— Você sabia que a Alice realmente existiu?
Juliana perguntou para Valentina na tarde de domingo.
As duas estavam em seu barco, paradas um pouco longe das docas; Juliana havia colocado um cavalete para Valentina pintar, e estava aproveitando o sol de um domingo de verão. A loira estava ocupada em sua pintura, visualizava, e transformava com a ponta dos dedos, uma tela branca em um lindo retrato do espaço — ou pelo menos era o que Juliana achava.
Ela não tinha visto esboço de nada, e estava inevitavelmente muito mais preocupada em olhar Valentina; a forma como ela se concentrava, franzia o cenho, coçava o nariz e... Se sujava de tinta.
— Mesmo? — Perguntou Valentina.
Ela adorava quando Juliana desatava a falar.
— Dizem que o autor "descobriu" Alice enquanto passeava de barco pelo rio Tâmisa, no dia 4 de julho de 1862. — Valentina sorriu para seu quadro, mas estava sorrindo por Juliana. A morena não tinha noção de como sua mente trabalhava rápido. — Ele estava com um grupo de amigos, parece. Um amigo, e três crianças, entre elas... Alice.
— Ah não.
— Mas o que se sabe é que há questionamentos a respeito do fato de dois homens adultos estarem passeando de barco pelo rio com três crianças, sem a companhia dos responsáveis pelas mesmas.
Valentina começou a não gostar muito da história, apesar de apreciar Juliana contando. De canto de olho, viu que a morena se aproximava; foi até a proa e ficou sorrindo para Valentina. Assim, as duas podiam se ver por cima do quadro.
— Acontece que o senhor Lewis sempre foi muito amigo do pai das meninas e sempre confiou nele tanto pela amizade quanto por sua família e formação religiosa.
— Estou sentindo que isso não vai acabar bem.
— Talvez não. — Sugeriu a morena. — Mas parece que ele pediu a Alice em casamento quando ela tinha só dez anos. Dizem que Carroll gostava muito de meninas, você consegue imaginar? Muitos o acusavam de pedofilia. Eu li um monte de coisa a respeito.
— Ah não, Juls...
— Mas vou pular essa parte terrível e contar o que interessa, já que ainda estamos lendo Alice. — Declarou a morena, sorrindo para Valentina. — A história de Alice No País Das Maravilhas surgiu de improviso durante o passeio com as crianças, mas foi tão interessante que Alice pediu que ele colocasse no papel.
— Faz sentido.
— Até então, o nome do conto era "Alice Debaixo Da Terra". E parece, pelo que eu vi, que ele escreveu quase 20 mil palavras e entregou pra Alice. Em novembro de 1864.
— Você realmente lembra de muita coisa pra quem não consegue lembrar de matemática básica, Juls.
— É que meu cérebro só filtra o que quer. — Confessou a morena, com uma risadinha. — Por exemplo, eu lembro o que é um cosseno? Dificilmente. Mas eu lembro exatamente a roupa que você estava usando quando me contou que recebeu uma carta da sua mãe. A primeira.
Os olhos de Valentina acenderam com uma emoção profunda.
— Juls...
— Você usava aquele suéter azul com flocos de neve que não existe mais, graças a mim, infelizmente. Eu gostava dele. Mas...
— Você roubou ele uma vez.
— É. Pra você ver como eu gostava dele...
Valentina voltou a olhar para o seu quadro; precisava, de alguma forma, esconder a emoção que sentia com a fala de Juliana. De como ela lembrava. De tudo.
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Written in the Stars | Juliantina
RomanceEra um jeito de olhar diferente, nenhuma das duas tinha visto antes. Talvez por não esperar. Talvez por saber que, mesmo esperando, ainda era incomum. E o pensamento pairou por um momento, como nunca antes. E então, quando perceberam de fato, o cost...