Outonal

Capítulo 1

Aquela mulher não parava de falar.

Observei a fumacinha levantando do meu café, o meu maior vício. Levei a xícara até os lábios e dei um lento gole na bebida, a mulher em minha frente arqueou sua sobrancelha grossa e muito bem feita.

— Você está me ouvindo? — Ela perguntou com cara de poucos amigos. Suspirei, pousando minha xícara sobre o pires calmamente.

— Claro, senhora Forbes.

— Pois não parece — A mulher suspirou forte e revirou os olhos, apontando com o dedo sobre a fotografia em minha mesa. — Está vendo? Essa foto está cheia de defeitos, totalmente tremida e desfocada em alguns lugares... logo a foto do dia mais importante da minha vida! O meu segundo casamento, sabe o tanto de expectativas eu coloquei sobre esse dia e esses registros? Estou totalmente decepcionada com a senhorita. Olha só! O meu nariz, o tamanho que ele saiu nessa foto!

Nesse caso a culpa não é minha...

Suspirei, coçando a cabeça de nervoso. Quando comecei a fotografar profissionalmente, não imaginei que surgiria clientes tão complicados e difíceis de lidar.

Já faz quase cinco anos que trabalho fotografando pessoas, modelos e eventos. E bem, em todo esse tempo nenhum cliente fora tão insistente, exigente e inconveniente como a Senhora Forbes. Fotografei o seu primeiro casamento, diversas fotos e diversas reclamações, mas no final ela aceitou algumas edições na foto e as levou. Agora, em seu segundo casamento, parece impossível agradá-la. Ao meu ver, as fotos estão lindas, mas ela sempre encontra um defeito que só ela enxerga.

Estou cansada.

— Senhora Forbes, a foto não está tremida ou desfocada, é que o foco principal é a senhora e seu marido. As folhas dos arbustos floridos obviamente não recebem tanta atenção mas...

— Tudo no meu casamento merece atenção. Corrija essas fotos ou eu terei que trocar definitivamente de fotógrafo. A senhorita não trabalha mais como antigamente.

Não era nem 8 horas da manhã, como essa mulher tinha tanta disposição para chegar em meu apartamento tão cedo e falar como um papagaio de circo?

Passei a mão pelos meus cabelos curtos, tentando manter o último resquício de calma que havia em mim.

— Senhora Forbes, hoje é sábado. Entrego as fotos novamente editadas para você na segunda-feira. Não estou no meu horário de trabalho e...

— É de se esperar que uma fotógrafa com quase 5 anos de carreira tivesse ao menos um estúdio próprio, ao invés de trabalhar nesse apartamento minúsculo.

Foi a gota d'água, eu estava cansada daquela mulher.

— Pois procure outro fotógrafo para editar suas fotos, meu trabalho acaba aqui.

— Como assim? Você vai parar de fotografar é? — Ela perguntou com deboche aparente.

— Para você, sim — Dei um sorriso de lado, me levantando da minha cadeira fofa e pegando as fotos sobre a mesa. Coloquei-as dentro do pacote habitual e as entreguei para a Senhora Forbes. — Agora se me der licença, preciso sair.

Escutei mais reclamações e algumas ofensas. Suspirei, a guiando até a porta e a fechando rapidamente para não ter que escutar sua voz indignada.

Fechei os olhos com força. Minha cabeça estava começando a doer e eu não sabia quem culpar a não ser a senhora Forbes.

Caminhei até o meu pequeno e aconchegante quarto.

Observei no espelho os meus cabelos recém cortados, eu estava feliz com resultado. A Louisa de 10 anos atrás teria enlouquecido ao pensar que um dia cortaria o seu longo e brilhoso cabelo, mesmo que por uma boa causa, já que o doei para o hospital de câncer de Paris.