Juliana foi a primeira a acordar do cochilo. Não poderia chamar as duas horas de sono de uma noite de sono completa; havia abraçado Valentina a noite inteira enquanto a garota chorava em seus braços. Ela percebeu, porém, que a tristeza não era pelo fim do relacionamento — se é que fosse chegar a este fato — mas por que ela estava envergonhada por tudo. E se sentindo culpada pelo que Abby falara.
Valentina havia reforçado boa parte da madrugada que nunca teve pena de Juliana. E que sempre se sentiu mais inclinada em direção à Abby por que a garota fazia com que ela se sentisse culpada. Juliana preferia não falar sobre relacionamentos abusivos e chantagens emocionais — um assunto que ela conhecia melhor do que gostaria de admitir — por que sabia que Valentina não estava pronta para ouvir.
Mas ficou com ela até o sol nascer.
E quando o sol começou a raiar, ela se levantou da cama devagar. Se conseguisse ser silenciosa o suficiente, sairia pela janela e ninguém a veria. Não causaria nenhum clima estranho e Valentina não precisaria se sentir culpada pelo fato de ter dormido a noite inteira em seu peito. Ela estava um pouco cansada de problemas, e imaginava que Valentina também.
Tudo era muito cansativo. Ela jamais havia se importado, e nem se importaria de ser um alicerce emocional de Valentina. De ser algo como um porto de segurança para ela, ela gostava de ser assim. Gostava da amizade delas. De aparecer e fazer umas piadas idiotas. De nunca saber o que falar, mas acabar deixando Valentina confortável até no silêncio.
Ela gostava de como ela e Valentina cresceram em meio à amizade cheia de sarcasmo, implicância e, algumas vezes, até um pouco de raiva. Ela ainda achava graça das pessoas realmente achando que elas se odiavam, quando na verdade... Era só implicância. E diversão.
Abby, por outro lado, sempre havia sido uma incógnita — por falta de palavra melhor, claro. Eram melhores amigas e Juliana gostava da ruiva, mas não confiava nela. Sabia que Abby confiava nela — e tinha mais provas do que deveria ser suficiente do fato — mas jamais confiaria um problema nela. Apesar de não ser uma pessoa ruim, Abby era muito egoísta. E tudo acabava girando em torno dela. E precisava girar.
Valentina não girava em torno dela. E nunca havia girado, sequer conseguido tentar de fato, apesar do histórico dos últimos meses que comprovavem que se havia algo no mundo que Valentina tinha, era perseverância. Ela tivera todos os motivos para desistir do namoro com Abby, quase semanalmente... E mesmo assim estava lá. Insistindo.
De qualquer forma, a morena estava prestes a escapar pela janela quando a voz de Valentina lhe interrompeu.
— Você não pode estar achando que vai embora sem falar comigo.
A morena ficou parada na janela, sentada no parapeito. E encarou a loira que... Não parecia muito feliz. O que ela queria também, indo embora na calada da manhã, sem falar nada com ninguém.
— Agora estou falando. Posso ir.
— Você não quer nem tomar café?
Juliana suspirou profundamente.
— Por favor. — Valentina pediu com carinho.
Juliana saiu da janela e acompanhou Valentina até o andar de baixo. Jacob ainda não havia acordado, mas não demorou a descer. Não houve surpresa ou repreensão quando ele viu que a morena estava com eles; pelo contrário, cumprimentou—a e disse que sentia falta dela pela casa.
— Então, Juls. Como está indo na escola?
Juliana ergueu os olhos de sua garfada de panquecas de chocolate para encontrar os olhos doces de Jacob.
— No mesmo esquema de sempre. — A morena disse com um sorrisinho. Valentina bufou e chutou Juliana por baixo da mesa; a morena se rendeu com uma risada. — Eu já falei que sua filha é muito violenta? Parece um moleque as vezes, é impossível.
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Written in the Stars | Juliantina
RomanceEra um jeito de olhar diferente, nenhuma das duas tinha visto antes. Talvez por não esperar. Talvez por saber que, mesmo esperando, ainda era incomum. E o pensamento pairou por um momento, como nunca antes. E então, quando perceberam de fato, o cost...