Estudando a história e características de um novo cliente, Simon interfonou para a mesa da recepção, necessitando de um café para aguentar o cansaço. Após três toques sem resposta desistiu. Supondo que Cherry estava a serviço de Gabriel, não querendo esperar, foi para a copa.
Ao entrar teve uma grande surpresa. O choque deu lugar à incredulidade, depois irritação e por fim, divertimento. A mariposa caíra de boca na lamparina.
Limpou a garganta, mas o casal não parou a sessão de amasso, aumentou o som até ser notado. Cherry foi a primeira a reagir, afastou-se de Nathaniel e ajeitou a roupa e o cabelo com mãos nervosas.
— Senhor Simon em que posso ajuda-lo? — perguntou, fingindo que não fora flagrada atracada com um cliente.
— Um café — respondeu entrando no jogo.
Nathaniel olhava desnorteado ao seu redor, qualquer ponto, menos Simon, escorado na parede, e Cherry, se atrapalhando com a máquina de café.
— Haverá reunião hoje? — o moreno perguntou com um sorriso de canto. — Não fui informado.
— Eh... Tamara marcou para falar do slogan...
— Marcou nesse andar?
— Não... Na sala dela... — respondeu relutante, pois Tamara ocupava uma sala no andar de cima, em que ficava o setor de criação e o estúdio. Sem graça, Nathaniel levou o relógio de pulso à altura dos olhos e gemeu. — Estou atrasado na verdade. Se me derem licença... — Saiu apressado da copa sem olhar para trás.
Simon observou Cherry, com mãos trêmulas, acomodar na bandeja o pires com a xícara de café. Ao terminar ela virou e arquejou ao perceber que ele continuava no mesmo lugar.
— Já levo na sua sala — disse de cabeça baixa.
— Beberei aqui.
Aproximou-se e pegou a xícara de café.
— Senhor... Desculpe-me...
— Não é a mim que devem desculpas.
Ela gemeu constrangida.
— Não foi proposital... Nós... Aconteceu...
— Hum... — Terminou sua bebida e pousou a xícara na pia. — Se quiser sair com Nathaniel, ou qualquer outro cliente, por mim tanto faz, sua intimidade é problema seu. Mas um conselho: Seja discreta e evite se expor no local de trabalho.
— Sim, senhor.
~*~
Gabriel passar em sua sala era comum, porém, sentar a sua frente e encara-lo em silêncio era desconfortante. Salvou o documento em que trabalhava, empurrou o notebook para o lado e devolveu o olhar com desconfiança, aguardando a resposta para a presença dele ali.
— Nathaniel me contou sobre Cherry e você.
— Cherry e eu? — Entrelaçou as mãos sobre a mesa. — Exatamente o que ele contou?
Gabriel pigarreou e se remexeu em sua cadeira, visivelmente desconfortável com o assunto.
— Que você viu uma situação delicada envolvendo a Cherry.
— Esse é o nome agora?
— O nome é esqueça — respondeu com frieza. — Ele agiu por impulso, está arrependido e comprometeu-se a evita-la.
Simon encostou-se em sua poltrona.
— E você acredita nisso?
— Não importa. Nathaniel quer esquecer — refutou, acrescentando em seguida — e nos convidou para um happy hour após o expediente.
— Hum...
— Você vai e evitará o assunto Cherry.
— Pensei que abominasse traições.
— Abomino. No entanto, acredito no arrependimento de Nathaniel. Ele ama a noiva e teme perde-la por causa desse... impulso.
— Por isso, ele quer que eu vá nesse happy hour e garanta que não contarei nada.
Gabriel assentiu.
— Eu não diria. Não por Nathaniel, mas por Paulina. — Gabriel o encarou intrigado, ao que Simon completou com desdém: — Empregada deprimida e chorosa não trabalha bem. — Omitiu que mesmo se contasse Paulina não acreditaria. Ele, Simon, era o cafajeste, Nathaniel era o príncipe encantado, apaixonado por sua princesa... Pelo menos enquanto não aparecesse uma lamparina para transforma-lo em uma mariposa serelepe. — E a Cherry, como fica nessa história?
