Capítulo 17

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A refrescante essência de sândalo era fria e limpa. Ainda que não fosse algo sentimental, tinha sua própria maneira de tocar o coração das pessoas. De fato, não era nada sentimental. Um almoço em família, pode ser que em muitas residências de Joseon um almoço em família é sim algo sentimental, mas quando se trata da família real, tem tudo, menos sentimentos sinceros. E ali estava Jisung, sentado ao lado de Seungmin, rodeado de pessoas que pouco se importavam com eles, apenas fingindo ser uma família unida. Um deles eram responsáveis pela morte de um membro da família real, mas quem poderia ser?

— Príncipe Han, está nos escutando?

A atenção de Jisung foi chamada por Gyeo-wool, segunda irmã do rei Yejun. Assim como o significado do seu nome, a princesa Gyeo era fria como o inverno, conseguia congelar qualquer clima bom que estava entre a família. A típica tia que odeia o sobrinho e sempre o humilha para se sentir superior. E o alvo dela com certeza não era Seungmin, visto puxar sempre saco do rei.

— É claro que ele não está nos escutando, o garoto sempre se acha o melhor, o superior. Cuidado Seungmin, nunca se sabe quando Jisung irá tentar roubar seu trono. — Gyeo falou mais uma vez, mas agora sua voz tinha um tom debochado.

Realmente não havia escutado o que a mais velha falou, estava distraído com a fragrância do sândalo. Mexeu sua colher no caldo de Samgyetang, o caldo da canja era tão denso que dava para esconder alguma coisa dentro dele. É, estava ignorando a princesa Gyeo, não queria falar com ela, escutar o que ela tinha a falar sobre Jisung, se ele era muito exibido, egocêntrico, que queria aparecer, o que for.

Assustou-se quando uma mão bateu na mesa, a canja caiu sobre o seu hanbok. Levantou-se surpreso, e por estar se queimando com o caldo quente em seu corpo, olhou para frente e pode ver o sorriso sínico de Gyeo-wool. Se afastou quando as servas correram para pegar o prato e limpar a sujeira que estava a almofada de Han.

— Acho que a partir do momento em que uma pessoa não lhe responde, significa que ela não quer falar com você. — Finalmente, Jisung dirigiu a palavra a alguém naquela sala que não fosse Seungmin ou os servos.

— Seus pais não te educaram, garoto? — Começou.

Jisung revirou os olhos. Mais uma vez a mulher ia falar sobre seus pais. Mais uma vez iria ser humilhado. Han respirou fundo e fechou os olhos.

— Acho que se eles ainda estivessem aqui, você seria como Seungmin. Por que não para de pensar apenas em você? — A princesa apontou o dedo para Jisung.

— Por que a senhora não vê a própria educação? Meus pais não tiveram a chance de me educar até a vida adulta, mas pelo menos consigo ser mais educado que você. — O príncipe cuspiu as palavras no rosto da mulher com um sorriso debochado.

A reação da princesa não foi nada boa. Seu olhar mudou de deboche para raiva, iria explodir a qualquer momento, e Han queria que ela explodisse de forma literal, não jogando as palavras de desgosto em si como sempre. Na primeira vez em que se sentou nessa mesa, no dia seguinte da morte de seus pais, Jisung recebeu olhares de repugnância de Gyeo-woo e, às vezes, ela mandava certas indiretas direcionadas a Jisung, sobre o modo como se comportava. Como se fosse mais superior do que um príncipe de uma dinastia enorme e próspero. Han não entendia o porquê o rei nunca a colocava em seu lugar, como se Jisung não fosse nada. E talvez seja.

— Sabe o que eu acho? — Gyeo-woo arrumou o laço de seu hanbok rosa antes de terminar a falar. — Acho que você mereceu perder seus pais naquele outono.

Levantou o olhar ao perceber a frieza no tom de voz de Gyeo, estava espantado com o quanto ela pareceu pouco se importar ao falar daquela forma, ainda mais com seu sobrinho, em meio a um jantar de família. Jisung cerrou os dentes por conta da tamanha arrogância na voz de Gyeo, com tamanho desprezo, como se esperando que Han ficasse chocado e humilhado. Não iria lhe dá esse gostinho. Como uma princesa podia ser tão ruim com aqueles da própria família? Devia ser ao contrário, ela devia ser educada e respeitá-los.

Estava completamente impressionado com seu ataque de "verdades". Mal havia começado o almoço e já estava causando problemas, ser a princesa perfeitinha não a dava o direito de tratar os outros mal, ainda mais quando fazia anos o acontecimento. Houve um longo silêncio, Jisung continuava de pé respirando profundamente e olhando para a princesa que um dia o tratou bem. E esta mulher a olhava de volta ainda sem expressão alguma e com o maxilar cerrado. Até que o silêncio foi quebrado, mas não por nenhuma palavra das dez pessoas, contando com o príncipe, presentes na mesa, por uma tosse vinda do rei.

