Capítulo 4

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À NOITE

Lucero nem percebeu quando adormeceu e se acordou de madrugada, olhando para o próprio corpo e vendo que ainda estava com a roupa molhada da chuva. Ela se levantou rapidamente e tratou de ir tomar um banho quente para evitar ter um resfriado. Depois de vestida, ela não conseguiu mais dormir e saiu do quarto, pronta para ir à cozinha, mas parou quando viu Manuela entrando na ponta dos pés com os sapatos nas mãos para não ser pega. Ela não ligava que a filha vivesse em festas, já tinha desistido de mudá-la naquele aspecto, mas se ela estava chegando tão tarde e escondida àquela hora, alguma coisa errada tinha.

− Manuela? Está chegando agora, minha filha?

Manuela fez careta antes de se virar para Lucero com um sorriso forçado. Ela já tinha passado da fase de dever explicações à mãe, mas também não gostava quando era flagrada chegando tarde, não que tivesse muita coisa errada para fazer naquele fim de mundo.

− Ah, oi, mãe. Pois é, acabaram chegando uns amigos meus e nós acabamos perdendo a hora. – Manuela falou com um sorriso amarelo.

− Sei. E eu conheço esses amigos? – Lucero ergueu a sobrancelha.

− Eu acho que não. Ehhr... Eu vou dormir, estou exausta. – Manuela coçou a nuca.

− Boa noite, minha filha, dorme bem, Deus te abençoe. – Lucero se aproximou para fazer o sinal da cruz em Manuela e lhe dar um beijo, mas ela se afastou.

− Boa noite. – Manuela fechou a porta do quarto na cara de Lucero.

Lucero suspirou. Manuela nunca fez questão de se aproximar muito, se lhe dava um abraço era apenas nas datas comemorativas. O que ela sabia da vida da filha era quando arrancava alguma informação dela e mesmo assim só recebia respostas vagas, logo quando ela mais precisava de desabafar e de um carinho de filha, mas também se falasse sobre Fernando a Manuela, seria bem capaz da menina se revoltar mais, já que também sempre desejou manter a memória de Manuel viva. Ela pensava se Luna seria como ela se estivesse crescido em casa, se ela também teria problemas em conviver com a mãe, o que Lucero duvidava muito, já que sua bebê sempre foi mais apegada a ela que ao pai. Lucero foi à cozinha e abriu a adega, tirando um copo e uma garrafa de vodka. Ela não bebia tanto, mas às vezes na calada da noite, usava do álcool para afogar as mágoas. Liliana ouviu o barulho, já que dormia próximo à cozinha, e foi até lá, encontrando a patroa se servindo da bebida.

− Dona Lucero, posso ajudar em alguma coisa?

Lucero se virou e encontrou Liliana vestida de roupa de dormir, a olhando preocupada. A vida tinha dessas, enquanto Manuela que era sua filha não se importava com ela, ali estava sua mais recente funcionária fora do horário de trabalho se dispondo a ajudá-la no que fosse. De repente, ela sentiu vontade de desabafar com quem ela sabia que a escutaria e ainda era neutra na história, portanto daria uma opinião sincera.

− Pode, senta aí. – Lucero falou, se sentando em um banquinho do balcão da cozinha.

Liliana fez o que Lucero pediu, estranhando. A mulher sempre foi uma pessoa muito legal com ela e todos os outros funcionários, mas daí a convidá-la para se sentar no lugar onde só ela e Manuela ficavam era um pouco demais.

− Você quer uma dose? Você é maior de idade, não é? – Lucero perguntou.

Só então Liliana percebeu que Lucero ainda se servia de bebida e sabia que daquele jeito que ela estava, com o rosto inchado e os olhos vermelhos, o álcool só a aliviaria na hora, mas depois seus problemas viriam dez vezes mais fortes com a ressaca.

− Sou sim, mas eu não costumo beber, obrigada. – Liliana passou a mão no rosto, sem graça. – Sabia que eu conheço algo melhor que isso para acalmar? A senhora sabe, com isso aí vai se acordar com dor de cabeça.

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