com uma cara de cachorro abandonado.

— Não agora... Ouvi que você só vai no domingo, nós podemos aproveitar o agora.

— Eu não consigo fingir que não vou te perder pra sempre em dois dias Benjamin — Dante solta enquanto se aproxima.

— Não é pra sempre, um dia nós vamos nos encontrar... Se for pra nós ficarmos juntos.

— Eu sinto muito...

— Eu também sinto...

Em um momento de silêncio, senti seus braços se fechando em volta da minha cintura e me trazendo para mais perto dele. Seu calor, o calor do seu abraço. Nunca vou esquecer essa sensação. Vou para sempre lembrar de quando éramos duas estrelas se apagando no mar de luz do parque. Prometemos fingir que nada ía acontecer, que ele não iria embora, que não estávamos prestes a desabar e que o mundo não parecia estar a nosso favor nunca. Criamos nosso felizes para sempre ali, naquela cidade em Detroit, naquela luz artificial que batia em nossos corpos, na grama congelada pelo frio.

—  O que fazemos agora? — Pergunto curioso e tentando ignorar o fato de estar completamente triste.

— Você quer ir pra minha casa? Tem muita coisa empacotada e está tudo uma bagunça mas acho que da pra ficar lá.

— Que bom, não quero ir pra casa. Posso te ajudar a arrumar o resto mais tarde.

— Certeza? Não quero te causar nenhum problema.

— Você tá me causando problemas por seis meses inteiros e agora decide não causar problemas? —  Solto em uma risada em tom irônico.

— Isso é um assunto muito delicado!
— Responde rindo também

— Tá, e agora?

— Agora eu digo que você é lindo...

— Eu sou?

— Você me fez questionar minha sexualidade por uns três meses seguidos, você definitivamente é bonito.

— O que mais eu sou?

— É inteligente, engraçado, quentinho--

— Quentinho? — Pergunto soltando mais uma risada.

— Sim, suas mãos são quentinhas — Ele diz entrelaçando seus dedos aos meus — Seu pescoço é quentinho — Continua aproximando seus lábios ao meu pescoço

— Daniel...

— O que foi? Tá frio, olha hora que estamos na rua — Comenta com sua mão segurando minha cintura — Tô surpreso que não começou a nevar ainda nessa época do ano.

E ele tinha razão, talvez o universo estivesse tentando nos separar, mas ainda sim estivesse triste. E guardava suas lágrimas pro último momento, como estou fazendo agora.

Quando chegamos em seu apartamento, subi em seu colo ao deitamos na cama encaixando minhas mãos em sua maxilar e meus lábios nos dele. Em poucos segundos já tiramos metade de nossas roupas, mas o calor apenas aumentou.

— Você tem certeza? — Ele pergunta entre nossos beijos.

— Eu acho que é melhor não...

— Tudo bem — Responde, me deitando e colocando um cobertor sobre nós.

Deixei de ser virgem a muito tempo, mas acho que tomar mais esse passo com Daniel apenas tornaria as coisas piores daqui a dois dias. E acho que ele também sentia o mesmo.

— Se soubesse que nesse ano conheceria você e te perderia, teria feito diferente — Digo, com uma das mãos acariciando seu rosto.

— Prometo que se tivermos outra chance no futuro, vou lutar com o destino para ficarmos juntos. Mas agora, acho melhor a gente dormir e aproveitar esse tempo que temos.

Meu Amor Por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora