Capítulo 12 - Espelho, Espelho meu

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Clara olhou para a estrada onde a van havia saído, o sol estava começando a se pôr, pintando o horizonte em um crepúsculo laranja sem esperança. Ela estava exausta e ainda tinha um longo caminho de volta para a padaria de seu pai. 

Nicolas se aproximou de Clara, o olhar vazio dela ainda seguindo a direção da van.

- "Isso foi muito maneiro. Quem você acha que ela é?" - Ele perguntou 

- "Eu não sei, mas acho que ela não é uma pessoa muito boa." - Clara sussurrou 

- "Bem, ela pagou pela bicicleta e nos deu uma carona. Isso foi muito legal da parte dela."

Clara olhou para o dinheiro em suas mãos. 

- "É... Acho que sim."  

Isso não a ajudaria em nada. Não neste momento. Se ao menos ela pudesse encontrar um táxi naquela cidade pacata. Ela teria que pegar um ônibus ou, pior ainda, voltar todo o caminho a pé. E quando chegasse lá seria tarde demais. 

Ela quase podia sentir o olhar de decepção do seu pai a quilometros de distancia. Ela já podia imaginar as palavras que ele diria: 

"Nós poderíamos ter conversado sobre isso"

"Eu confiei em você e é isso que recebo em troca"

e o pior, a frase que ela mais temeria.

"Estou desapontado"

Ela continuou desenhando a cena em sua cabeça antes de ser interrompida pela voz de uma mulher atrás dela. 

- "Nicolas, por que você demorou tanto?" 

Clara se virou, e lá estava a mãe de Nicolas. 

Ela não era nada do que ela havia imaginado. Clara esperava uma mulher de meia idade com um rosto hostil.
Mas ela era uma mulher bonita e jovem, não parecia ter mais de trinta anos.

- "Ei, mãe eu fiz compras na loja". - Ele respondeu mostrando sua sacola rasgada para ela.

- "Ai, você é tão gentil. Foi ao supermercado pela primeira vez sozinho, sem nem mesmo a mamãe pedir !"

Clara ficou com os lábios caídos e as sobrancelhas levantadas, incrédula ao ouvir aquilo. 

Logo, questionamentos inundaram em sua mente. Não foi a mãe dele que o pediu para fazer as compras? Foi justamente ele que disse que era preciso, necessário fazer compras. 

Tipo, isso era pra ser o propósito de tudo que ela sacrificou, pra ajudá-lo. 

E sua mãe não parecia tão rígida quanto ele havia a descrito anteriormente. 

Clara continuou a observar a mãe de Nicolas fazendo cócegas na barriga dele.

- "Estou tão orgulhosa. Meu filho está crescendo tão rápido. Quem é o bebezinho da mamãe !?" 

- "Eu! Hehehehe." - Ele riu guinchando como um porco.

- "Vamos. Vou pedir pizza hoje à noite."

Ela sorriu calorosamente enquanto pegava nas mãos do seu filho.

- "Pizza eba!" - O garoto se animou.

Clara ficou para trás sem palavras, com a mente confusa enquanto eles se afastavam. Sem sequer ouvir uma mera palavra de gratidão. Nada além de uma despedida vazia de Nicolas.

Ele acenou para ela, olhando para trás, já distante.

A jovem mãe pareceu preocupada, quase como se só agora tivesse notado a garota. Mesmo a uma certa distancia, Clara ainda pode ouvir a mãe sussurrando para o Nicolas.

O Crepúsculo de KahnwaldOnde histórias criam vida. Descubra agora