Hoffman finalmente chegou no fim do corredor e bateu na porta, chamando pelo tenente... O toque ecoou pelo corredor, mas a porta devolveu nada mais que o silencio.
Sentindo a estranheza da situação, Hoffman decidiu não perder mais tempo. Com uma última respiração profunda, ele empurrou a porta e entrou.
Imediatamente o cheiro da miséria e do álcool o recebeu. Garrafas vazias inundavam o chão, papeis estavam empilhados e desordenados na mesa. E em meio todo aquele caos estava o Tenente desabado na sua mesa.
- "Senhor Tiedemann ?" - O jovem perito atravessou a sala em desespero.
Suas tentativas de acordar o homem foram em vão. Tiedemann permanecia alheio aos toques de Hoffman. Apesar do Tiedemann sempre ter sido um homem difícil de se lidar, ele sempre manteu um certo grau de ordem. O que não era o caso naquele momento.
De fato, naquele instante o Delegado Tiedemann mais parecia um pobre coitado que vivia à base de esmolas do que mesmo um oficial da lei.
O jovem franziu o rosto diante a desordem no escritório do delegado. A sala era digno de pena, um espelho da decadência de Tiedemann.
Um porta-retrato pequeno estava caído de cabeça para baixo no chão ao lado da mesa. Hoffman se abaixou para pegar, e ao virar viu uma fotografia antiga.
Seu peito encheu de calor apenas de ver aquela foto. Era Oficial Tiedemann, porém completamente diferente do homem desabado ao seu lado. Um homem cuja alma estava quebrada.
Ele estava mais jovem, mais feliz, sem bigode e com um cabelo bem notável.
A foto foi tirada em um parque em julho de 2012, onde ele estava com duas crianças pequenas.
Uma menina e um menino perto de uma caixa de areia. O oficial Tiedemann segurava a menina nos seus braços, ambos exibindo sorrisos alegres... exceto o menino, que estava um pouco deixado de canto na foto.
Ellen Tiedemann e Jason Tiedemann.
O pequeno Jason expressava um olhar aborrecido enquanto ele pisava em cima de um castelo de areia. Ellen, por outro lado, havia um sorriso largo, com um dentezinho faltando.
- "Minha.... estrela...." - A voz grave de Tiedemann retumbou ao lado de Hoffman.
Hoffman pulou e quase morreu de susto. Mas logo suspirou em alívio ao ver que o homem ainda estava dormindo. Tiedemann continuava a repetir "estrela" em seu sono.
A necessidade de arrumar aquela bagunça o dominou, e ele se agachou para ao menos recolher as garrafas de vidro espalhadas pelo chão.
Tantas garrafas. Como um homem pode beber tanto?
Hoffman ponderou enquanto pegava cada uma, o tilintar dos vidros ecoando na sala silenciosa.
Não vai ser álcool que vai trazer ela de volta pra você Tiedemann.
Hoffman começou a circular pela sala, tentando trazer um mínimo de ordem naquele lugar. Ele pegou um lenço e começou a limpar o chão molhado, E de repente, ele retraiu a mão rapidamente e grunhiu
- "AH ! Maldito!" - Ele quase xingou a Deus e o céu, mas ele manteu o controle na sua voz para não perturbar o silencio.
Um corte fino apareceu na pele de sua mão. Ao olhar para baixo, viu cacos de vidro espalhados no chão que ele não havia notado antes.
O que custa beber água? Hoffman murmurou para si mesmo, um pouco estressado, No máximo alguns centavos.
Hoffman segurou as garrafas de vidro com sua mão ligeiramente ensanguentada e jogou tudo no lixo.
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O Crepúsculo de Kahnwald
Novela JuvenilClara Kahnwald é uma garota de 16 anos que se muda para Austria e tem dificuldade de se socializar na escola nova. Clara não era especial e era invisível para maioria das pessoas; Ela queria ser como Ellen Tiedemann. A patricinha popular, linda, ma...