Capítulo 3 - O topo da cadeia

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- "Peço imensas desculpas pelo inconveniente dona Kahnwald. Esses casos assim são tão raros que eu nem sabia como reagir quando o Oficial veio pedir para interrogar vocês..."

As pernas de Clara ainda tremiam ao andar. O simples ato de voltar para a sala de aula se provou cada vez mais difícil. O diretor andava a frente dela sem perceber o que estava acontecendo e continuava balbuciando sem parar.

- "...Mas não tem muito o que fazer senão obedecer ele. Na verdade, esses casos de interrogatório assim são tão raros que eu nem sei se está previsto na lei o que ele fez. O Tiedemann costuma abusar um pouco as vezes."

Mais alguns minutos dentro daquela sala e ela iria desmaiar de tanto pânico. Ela simplesmente não era boa nisso. Seu estomago até tinha começado a embrulhar. Ela se sentia cada vez mais leve, prestes a cair. A tensão que ela achou que ia se aliviar com o tempo, apenas se intensificou quanto mais ela pensava sobre aquele homem, e o fato que ela conseguiu...

A simples ideia de mentir a fazia se sentir suja por dentro. Ela pôde sentir a imundice dentro dela pedindo para ser expurgado.

- "Li-cença"

Clara murmurou palavras em um baixo tom de voz quase inteligível e saiu correndo para a direção contraria da sala de aula.

- "Senhora Kahnwald, esse é..."

O diretor tentou falar algo, mas ela mal pode ouvir o que ele tinha a dizer. Ela entrou no banheiro às pressas e pegou o segundo cubículo sem nem ao menos ter noção do seu arredor e se pôs de joelhos em frente ao vaso sanitário.

- " EEUEEUUUURGHHH "

Clara se sentiu aliviada. Ela estava em um momento de ansiedade absurda. Ela estava isolada e não podia deixar ninguém ver ela assim. Ela era fraca e ela odiava isso. Se o oficial a visse nesse estado estaria tudo acabado para ela.

- "Ta fazendo o que aqui?"

Clara ouviu uma voz meio rouca atras dela, e ela se virou surpresa ao perceber que tinha mais alguém com ela. Clara entrou no banheiro com tanta urgência que nem viu onde ela estava e nem ao menos fechou a porta do cubículo.

- "Banheiro dos homens. Sabe ler não analfebata ?" – 

Ele parecia ser um pouco mais novo que ela.  Ele estava usando o mictório quando foi interrompido abruptamente pela golfada dela.

- "Já pensou em comer menos porcaria pra não ser redonda desse jeito? E não ficar passando mal no MEU banheiro ? "

- "Garoto, você nem me conhece. O que caralhos você sabe de mim?" – Clara falou ofendida, o sangue já havia subido a sua cabeça.

Se tinha algo que ela detestava e repudiava eram quaisquer comentários insensíveis sobre o seu peso.

O menino ficou quieto. Um olhar ranzinza em seu rosto. Ele subiu o zíper da sua calça, e levou uma mão até as correntes do seu bolso pra tirar um cigarro eletrônico, cada movimento acompanhado por uma sinfonia de metálica.

O tilintar das suas correntes lentamente se aproximaram até ela. Clara ficou um pouco intimidada sem saber o que ele queria fazer. 

O garoto invadiu o cubículo apertado onde ela estava enfurnada.

Ele parou por um momento para dar um trago no seu cigarro e fumegar no rosto de Clara.

- "Você não tá em qualquer banheiro de macho." - 

Ele sussurrou mostrando um canivete no seu bolso.

- "Ce tá no meu ponto de venda. Tenha mais respeito quando falar comigo ou vou te cortar em pedaços." - 

O Crepúsculo de KahnwaldOnde histórias criam vida. Descubra agora