— Como antes. Nathaniel se afasta, ela percebe que não haverá nada entre eles. Fim.
Simon deu de ombros. Se Nathaniel queria fingir que seu relacionamento estava bem, quem era ele para se opor? Simplesmente não tocaria no assunto.
~*~
Falar era fácil, fazer que era difícil, concluiu enquanto Nathaniel afogava seus dramas no copo de bebida e nos seus ouvidos.
— Paulina é linda, compreensiva, perfeita em todos os sentidos. Ela me ouve, apoia e me faz sentir especial e necessário, mas, ao mesmo tempo, é fria e se esquiva de mim — lamuriou-se embriagado. — Nunca me importei com isso antes, entendo as reservas dela, mas agora sinto que somos mais irmãos que um casal. — Sorveu mais uma dose de seu copo. — A amo, disso não tenho dúvida. Talvez, se ela fosse mais calorosa comigo, eu não desejasse outra...
Cansado da ladainha do Muller, Simon se segurava para não zombar dele, e isso em consideração a Gabriel, para "socializar" com o cliente como o sócio queria. Mas o choramingo de Nathaniel lhe dava dor de cabeça. Colocar a culpa na noiva era a saída fácil, porém inútil e idiota como Nathaniel.
— Não deveria pensar e nem beijar outra estando noivo da Lina — Nathaniel resmungou.
— Deveria aproveitar enquanto ainda não casou — Simon aconselhou tomando seu uísque em um só gole. — Se fosse você provaria do fruto proibido. — Lançou ao Muller um sorriso de canto acrescentando conspiratório — Ninguém saberá se você não contar.
— Simon não quis dizer isso — Gabriel interpôs apressadamente.
— Simon quis dizer exatamente isso — revidou, fazendo um gesto para o garçom encher seu copo novamente. — Cherry é gostosa e está atraída por você, pelo que vi não será difícil leva-la para cama. Fodam um dia todo e, com sorte, você consegue remove-la dos pensamentos.
Nathaniel desviou o olhar para o copo e Simon revirou os olhos. Afinal quem seria a mulher naquele casamento? Estava com tesão reprimido e culpa por desejar outra? Simplesmente fode-se sua noivinha e acabasse com seus ataques de lamurias. Paulina podia ser tímida, retraída e tantos outros defeitos que gelariam a alma de um homem, mas, definitivamente, tinha um corpo atraente. Lembrou-se do pouco que vira dias antes, as costas nuas, alvas, que levavam a cintura fina, sua pele devia ser macia ao toque. Tomou de um trago toda a bebida, o fogo em sua garganta não removendo os pensamentos inconvenientes.
Pediu outra dose, ignorando o olhar atravessado de Gabriel. Estava no maldito bar, forçado a socializar com Nathaniel e consola-lo por trair a noiva, ficar bêbado era o menor dos problemas e ajudava a tolerar a situação.
Nathaniel levantou de repente.
— Tenho que ir.
Gabriel esperou Nathaniel sumir de vista para repreender o sócio.
— Tem noção que aconselhou o Nathaniel a trair a Paulina? — questionou com reprovação. — Sei que possui alguma espécie de discórdia com o Nathaniel, mas Paulina trabalha para você, deveria pelo menos respeita-la.
— Quem beijou outra estando noivo não fui eu — Simon estourou levantando. — Já fiz o que pediu — sacou a carteira e tirou algumas notas que colocou sobre o balcão. — Fique com o troco.
Zangado com as atitudes do Salvatore, Gabriel observou o sócio e amigo seguir em direção à saída o mais rápido que a bebedeira permitia.
Happy hour: (Em português: hora feliz) nome dado à comemoração informal feita no fim da tarde e após o encerramento do trabalho, em que os colegas se reúnem em bares, restaurantes etc., para confraternizar.
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Ensina-me ~ Degustação
Romance+18 ~ Depois de uma decepção amorosa Paulina Perez, uma tímida governanta, decidi que é hora de mudar e aceitar a ajuda do maior conquistador que conhece: Simon Salvatore, seu patrão. Contra todas as suas regras Simon começa a ensina-la a arte da c...