Capítulo 24 - A rainha da noite

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⚠️O capitulo a seguir contem um desses temas sensíveis:

⚠️Violência, gore, depressão, suicídio, teor sexual, assédio. ⚠️

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O cheiro da terra molhada, e o arfar das folhas em volta seguiam Clara pelo parque. Mais uma vez sozinha no mundo. Não importa o quanto ela tentasse. Suas falhas como ser humano eram a sua condenação à solidão.

Seu castigo era a dor agonizante da melancolia que queimava dentro de seu corpo. Um inferno que não tinha fim. Clara se perguntava se tanto sofrimento era castigo de algum pecado. Mas, não fazia sentido. Durante toda a sua vida, ela sempre havia sido a vítima. Era ela quem suportava o peso da humilhação, quem carregava as cicatrizes dos outros. 

Eram eles, os outros, que mereciam a culpa. Eram eles que deveriam ser ridicularizados, não Clara, que continuava a ser uma mera coitada. Ninguém nunca a entenderia senão ela mesmo. Suas dores eram ignoradas. Seus choros, silenciados. Sua alma, despedaçada.

Mas o ódio de sua própria fraqueza era ainda maior do que sua dor e tristeza. Nada havia mudado nos 17 anos desde que sua primeira amiga de infância a abandonou. Por quê? Clara nunca seria valorizada e respeitada? Será que ela não era digna de atenção ?

A chuva escorria por seu rosto. O céu estava nublado, sem brilho assim como em seus olhos. Seus sentimentos já não tinham mais conserto. Ela não havia mais energias nem para chorar. Sua mente já havia morrido, apenas seu corpo permanecia vivo em meio à tempestade.

As árvores de outono, quase despidas de folhas, balançavam sob o sopro do vento, seus galhos estalando como ossos. 

Ela apenas continuou andando sem parar, apenas seguindo em frente e o mais longe possível dali, para que pudesse escapar de tudo aquilo. Suas pernas estavam tão fracas quanto sua mente. Sua visão tão nublada quanto o temporal no céu.

E então, entre as sombras do parque, uma luz surgiu. A única fonte de calor em meio à escuridão gélida. Havia um barril queimando sob uma pequena telha, onde um homem maltrapilho se aquecia. 

Quando Clara passou, o homem a encarou. Luz vacilante da chama refletiu seu rosto cansado, destacando as rugas e os olhos profundos. E sua voz, rouca e cheia de desespero, soou

- "Sai dessa chuva mocinha. Vai ficar doente."

Clara não parou seus passos, passando reto e ignorando os avisos do homem. Enquanto ela passava por ele, sentiu os olhos dele a seguirem 

Clara se aproximou cada vez mais no fundo da área do parque. Logo a frente, havia uma escada... uma longa e velha escada, com um corrimão basicamente enferrujado. Cada degrau que ela desceu, a levava à trilha na floresta, onde tudo estava mais denso e escuro.

A única coisa que Clara desejava era se perder completamente na escuridão, onde ninguém pudesse encontrá-la.

Seria um alivio se um raio caísse em sua cabeça. Assim ela não precisaria pensar em nada. Nem ponderar muito tempo, em perguntas que ela queria descobrir a resposta. Perguntas mórbidas, do que vem depois da vida.


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Cada passo salpicou gotas de frustração pela calçada. O bairro, repleto de casas dormentes, estava deserta e escura. Nather atravessou a rua com as mãos no bolso, em passos lentos pelas poças incessantes da chuva. 

Uma sensação estranha o invadiu de repente, e avistou uma van estacionada do outro lado. Logo na mesma rua da sua casa, totalmente solitária. O motor estava desligado, e não havia nenhum sinal de movimento dentro.

O Crepúsculo de KahnwaldOnde histórias criam vida. Descubra agora