Capítulo 23

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Na última manhã de aula, Valentina poderia dizer que estava com problemas. Não era a primeira e sequer seria a última vez que pensaria algo parecido, mas sabia que tinha um problema muito específico. Começava com uma coisa que ela não queria admitir, mas era forte o suficiente para ela não conseguir correr tão bem na direção oposta. Ela tinha uma tendência a achar que mudanças eram sempre negativas, piores e até terríveis — desde que sua mãe havia abandonado a família.

Abandonado ela.

Era uma tendência quase intrínseca, quase uma certeza. Ela estava acostumada com ela. Até que outras mudanças foram acontecendo e forçando—a a encarar a realidade de que nem toda mudança deveria ser um processo doloroso ou resultar em algo desastroso. Haviam algumas mudanças que poderiam ser boas; como a sensação de que algo bom poderia estar esperando por ela. Ou chegando até ela.

Rindo sozinha, sentindo—se uma boba, Valentina sabia que tudo era culpa dos sentimentos. Ela não conseguia explicar exatamente quais eram, ou talvez não houvessem nomes específicos, mas eram sentimentos de quem mudava por dentro. E ao mesmo tempo... Ela não queria mudar.

Mas os sentimentos sem nome eram fortes, perigosos e inegáveis.

Era como não ter chance alguma.

E então ela viu Abby e Juliana caminhando juntas, entrando pelas portas duplas da escola, rindo. Havia alguma piada que ela claramente não tinha como saber, mas elas pareciam felizes e amigas. Como sempre foram antes de qualquer confusão romântica ser envolvida.

— Não é todo dia que eu vejo vocês duas rindo sem querer se matar. O que que eu perdi? — Valentina perguntou quando Abby e Juliana pararam em sua frente, quase cercando—a em seu armário. — Do que vocês estão rindo tanto?

— Ah, eu encontrei a Juls vindo pra cá e ficamos conversando. Acho que estou tentando concertar as merdas que eu andava fazendo. Que eu fiz nos últimos meses, especialmente com ela.

— Meu nariz nem dói mais, acho que está tudo bem.

Valentina deu uma risadinha com a piada da morena. Sempre podia contar com o bom humor dela para melhorar ainda mais seu dia.

— Quero ir para as férias de verão sem peso.

— Isso é muito bom.

— Acho importante a gente encerrar o ano sem problemas. — Juliana disse, olhando diretamente para Valentina. — E não tem motivo para a gente ficar brigando. Nada vai mudar o fato de que ela é uma idiota.

— Nem que você é uma escrota.

— E tá tudo bem. — Valentina definiu, entre uma risadinha e outra.

Mais tarde, no refeitório, as três sentaram na mesma mesa. Abby estava com o lanche de casa, enquanto Juliana e Valentina se implicavam pelos pedaços da bandeja uma da outra. E de todas as incertezas, Valentina tinha uma certeza muito firme: sempre teria Abby e Juliana.

— E Lucy, Abby? O que aconteceu? Já vai contar pra gente? — Quando Valentina cutucou Juliana, a morena a encarou como uma criança que levava bronca. — O que? Eu quero saber. Ela disse que ia contar quando a gente tivesse com você.

Abby soltou uma risadinha.

— Você é muito inconveniente. — Valentina acusou.

— Você fala como se você não quisesse saber também. Não venha com essa máscara de boazinha, Carvajal.

— Eu sou boazinha.

— Mas é uma grande fofoqueira.

— Eu já pensei que queria ser Jornalista né? Então tenho um grande dever de responsabilidade com os fatos.

Written in the Stars | JuliantinaOnde histórias criam vida. Descubra agora