Capitulo 9

28 5 0
                                    

S/n ON

Desde quando me entendo por gente, morava em um orfanato, era em um bairro próximo de Shibuya, onde eu moro atualmente, minha mãe me abandonou lá. Três anos depois do meu nascimento, meu pai se mudou para o Brasil, por que ele é natural de lá e minha mãe... bom, ela só queria se livrar de mim o mais rápido possível, já que ela arrumou um velho rico ou algo do tipo. Ninguém chegou a me explicar isso, eu apenas ouvia as conversas dos adultos escondida. Eu imagino que ter me deixado aqui, seria a última e pior coisa que minha mãe poderia fazer.

Depois de pelo menos três anos no orfanato, um casal foi visitar o lugar, isso acontecia com frequência, mas eu nunca prestava atenção. Mas nesse dia, esse casal se interessou por mim, as garotas diziam que era por que eu sempre estava arrumada, o que não deixava de ser verdade, eu sempre pedia para a tia Ryoko fazer penteados em mim, nem que fosse só um rabo de cavalo. Tia Ryoko era uma mulher e tanto, ela era separada do marido, tinha um filho da minha idade, mais ou menos, ela sempre falava sobre ele, ela foi a única pessoa que realmente me tratou bem naquele lugar.

Depois desse dia, o casal voltou mais vezes, sempre muito simpáticos e no horário combinado. Ficávamos na sala conversando e eles sempre me traziam presentes. Assim se foi, até o dia de me levarem para a casa deles. Se eu soubesse...

Fiquei por volta de três meses hospedada naquela casa, que mais parecia um hospício. Eu digo hospedada porque todo o tempo em que fiquei lá eu claramente não era bem-vinda.

Ele era agressivo e alcólatra. Batia nela e mal ficava em casa, eu ouvia ela chorar no quarto todos os dias, era pior do que o inferno, eu sentia pena dela, pois eu não poderia fazer nada.

Mas tudo mudou quando ele chegou tarde da noite e eu acordei com ele sentado em minha cama. Ele era bem alto e mesmo sem ter luzes acesas eu podia senti-lo e sentir sua mão em meu rosto. Comecei a gritar de desespero fazendo a mulher entrar no quarto esbravejando e o empurrando para fora.

Ele gritava coisas como: "ela estava tendo um pesadelo", "você não ouviu ela gemendo dormindo?". Não sei explicar o medo que senti, mas eu sei muito bem que eu não sonhei nada aquele dia.

Apartir daquela semana ele começou a me olhar diferente, era desconfortável e estranho, sempre me perseguindo com os olhos e me abraçando com mais frequencia, além de me dar beijos no rosto em momentos oportunos. Então comecei a dormir na cama com a minha "mãe". Uma semana depois, nossa mentora veio ver como estaria nossa "família". Por um motivo do universo e muita hipocrisia, aquele babaca estava em casa todo arrumado. Como poderia mentir tão descaradamente? A psicóloga pediu um momento para conversar apenas comigo e eu aproveitei para dizer tudo o que acontecia.

Assim que fomos para um ambiente reservado eu contei tudo à ela. A mulher ficou horrorisada, mesmo sem expressar reação, ela chamou minha "mãe" para conversar e pediu que o homem continuasse na sala. Eu repeti cada palavra do meu relato, foi dificil dizer na frente dela, já que ela estava à um segundo atrás ao lado do homem, fingindo total harmonia. Enquanto eu relatava, ela começou a chorar, concordando com todas as minhas palavras.

"Eu quero devolver a S/n", ela pronunciou as palavras em meio aos soluços e aos prantos. Mesmo não querendo ficar mais nem um segundo naquela casa, ouvir ela dizer que queria me devolver foi um soco no estômago. Estava me sentindk rejeitada pela segunda vez. Mas porque? Por que aquilo estava acontecendo comigo de novo? Mesmo me pedindo perdão, não olhei nos olhos da mulher, não fui capaz de perdoa-lá naquela hora.

Quando voltei para o orfanato tudo parecia ter mudado, como tudo na minha vida. Quase ninguém falava comigo. O fato de eu ter sido devolvida só me prejudicaria aos olhos dos próximos tutores que estariam interessados em adotar uma criança. As garotas me ignoravam, os meninos riam de mim. A não ser pela Tia Ryoko, todos viviam suas vidas, como se eu não existisse.

 S/n  ◇ Caminhos Cruzados ◇Onde histórias criam vida. Descubra agora