Os corredores brancos me assustavam e durante muito tempo, evitei ao máximo estar em um hospital.
Em passos rápidos, tentei seguir Andrew enquanto ele corria pelos quartos sem sequer respeitar o aviso da recepção, que indicou que ele esperasse.
— Andrew — Chamei ainda tentando o alcançar, pois seus passos ficavam cada vez mais rápidos. — Andrew calma! Não devíamos estar entrando assim...
Ele parou alguns metros em minha frente, seus olhos estavam frios enquanto olhava para além da porta do quarto. Ele desviou os olhos e me encarou por alguns segundos, antes de entrar no quarto.
Caminhei rápido até o quarto, parando meio ofegante na porta semiaberta.
— Olá, Edwina. — A voz de Andrew tomou o cômodo que parecia silencioso antes.
Entrei com cuidado, tentando não parecer curiosa demais. Eu deveria ter ficado na recepção, eu sei, mas Andrew parecia tão afobado que simplesmente senti que não deveria deixá-lo andar por aqui sozinho, eu não fazia ideia do que ele veio fazer aqui!
— Vamos voltar para Seattle amanhã. — Uma voz feminina, madura e fria ecoou pela sala.
Quando a olhei, fiquei chocada. Ela era alta, tinha um belo corpo curvilíneo e cabelos dourados como os de Andrew. Em suas feições, haviam muitas rugas e marcas de expressão, embaixo de seus olhos, olheiras cansadas tomavam conta de seu rosto que um dia parecia ter sido belo e jovial. Engoli em seco, ela também tinha olhos de oceano, exatamente como os de Andrew.
Edwina.
Esse nome não me era estranho, eu o ouvi algumas vezes na adolescência, pelos milhares de boatos que cercavam essa pequena cidadezinha.
— Ela está bem? — Andrew perguntou aflito.
De repente, notei que ele tocava a ponta de uma cama hospitalar e nela, uma garota pálida estava deitada.
Ela tinha feições frágeis, cabelo loiro bem escuro e uma palidez excessiva. Seus olhos estavam fechados e suas finas mãos pousadas ao lado de seu corpo. Ela não devia ter mais do que 16 anos.
— Essa é mais uma da sua lista? — A mulher perguntou, seus olhos de repente pousara em mim, que estava encolhida encostada ao lado da porta.
Engoli em seco e arregalei os olhos.
Como assim lista? Eu hein...
— Não não... — Murmurei desconcertada, ao notar que Andrew a olhou com uma expressão péssima, seus olhos pareciam lâminas e naquele momento eu só quis evitar qualquer briga que pudesse acontecer. — Desculpa invadir o quarto de vocês assim, me chamo Louisa, sou uma amiga de longa data de Andrew.
Estendi a mão para apertar a dela, que apenas correu os olhos por mim e ignorou minha mão. Abaixei a maior com desconforto, me sentindo mal com aquela situação.
— Nunca mais, tá me escutando? Nunca mais trate Louisa assim, com esse desdém — Andrew disse em um tom ameaçador, pude notar seus punhos fechados sobre o colchão da cama e seu peito subir e descer. — Louisa é importante pra mim e eu não vou tolerar que faça com ela o que faz com todo mundo.
Uma risada assustadora saiu da mulher, que apenas balançou a cabeça em negação e passou a ignorar completamente minha presença no quarto.
O que diabos eu ainda estava fazendo aqui?
— Para sua informação, senhor confeiteiro, ela está bem. Mas não há a mínima condição dela continuar o tratamento aqui, você me entende? Essa cidade não tem estrutura nenhuma para pessoas doentes e eu não quero mais ficar aqui.
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Outonal
RomanceLivro 2 da duologia "Irmãos Theodore". O primeiro amor da Louisa nasceu na Primavera, mas fora embora no Inverno. Após 7 anos afastada de sua cidade natal, Louisa resolve retornar e cumprir uma promessa que fora feita 10 anos atrás. Tendo que lidar...