Capítulo 6

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— E-eu vou limpar essa bagunça e pagar por tudo. Eu sinto muito.

Eu me sentia patética em todos os níveis possíveis. Eu havia gaguejado e isso sempre acabava comigo. Eu havia gaguejado na frente dele, como nos velhos tempos.

Me abaixei e comecei a recolher os cacos de vidro do prato rapidamente. Uma maneira de tentar ignorar o que estava acontecendo em minha volta. Eu não conseguia levantar o olhar e encontrá-lo ali, aquilo me abalava.

— Moça, não se preocupa com isso, eu vou limpar. — A jovem se aproximou de mim e começou a me ajudar com a sujeira que eu havia deixado.

Escutei seus passos próximos, ele também estava se aproximando.

Nesse momento acabei cortando minha mão com um caco de vidro grande e pontudo.

— Ai! — Balancei a mão tentando de uma forma patética acabar com o ardor.

Andrew se ajoelhou ali, bem do meu lado.

—Você cresceu... — Ele sussurrou e pegou na minha mão cortada com delicadeza. — Está doendo muito?

Ele ainda se preocupava comigo. Aquilo parecia tão surreal.

Olhei em sua face. Seus olhos me olhavam com um brilho, como se o que estivesse acontecendo fosse místico. Havia barba por nascer em seu rosto e ele usava uma touca azul no cabelo, típico de um confeiteiro.

Balancei a cabeça em negação e desviei o olhar para a minha mão, que havia começado a sangrar bastante. O corte havia sido próximo do meu polegar.

— Senta ali — Andrew apontou para a mesa mais próxima. — Eu já volto.

— Isso não é nada, não precisa... — Tentei protestar.

— Confia em mim. — A maneira como ele disse aquilo, me fez concordar quase que automaticamente.

Andrew se levantou e foi em direção a cozinha.

— Eu sinto muito. — Sussurrei para Melynda.

— Está tudo bem, estou acostumada a recolher cacos — Ela me deu um sorriso gentil e logo depois piscou um olho para mim. — Eu nunca vi o chefe daquela forma.

Me levantei rapidamente e me sentei no banco da mesa mais próxima. Encarei o sangue que se acumulava em minha mão e suspirei.

Aquilo estava mesmo acontecendo?

Eu nunca sequer cogitei a ideia de Andrew um dia, ser o dono da Glass Bead Coffee. Eu não esperava que o reencontraria, muito menos aqui.

Quando ele foi embora, eu pensei que era para nunca mais voltar. Aquilo havia me machucado tanto, eu tinha me sentido tão imatura e patética por não ter dado espaço para ele se despedir de mim. Eu havia chorado enquanto via seu número me ligar... eu havia sofrido tanto por isso.

Andrew voltou e dessa vez não estava usando a touca. Seu cabelo ainda era dourado como um trigo, como na passagem do pequeno príncipe.

Liso e um pouco grande, o corte era diferente do passado. Uma mecha do seu cabelo caía pela testa, quase chegando em seu olho.

Ele estava tão bonito.

— É tão bom te ver de novo.

Dei um fraco sorriso. Eu estava muito nervosa e até tremia um pouco. A última vez que eu o vi, Andrew usava um lindo terno despojado... seus cabelos estavam recém cortados naquela época e não nos despedimos. Isso foi há 10 anos atrás.

— Já faz muito tempo — Ele murmurou, pegando minha mão e abrindo uma pequena malinha que ele havia trazido. — Eu estive te acompanhando no Instagram. Mas você parou de postar suas fotos com o tempo.

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