Uma Nova Chance

Capítulo 33

DIAS DEPOIS

As coisas não estavam fáceis. Desde que Manuela se foi, Lucero não tinha mais uma vida normal, não se alimentava bem, só dormia com a ajuda de medicamentos e só se levantava da cama com a ajuda de Fernando ou Liliana que se revezavam para cuidar dela e da fazenda. Nem mesmo para o enterro da própria filha, ela conseguiu ir e no final, sua outra filha e seu marido acharam melhor para que ela não sofresse ainda mais. Naquela noite, estavam todos no quarto tentando fazer com que a mulher comesse enquanto ela tinha mais uma crise intensa de choro.

− Come um pouquinho, menina, é a sopinha da Nita que você gosta tanto. – Benita falou, mexendo a sopa no prato com a colher.

− Eu não consigo. – Lucero soluçou. – Filha. – ela segurou a mão de Liliana que estava sentada no canto da cama. – Você me perdoa por não estar sendo a mãe que você precisa? Eu não quero perder você também. – ela falou entre soluços.

− Não fala assim, mãe, por favor, eu sempre vou estar com você. – Liliana beijou a mão de Lucero e enxugou o rosto dela.

Liliana encarou Benita e Fernando que estavam bastante preocupados com Lucero. Estava bem claro que ela não sairia daquele luto tão fácil, mas se bem conhecia a mãe, muita gente naquele quarto não a ajudaria em nada por mais boas intenções que houvessem.

− Vocês podem nos dar licença, por favor? Acho que precisamos ter uma conversa de mãe e filha. – Liliana falou, pegando o prato de sopa das mãos de Benita.

Benita e Fernando suspiraram. Realmente desde antes de saber quem era Liliana de verdade, Lucero só conseguia desabafar com ela e quando descobriu que a moça era mesmo uma das pessoas que ela mais amava na vida, aquela ligação entre as duas só aumentou.

− Claro, se precisar da gente é só chamar. Fica bem, amor. – Fernando segurou o rosto de Lucero e beijou sua testa para logo em seguida fazer o mesmo com Liliana.

Fernando esperou Benita também se despedir de Lucero e Liliana e saiu com ela, desejando que a enteada conseguisse nem que fosse um progresso para a recuperação da mulher. A moça se virou, mas não a encarou, continuou olhando para suas mãos unidas e ouvindo o choro da mãe.

− Eu posso imaginar o quanto está difícil para você suportar tudo isso, primeiro foi o meu pai, depois eu por longos quinze anos e agora a Manuela, mas, mãe, você está viva. – Liliana enfatizou, finalmente levantando a cabeça e olhando nos olhos de Lucero enquanto segurava seu rosto com uma mão. – O Fernando te ama e eu sei que você sente o mesmo, desistir de si mesma seria fazer o mesmo com o seu relacionamento e se tem alguém que merece ser feliz nessa vida é você. – ela respirou fundo. – Eu também estou aqui, eu preciso de você porque não estamos nem perto de recuperar os anos perdidos. – ela falou com a voz embargada.

Lucero apenas chorava ouvindo tudo. Ela sabia que uma hora precisaria ser forte, pois tinha jurado que nunca mais descuidaria da sua família, o problema era descobrir por onde começar, já que parte do seu coração tinha morrido com Manuel e ela não sabia como ou o que fazer para não deixar o que tinha sobrado de si mesma ser enterrado com Manuela.

− Eu queria muito poder fazer isso por você, minha filha, mas quando eu penso que nunca mais vou conseguir estar com vocês duas juntas, tudo dói dentro de mim, eu sonhei tanto com isso. – Lucero falou entre soluços.

− Eu sei e sei também que você nunca mais conseguirá ser a mesma, mas deixa o tempo amenizar essa dor. – Liliana se sentou ao lado de Lucero e a abraçou, colocando uma mão em seu coração e a outra no cabelo. – Você já fez isso antes e agora não estará sozinha, a sua família está aqui e quando você pensar na minha irmã, pense que ela se foi provando o quanto amava você como nunca fez antes porque a última coisa que ela me falou foi para te salvar e agora ela quer que você viva e seja feliz, assim como o papai sempre quis.