Capítulo 2 - O caso

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- "Clara Kahnwald, falei certo ?"

- "Sim senhor"

- "Muito bem, por favor Clara, me fale onde você estava no último domingo à noite"

- "eu... uhm estava em casa."

Clara, uma estudante do ensino médio, batia seus dedos nervosamente no copo de água. Como o toque de um instrumento desafinado, o som do copo ecoava pela sala abafada de uma forma constrangedora.

Ela não gostava de lugares apertados, principalmente da sensação de estar cercada por várias pessoas a sua volta. A presença de tantos homens velhos do seu lado em uma sala fechada trazia um grande desconforto para Clara.

O oficial se levantou da cadeira e olhou em seus olhos com autoridade.

- "Me diga onde você estava dia 2 de outubro as 6 horas da noite."

Os olhos de Clara se arregalaram, ela segurou sua respiração e ficou paralisada. Sem saber o que falar.

O homem forçou um sorriso educado, mas claramente falso e desprovido de qualquer sentimento.

- "Onde você estava no último dia que Ellen Tiedemann foi vista?"

- "Eu--... estava em casa."

- "Continue, eu quero toda a história"

- "Eu já falei. Eu estava em casa."

- "Por que você não continua? Sabemos que Ellen foi para sua casa, o que ela fez?

Clara tentou recuperar o ritmo da sua respiração, e se acalmar. Essa situação toda a deixava muito nervosa.

- "Ela me pediu o dever de física"

- "E... ?"

- "Eu mandei ela embora."

- "O que ela falou?"

- "Ela insistiu, e eu fiquei nervosa."

- "E o que você falou?"

- "Mandei ela tomar no cu."

Clara sorriu. Só de lembrar daquele momento dava uma vontade de rachar o bico. E ela iria, se não fosse pela pressão do momento e a seriedade do Oficial que a olhava com uma cara fechada.

- "Você não parece nem um pouco abalada com o sumiço da sua amiga"

Clara perdeu o sorriso no mesmo instante ao ouvir essas palavras, ela cerrou seus dentes e desafiou o oficial com olhos intensos.

- "Ela não é minha amiga"

- "Não? Seus pais disseram que ela é a única pessoa com quem você conversa."

Ao ouvir isso, o semblante da menina caiu e ela olhou para baixo.

- "Nós não somos amigas, ela simplesmente me obrigava a fazer o dever de casa pra ela, como uma empregada."

O oficial a olhou com um certo estranhamento e fez uma pergunta irônica como se para provocá-la.

- "Você fala com um certo sotaque... Sua mãe me falou que vocês são de Londres, Inglaterra não? Me impressiona você não ter amigos. Não tinha histórias legais pra contar de lá pra sua amiga?"

O ventilador arejava a pequena sala abafada. Apenas se ouvia nisso no lugar, não era um silencio constrangedor, mas sim um silencio carregado de vários sentimentos negativos. 

Clara estava imóvel e direcionou seu olhar para ele.

- "Sabe de uma coisa, oficial? Eu não me importo se ela morreu ou não. Eu odiava cada parte dela, da cabeça aos pés. Eu não suportava aquela vadia artificial, desde aquele cabelo loiro falso até o jeito irritante que ela falava."

O Crepúsculo de KahnwaldOnde histórias criam vida. Descubra agora