— Pelo amor de Deus, Andrew! — Dakota exclamou. — Ela é apenas uma menina, quem você pensa que eu sou?
Andrew semicerrou os olhos para ele e desviou sua atenção para mim, suavizando um sorriso e me derretendo inteira. Ele tirou a touquinha que usava, bagunçando seus cabelos loiros e fazendo umas pequenas mechas caírem em seu olho. Tentei não parecer tão hipnotizada, mas quanto mais o tempo passava, isso ficava mais difícil. Lembranças da noite anterior surgiram em minha mente e não consegui esconder o vermelho que tomou meu rosto. Havia acontecido tantas coisas...
— Então... — A voz de Dakota me tirou do transe momentâneo. Ele alternou um olhar sugestivo em mim e Andrew, eu juro ter visto uma faísca de excitação em seus olhos naquele momento. — Estarei na boate hoje, como sempre. Por que vocês não dão uma passadinha lá essa noite?
Levantei as sobrancelhas surpresa.
— Parando para pensar... Nunca fui naquela boate, tanto que nem lembro o nome. — Murmurei apoiando meus cotovelos no balcão.
Andrew deu sorrisinho de lado.
— É sempre hora de experimentar novas experiências. — Disse Dakota em um tom malicioso.
Olhei para Andrew em expectativa. Parecia uma boa ir para a boate naquela noite, afinal eu estava de férias e bem que precisava me divertir um pouquinho mais.
— Você quer ir? — Ele perguntou com gentileza. Não parecia tão animado, mas estava disposto a fazer minhas vontades.
Assenti timidamente com a cabeça.
— Então vamos.
— Uii... — Dakota murmurou passando a mão pelos cabelos. — Então é assim? Vocês vão juntos para todos os lugares?
Andrew apenas deu um tapa na cabeça de Dakota e colocou a touquinha novamente pois alguém o havia chamado na cozinha.
Poucos minutos depois, notei que já estava na hora de aparecer em casa, afinal havia passado a noite fora. Me despedi de Dakota, que permaneceu ali flertando com Melynda e deixei uma mensagem para Andrew, deixando um beijo e avisando que o estaria esperando a noite para irmos na balada.
O caminho até em casa fora calmo, estava um pouco gelado mas nada tão extremo como ficava a noite.
— Lembrou que tem casa? — A voz de mamãe soou pela sala assim que coloquei os pés no cômodo.
— Bom dia mamãe, como a senhora está? — Perguntei com um sorriso amarelo, não querendo me justificar por ter dormido na casa de Andrew.
A situação era estranha, claro que era. Se bem conheço minha mãe, ela deve estar pensando nos mais diversos cenários possíveis em que eu tenha feito... sei lá o que com Andrew, enquanto na verdade só conversamos e dormimos.
Mas ela pareceu não querer insistir naquilo, apenas respirou fundo e voltou a folhear sua revista, com um sorrisinho fraco nos lábios.
— Eu costumava não gostar dele, quando Louis era adolescente — Ela murmurou com uma suposta "inocência". — Mas não posso negar que ele se tornou um grande homem.
Assenti nervosamente, doida pra deitar na minha caminha e tentar dormir mais um pouco até dar o horário de ir para balada, afinal esse seria o meu principal evento da noite.
— Tô planejando visitar o orfanato semana que vem. — Disse tirando os olhos da revista e focando o olhar em mim.
Apertei a barra do meu vestido e dei um sorriso fraco.
— Então eu também vou, as doações estão quase todas concluídas creio eu. Logo vão começa a reforma geral e as crianças terão um espaço melhor para viver.
Mamãe sorriu orgulhosa, surpresa por eu não ter dito a ela que já estava quase terminando as doações.
— Você já está terminando as doações? Você mal chegou na cidade.
— Pouco depois que cheguei resolvi enviar todo o dinheiro e conversar com a assistente social de lá por e-mail, foi tudo muito rápido e meio que era um segredinho que eu estava planejando te contar. — Sorri por ter tido êxito em esconder essa tarefa de todo mundo. — Bom, agora vou subir! Tô com uma preguiça e vou sair a noite de novo.
