Naquela noite, após um jantar conturbado, as gêmeas, May e Mayrin, separaram-se do restante de seus irmãos, traçando um caminho distinto. Enquanto os outros se dirigiam ao leste, rumo ao corredor de espelhos e ao Salão do Trono, onde depois subiriam aos seus aposentos, elas sentiram o chamado do ar livre e da vastidão que só a noite estrelada poderia proporcionar. O oeste era seu refúgio e, como uma brisa que flui suavemente entre os galhos, elas se dirigiram para aquele lado, buscando a paz que somente o luar e as estrelas poderiam oferecer.
Ao cruzarem o pórtico, seus passos suaves acionaram as luzes que se acendiam em sequência, projetando sombras delicadas no mármore polido. A cada avanço, a luz refletia em seus olhos azuis, tão profundos e brilhantes quanto as safiras mais puras, herdadas de sua mãe, Ayumi. Esses olhos, que brilhavam como se carregassem o cosmos dentro de si, capturavam e devolviam a luz, criando uma dança entre elas e o mundo ao seu redor. À medida que avançavam, as luzes atrás se apagavam, deixando um rastro de escuridão, como se o universo reconhecesse que elas pertenciam à luz e não às sombras.
Os passos ecoavam suavemente pelo chão de pedra, até que, diante das escadarias de mármore que conduziam à passarela, elas hesitaram por um breve momento. Naquele instante, o silêncio entre as duas era quase sagrado, e a noite, que antes parecia distante, envolveu-as em seu abraço sereno. Lá fora, o céu estrelado surgia imponente, roubando o espaço que antes era limitado pelo teto do palácio. As estrelas cintilavam acima como testemunhas eternas, e a lua, em sua majestade, derramava seu brilho prateado sobre a passarela que se estendia diante delas.
Para qualquer outra pessoa, aquele espetáculo celeste seria apenas mais uma noite de beleza incontestável, mas para Mayrin e May, era algo infinitamente mais profundo. As estrelas e as luas não eram apenas pontos de luz no céu; para Mayrin, elas representavam o próprio fôlego de vida. Ela as observava com uma obsessão quase reverente, como se, a cada cintilar, o cosmos estivesse sussurrando seus segredos diretamente para ela. O desejo de abandonar o solo e tocar o azul-cobalto da madrugada, de se fundir com o universo que tanto admirava, ardia dentro dela com uma força quase incontrolável.
May, por sua vez, compartilhava do mesmo anseio. Para ambas, as luas e as estrelas eram mais que um espetáculo distante; eram a fonte de seus poderes, o pulsar de suas essências divinas. Elas sonhavam, em segredo, com o dia em que poderiam deixar Sóya para trás e seguir em direção àquele céu infinito, onde poderiam tocar as estrelas e se unir ao firmamento que as chamava.
As duas desceram as escadas em silêncio, seus passos quase flutuando no mármore frio. A noite, agora mais escura, envolvia-as com uma paz melancólica, como se o cosmos soubesse de seus desejos mais profundos e, por um momento, as tivesse acolhido em sua imensidão. As estrelas cintilavam acima, e a lua, cheia de mistério, iluminava o caminho que as conduziria à passarela. Aquele era o espaço que elas ansiavam alcançar, onde poderiam deixar para trás a rigidez do palácio e abraçar a liberdade que o universo oferecia.
Com os olhos voltados para o céu, ambas caminharam até o meio da passarela, onde pararam para admirar com calma a beleza da noite que tanto as fascinava. Com as mãos apoiadas no balaústre da passarela, permitiram-se respirar o ar puro que emanava da floresta, que se estendia em silhuetas escuras diante de seus olhos.
— Tá pensando em quê, May? — Mayrin quebrou o silêncio entre elas. — Do nada, seu semblante mudou. Tá tudo bem?
— Fisicamente, estou bem — respondeu, virando o rosto para Mayrin com um suave e doce sorriso.
— Não foi isso que perguntei — disse, acariciando o rosto pálido da irmã. Seu semblante, ao dizer essas palavras, foi de grande preocupação. Isso a induziu a ir mais fundo em seus questionamentos. — Você está bem fisicamente… Mas e mentalmente?
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Kronedon - O Ciclo Ancestral [1° Livro Da Saga Ancestral]
RomanceAyumi é uma deusa bondosa e muito poderosa, que vê sua vida ser abalada após selar um acordo com um fantasma de seu passado que não lhe deixou alternativa a não ser aceitar. Entre as condições do acordo estava a de ser mãe dos filhos de seu pior ini...