Capítulo 9

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O relógio marcava 2:45 da manhã, mas eu não conseguia dormir. Eu teria um encontro daqui algumas horas e a ansiedade não me deixava descansar, como nos velhos tempos.

O teto do meu quarto era uma coisa nostálgica também, eu frequentemente o encarava na adolescência, como estou fazendo agora. Noites sem dormir sempre foram presentes em minha vida, até mesmo quando eu era uma criança energética.

Ao mesmo tempo que eu estava sem sono, meu corpo parecia cansado, sem animação. Mas eu não aguentava mais ficar deitada sem me mexer, eu precisava de alguma coisa para distrair minha cabeça.

Assim que coloquei os pés na minha pantufa, um frio subiu pelo meu corpo, congelando até a alma. Rapidamente puxei minha coberta da cama e joguei sobre minhas costas. Que frio! Eu quase poderia dizer que esse era o Outono mais frio da minha vida, mas estaria mentindo.

Abri cuidadosamente a porta do meu quarto e resolvi caminhar pela casa. Eu podia simplesmente assaltar a cozinha e voltar para o meu quartinho, mas eu não estava com fome e muito menos com vontade de ir na cozinha.

As luzes não estavam completamente apagadas, algumas luzes dos grandes corredores permaneciam acesas, um costume do meu pai, que nunca desapareceu. Talvez essa fosse uma maneira de lembrá-lo aqui.

Pensei em entrar no quarto do Louis, mas isso não me atraía nem um pouco. Eu sabia que não tinha muitas coisas lá, Louis havia levado praticamente tudo para França.

Acho que o único cômodo que continuava "o mesmo" de anos atrás, era o estúdio de pintura de Louis. Mas eu sempre tinha receio de entrar ali.

Eu sabia que mamãe o visitava com frequência, mas por algum motivo eu tinha medo de encontrar ali alguma coisa que me trouxesse memórias não tão boas. Tinha coisas nostálgicas e lindas lá, mas também uma parte do nosso passado — meu e de Louis — não tão legal assim.

Respirei profundamente antes de colocar a mão na maçaneta da porta, eu era mesmo tão corajosa assim?

Fechei os olhos com força e enfim abri a porta, percebendo que esse medo não era grande coisa.

Havia pinturas, muitas pinturas. Elas estavam cobertas com panos por cima, como se estivessem esquecidas e repousadas. As que mais chamavam a minha atenção eram as 4 pinturas no centro da sala, eram as maiores, cobertas por um pano branco empoeirado.

Não haviam só pinturas no cômodo, alguns objetos antigos de Louis estavam ali, como seu toca-discos, já antigo pra época em que o usava, hoje eu posso o considerar algo mais do que vintage.

Um fraco sorriso surgiu no meu rosto, ao notar que algumas coisinhas permaneciam da mesma forma. Mas durante esses anos, óbvio que tiraram algumas coisas, limparam outras.

Notei que apenas pinturas específicas permaneciam ali, um certo medo tomou o meu peito de olhá-las.

Mas isso me atraía tanto.

Respirei fundo e puxei o pano da primeira pintura, mais afastadinha das outras.

Um sorriso enorme tomou o meu rosto.

Era uma pintura de mim, com traços simples mas extremamente linda.

Na pintura, eu estava deitada em meio a diversas folhas outonais. Meu rosto quase não era aparente, visto que meus cabelos escuros e longos da época o cobriam. Era óbvio que eu estava cochilando, minha mão direita pousada na barriga e a esquerda segurando numa mecha do cabelo. Eu tenho certeza que Louis pintou isso quando eu tinha 15 anos.

Suspirei com alegria, que pintura linda! Eu nem me lembrava mais dela. Entendo o motivo de ainda estar aqui, mamãe ama esses quadros que Louis pintava de nós.

Eu já não estava mais com tanto medo de ver as outras. Sinto que seriam pinturas tranquilas de rostos amados por Louis.

A segunda que puxei o pano era uma das típicas pinturas que Louis fazia de Cassidy, ele amava mais do que tudo pintar ela.

Sem nenhuma novidade, Cassidy Stewart sorrindo em um campo de tulipas amarelas. Eu ainda me surpreendia com a beleza natural dela.

Puxei sem preocupação, o pano da terceira pintura.

Me afastei rapidamente, assustada. Era uma pintura do meu pai, mas essa era diferente de todas as que eu havia visto antes.

Seu rosto era de completa desaprovação, representado tão bem pelas tintas de Louis que parecia que ele realmente estava ali, me olhando daquela forma.

Minha respiração começou a ficar acelerada e o medo tomou o meu peito. Que sensação horrível!

Eu queria correr, fechar aquela porta e nunca mais abri-la. Mas em vez disso, eu bati a mão com força e por impulso na pintura, que a fez cair no chão e fez um barulho enorme.

Que droga! Mamãe poderia aparecer aqui agora.

Procurei a cadeira mais próxima e me sentei ainda com a respiração descompassada. O que havia acontecido? Por que eu fiz aquilo? Por que isso ainda me afeta?

Me encolhi na coberta que me envolvia e fechei os olhos com força. Ele não está aqui, Louisa. Ele não está aqui.

Levou um tempo até eu me recuperar. Mamãe não apareceu, talvez ela não tenha acordado.

Já era hora de voltar pro meu quarto, fechar os olhos e tentar dormir.

Lágrimas começaram a descer dos meus olhos, eu realmente estava chorando por isso. Levantei da cadeira, procurando forças para deixar tudo isso pra trás.

Mas ainda tinha algo que me prendia naquele quarto. Havia uma pintura que eu não havia visto.

Suspirei pesadamente e enxuguei as lágrimas. Em passos lentos, eu enfim puxei o pano para baixo.

Olhos de oceano me acalmaram aquela noite. A pintura de Andrew jovem, seu olhar intenso e retratado da maneira como Louis o via. Apesar da ansiedade não ter cessado, o rosto retratado na pintura me causava uma nostalgia boa e me lembrava de bons momentos que tanto passei ao seu lado.

Eu conhecia aquela pintura, muito bem. Noites passei a admirando, noites surtei de ciúmes do talento de Louis, que conseguia representar tão bem pessoas e lugares, que era bom em tudo.

Eu sempre soube que Louis desejava entregar aquela pintura, mas ele nunca o fizera. Talvez quando teve coragem de fazer isso, já não estava mais tão apaixonado por Andrew. Cassidy já tomava sua mente e coração, o fazendo esquecer da antiga paixão e dos antigos momentos.

Afinal, era assim que a vida funcionava.

Coloquei o pano sobre a pintura de Andrew novamente e enfim voltei para o meu quarto.

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