Retornando de outra entrevista, Paulina entrou em seu quarto. Esgotada, jogou a pasta de couro sobre a cama e caminhou até o espelho da penteadeira. Manteve distância do objeto, o suficiente para analisar seu reflexo da cabeça aos pés. Procurou alguma imperfeição no traje, uma pista para as sucessivas rejeições.
Não era sofisticado: uma camisa branca de manga comprida, saia longa e terninho discreto, ambos na cor azul escuro. Queria parecer responsável e mais velha do que realmente era, e o traje, em teoria, fornecia essa imagem. Na prática, porém, não conseguiu o efeito desejado.
O dia começou bem, mas foi anuviado no momento em que o recrutador do hotel, no qual desejava trabalhar como governanta, olhou-a de cima a baixo e torceu o nariz. Foi questão de minutos para ouvir o tão conhecido "a senhorita não se enquadra no perfil". Era a terceira entrevista só naquela semana em que ouvia essa frase. Que diabos de perfil seria esse?
O problema tinha de estar em sua aparência, pois seu currículo estava impecável. Desde a infância, teve contato com a profissão, acompanhando e ajudando sua mãe na administração da mansão Salvatore dia e noite. Quando Soraia Perez faleceu, passou a trabalhar com Núbia Santos, governanta que substituiu sua mãe. Formou-se em governança hoteleira, fez diversos cursos para se aperfeiçoar e, nos últimos dois anos, trabalhou e morou na casa de uma senhora. Experiência não faltava.
Havia somente uma mácula em seu currículo, uma que a obrigou a omitir o contato de referência do antigo emprego, diminuindo as provas de sua experiência. Infelizmente, junto com a casa e o dinheiro, o filho de sua antiga patroa achou que ela fazia parte da herança. Tremia ao lembrar-se da proposta abusiva, do tapa que deu e da corrida desesperada para evitar outras investidas nojentas durante o velório da mãe dele.
Respirou fundo e afastou a lembrança daquele homem, voltando a focar na busca pelo motivo das rejeições. Talvez fosse o cabelo, imaginou, analisando os fios, que chegavam abaixo da cintura, parcialmente presos por um laço. Devia ter feito um penteado mais elaborado. Levou as mãos aos fios para fazer um coque improvisado, mas soltou-os ao ouvir batidas na porta.
Apressou-se a abri-la, sem se surpreender ao ver Mirela Salvatore à sua frente. Antes de ser a rica proprietária da mansão e matriarca dos Salvatore, Mirela morou por anos no orfanato onde conheceu a mãe de Paulina. Por isso, tratava seus funcionários e os filhos deles como família, principalmente Paulina e sua irmã.
— Boa tarde, querida! Como foi a entrevista? — perguntou Mirela, entrando sem cerimônia no pequeno quarto.
— Não muito bem — confessou triste pela oportunidade perdida e grata pela consideração da bondosa Salvatore.
Até que a ouviu exclamar, satisfeita:
— Ótimo!
— Perdão?!
— Desculpe, querida, deixe-me explicar. — Mirela segurou suas mãos entre as dela. — Encontrei o trabalho perfeito para você. Paga bem e, se aceitar, está contratada.
— Que tipo de trabalho? — perguntou curiosa. A mansão não precisava de uma governanta, e ela não aceitaria menos que isso.
— Simon está procurando uma governanta que possa trabalhar e dormir no apartamento dele. O salário é praticamente o mesmo que pago ao seu pai, e há vários benefícios.
O salário alto e os benefícios desapareceram num instante.
— Trabalhar no apartamento do senhor Simon... Dormir lá... Eu?
Não que Simon Salvatore, filho mais novo de Mirela, fosse uma pessoa ruim — não totalmente —, mas se havia alguém no mundo que representava tudo o que Paulina abominava, era ele. Arrogante e prepotente, passou anos fazendo piadas de sua vida sexual, ou, como adorava ressaltar, da falta dela. Além disso, dias antes, a chamou de ostra e desejou, sarcástico, sorte a ela e a quem a contratasse. A sorte que ele desejou só lhe trouxe azar.

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Ensina-me
Romansa+18 ~ Depois de uma decepção amorosa Paulina Perez, uma tímida governanta, decidi que é hora de mudar e aceitar a ajuda do maior conquistador que conhece: Simon Salvatore, seu patrão. Contra todas as suas regras Simon começa a ensina-la a arte da c...