— Louisa, espera... — Minha mãe murmurou assim que virei as costas para subir as escadas. — Eu preciso te entregar algo que encontrei.
Ela se levantou do sofá e veio até mim em passos lentos. Suas mãos pegaram as minhas e ela depositou delicadamente uma pequena chave em minhas mãos.
No início fiquei meio perdida, mas logo me lembrei do que se tratava.
— Eu encontrei ela nas minhas coisas, creio que você tenha a jogado fora muitos anos atrás e eu acabei guardando — Disse com certa melancolia. — Ela é sua, então faça o que quiser, não se sinta pressionada a nada.
Respirei fundo tentando não demonstrar minhas verdadeiras emoções naquele momento.
Era tudo um misto de ansiedade, curiosidade, tristeza e culpa.
Eu nunca havia lido a carta que meu pai deixara para mim, antes de morrer. Eu tentei apagá-la da minha memória a todo custo, visto que me esquecia de tantas coisas, mas eu nunca consegui esquecer verdadeiramente aquilo.
Era isso o que tinha naquela gaveta trancada em meu quarto, a carta de Lewis que nunca fora lida por mim, pelo menos não inteira.
— Obrigada, mãe. — Sussurrei com um sorriso fraco antes de me virar e subir até o meu quarto.
Joguei a chave sobre a cômoda e sentei sobre minha cama. Eu não era obrigada a ler aquela carta agora, depois de tantos anos. Por mais que no fundo eu ainda tivesse um pouco de medo, eu entendia que aquela não era a hora e que o processo seria lento, mesmo eu tendo adiado tanto já.
Tentei pegar no sono e cochilar um pouco, mas falhei na minha tarefa, visto que minha ansiedade para a festa de hoje a noite estava me consumindo. Sentei na cama novamente e chequei o horário pela quinta vez naquela noite.
Resolvi que iria me arrumar um pouco mais cedo naquele dia, eu queria ficar muito linda. Por mais que minha autoestima não fosse das melhores — terrivelmente pra baixo — eu queria me esforçar para me sentir bonita e bem comigo mesmo.
Tomei um banho demorando, me certificando de ficar bem cheirosa e depilar as pernas. Quando saí do banheiro a primeira coisa que fiz foi procurar um vestido, mas eu não tinha nada que combinava com uma balada, mas eu sabia que se fuçasse mais naquele guarda-roupa velho, eu encontraria algo bem interessante.
Dito e feito! Encontrei uma saia preta um tanto quanto curta, que havia sido um presente de Cassie há bastante tempo atrás. Eu iria passar frio? Provavelmente! Mas um dia só não iria fazer mal, né?
Peguei uma blusinha preta de mangas longas, praticamente uma segunda pele e uma jaqueta preta de couro. Esse seria o meu look!
Para os sapatos, eu não tinha tantas opções assim, mas havia um coturno preto lindo, o qual eu havia usado pouquíssimas vezes e que iria combinar com a minha roupa.
Depois de me vestir, fui cuidar do meu cabelo, o qual eu já podia notar ter crescido um pouco. Resolvi tentar deixar ele mais onduladinho com um babyliss, mas eu não era muito boa com essas coisas.
Eu nem tinha maquiagem, mas resolvi me aventurar pelas coisas de minha mãe e optei por passar um batom vermelho em vez de gloss.
Quando me olhei no espelho, eu estava me sentindo muito linda. Apesar de pensar que a roupa ficaria melhor em mim se eu fosse mais gordinha, eu estava me sentindo bem com o que via e essa sensação sempre me deixaria feliz.
Já estava quase na hora de Andrew me buscar e a ansiedade já tomava o meu peito.
Aquela noite prometia.
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Outonal
RomanceLivro 2 da duologia "Irmãos Theodore". O primeiro amor da Louisa nasceu na Primavera, mas fora embora no Inverno. Após 7 anos afastada de sua cidade natal, Louisa resolve retornar e cumprir uma promessa que fora feita 10 anos atrás. Tendo que lidar...