Capítulo 1

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Provincetown, Outono de 1989



— Eu vou te dar duas opções, Valdés. — A voz soou ameaçadoramente doce e infantil. — Ou você me devolve a minha luva, ou eu vou te bater.

— Pra me bater, você precisa me pegar. — A morena disse com todo o deboche que cabia em seu corpo de seis anos. — E você, Valentina Chata Carvajal, nunca me pega.

As duas crianças começaram a correr.

Juliana foi a primeira, tentando escapar das mãos ávidas de uma Valentina que tinha os cabelos loiros enfiados na touca para proteger suas orelhas do frio. A brincadeira durou uma eternidade, ou só alguns minutos, pois a voz grave do Xerife Jacob interrompeu—as.

— Meninas, venham comer. Abby chegou.

Juliana prendia Valentina no chão com seu corpo, segurando a cabeça loira da garotinha contra o gramado gelado.

— Eu disse que você não me pegava. — Murmurou com orgulho.

Valentina derrubou Juliana no chão e subiu em cima dela.

— Você é uma idiota.

A morena deu um sorrisinho presunçoso, e colocou as mãos embaixo da cabeça. Valentina franziu o cenho, e então a morena lhe devolveu sua luva.

— Obrigada.

— Sai de cima de mim antes que eu te derrube.

Fizeram uma careta uma para a outra.

Valentina ficou de pé, e não esperou Juliana para correr para dentro de casa. A morena demorou apenas alguns instantes para aparecer na sala de jantar onde uma enorme mesa de madeira estava cheia de comida. Era o almoço de Ação de Graças, que geralmente indicava que as famílias ficariam ali até bem tarde. Era sempre assim.

Ela adorava ir pra casa de Valentina, sempre tinha muita comida.

E comida gostosa. Diferente das que sua mãe fazia.

O pai de Valentina, Xerife Jacob, cozinhava muito bem — ou pelo menos era o que Juliana gostava de pensar. E a mãe de Abby, a Senhora Hilary, fazia doces incríveis — Juliana tinha certeza de que era por isso que a moça era dona de uma loja de bolos e doces. E pães. Mas tudo o que ela sabia era que a torta de maçã dela era... Algo muito gostoso.

Sua mãe, Helena, por sua vez, cuidava das bebidas. E seu pai... A moreninha deixou seu olhar percorrer a sala para encontrar o homem barbado comentando sobre algo na televisão com a mãe de Valentina. Na sua casa não tinha televisão sem ser na sala. E seu pai era dono da televisão. Ela não gostava de televisão.

Mas gostava de assistir televisão com Valentina e Abby.

— Vem Juls. — Valentina chamou com um sorrisinho que mostrava dois dentes faltando. — Senta do meu lado, eu deixo.

Sorrindo, Juliana foi até a garota. Subiu na cadeira e se ajeitou.

Abby, Abby, a ruiva com todos os dentes perfeitos na boca, estava do outro lado de Valentina. Com os pratos de plástico de desenho animado na mesa, as três esperaram as refeições.

— Troca de prato comigo. — Valentina pediu enquanto puxava o prato de Juliana. — Você gosta mais do Ranger Azul. Eu quero ser o vermelho.

— Eu gosto do meu sendo a rosa. — Abby comentou, ajeitou os cabelos para trás, tirando a franjinha do rosto e então encarou Juliana. — Você perdeu mais um dente? — A pergunta foi feita com todo o choque de uma criança de seis anos. — Meu deus!

Written in the Stars | JuliantinaOnde histórias criam vida. Descubra agora