Os presentes da sala os observavam catatônicos, o que acabou de acontecer, o único que não parecia surpreso era Seungmin que apenas desfrutava do seu almoço, seu rosto inexpressivo, sereno e calmo, como se não estivesse acontecendo nenhuma briga, ou que a mulher não iria voar no pescoço de Jisung a qualquer minuto. Entretanto, Han saiu deixando todos para trás.

Dava para sentir o coração de Han pulsando, mordia o interior da boca tentando conter a ansiedade. Caminhava pelo palácio que ficava entre o pico Maebong, Bugaksan nas costas e Rio Geumcheon. Os edifícios em Changdeokgung são dispostos de forma mais livre sem um sistema regular. Embora sua estrutura pareça caótica à primeira vista, todos os edifícios estão em harmonia com o ambiente que os cerca. E isso acalmava Jisung, mesmo que só um pouco. Onde estava Felix? Jisung não sabia, o que o deixava mais nervoso ainda. Seus passos eram apresados, passou pela Ponte Geumcheongyo, estava ciente que Minho o seguia, mas naquele momento, tudo o que queria era encontrar Felix e conversar com ele, demonstrando a raiva que estava em seu coração, já que o eunuco era o único que entendia a situação em que estava.

[...]

Estava escorado no pilar do pavilhão Buyongjeong, o vento batia em seu rosto deixando suas lagrimas secas. Sempre que se lembrava daquele outono, Jisung ia ao pavilhão no meio do lago para chorar, mas como consequência do vento que fazia lá, suas lagrimas não saiam, o que virou um vício do rapaz que frequentou o local para evitar as lagrimas.

Mas diferente das últimas vezes, Han não conseguiu despistar o oficial que o acompanhava, e agora, estava ao máximo tentando não demonstrar fraqueza na frente do homem. Tirando estar acompanhado, outra coisa estava diferente. Escutar da própria família que havia merecido perder os pais mexeu com o príncipe, era a primeira vez que escutava palavras tão cruéis saindo da boca de Gyeo. Todas as outras palavras que já saíram da boca dela não eram nada se comparasse com essas que escutou. Jisung de repente sentiu como se não pudesse respirar. Em seu peito uma dor terrível rasgou seu coração. Jisung inconscientemente agarrou seu peito esquerdo, amassando seu hanbok azul. Escutou o homem atrás de si, dar um passo mais perto. Normalmente Jisung teria recuado, mas desta vez descobriu que não podia. Ele só podia dobrar dolorosamente. Em seus ouvidos as palavras "Mereceu", "perder", "pais", esses tipos de palavras ecoavam repetidamente.

Era tão doloroso que sentiu as lagrimas quentes descerem por sua bochecha. Caiu ajoelhado no chão, se contorcia de dor enquanto tentava respirar, mas a cada suspiro profundo, parecia que espinhos estavam rasgando seus pulmões. A voz do oficial se fez presente no lugar, as mãos grossas do jovem o rodearam em um abraço forte, seus braços ficaram parados no ar, sem saber para onde ir, não sabia se o abraçava de volta, ou se apenas ficava ali esperando o momento em que iria voltar ao normal. Jisung estava tão imerso a dor, que nem se importou com o contato tão íntimo do oficial, queria apenas se livrar de toda aquela dor que estava sentindo. Em forma de tentar aliviar-se, o príncipe retribuiu o Lee e o apertou escondendo seu rosto nas roupas do oficial. Seus soluços ficaram mais fracos e subitamente ele se segurou em Minho. Suas mãos o apertaram com força e ele começou a chorar de novo, dessa vez com um colo para deitar-se. Aquele era o contato mais próximo que tiveram, Minho acariciou as costas de Jisung deixando que suas lágrimas molhassem a sua roupa. Era irônico pensar que ele estava chorando por tudo que aconteceu na sua vida ultimamente, e no colo de uma pessoa que conhecia a menos de dois meses.

Quando ele voltou a respirar com mais facilidade, Minho tirou suas mãos dele com cuidado e o afastou para olhá-lo nos olhos. Tinha o rosto inchado e vermelho, mas ainda continuava lindo. Era a primeira vez em oito anos que chorava daquela forma, e era a primeira vez desde a morte de seus pais que tinha um alguém para acalmá-lo.

Oi oi, florzinha. Como estão? Um feliz ano novo para todos, que 2023 seja perfeito.

O que acharam do capítulo? Me deem um feedback, comentem e votem, se quiserem, podem me cobrar atualizações, essas pequenas coisas me motivam bastante a escrever.

Muito obrigada por acompanharem a história, e este é o primeiro capítulo de 2023, iniciando-se uma saga incrível.

Um beijo da Favi!

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