Novo Drink

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- Como você tem passado Marcinha? Pude notar que não está muito bem.
Inês falava de uma forma calma, sem tirar os olhos do chá que estava preparando. Márcia não sabia do que era o chá, mas o cheirinho já estava acalmando-a, ou seria a imagem de Inês tão plena?

- Já sei que não adianta mentir para você, e também nem quero mentir. Desde que tudo começou minha vida virou de pernas para o ar, mas tudo parece ter piorado depois que vocês o pegaram Eric. Não saber notícias do meu melhor amigo, é horrível - Inês não dizia nada, só olhava para Márcia, mas era um olhar acolhedor, que incentivava ela a falar - E de uns dias para cá, não consigo dormir direito. Antes tinha pesadelos ou sonhos – ela dá uma engasgada ao lembrar os tipos de sonho que tinha, então resolve pular essa parte – Mas agora, não sonho com nada, só acordo durante a madrugada e não consigo mais dormir. É como se algo me acordasse com um susto. Só isso já estava me deixando louca, e hoje perdi meu emprego para complementar.

Inês sai de perto da mesa e vai até Márcia, entregando uma xicara com um chá na cor púrpura, pega uma xicara para si e senta-se na poltrona de frente com ela, fica um tempo em silencio, só observando as expressões de Marcia, e então retoma a conversa.
- Eu entendo a bagunça que sua vida virou Márcia, não é fácil do dia para a noite descobrir a existência de entidades, perder pessoas queridas, ver o melhor amigo quase morrer. Mas se isso te conforta um pouco, Eric está bem. Está se recuperando aos poucos, não posso deixá-lo sair ainda, pois não sabemos qual entidade voltou e nem se vai ser algo do bem...

- Claro que ele vai ser do bem, ele sempre foi. Vocês que duvidavam dele e fizeram ele passar por mau. Era o corpo seco que estava fazendo tudo aquilo.

Embora Inês tenha sido interrompida de forma ríspida por Marcia, procurou manter a calma, pois pode ler na mente da policial o quanto ela estava com medo e preocupada com o amigo.

- Escuta Márcia, não importa o que ele era antes da morte física. Quando voltamos entidades, é como se renascêssemos, e com isso, muitas vezes nossa personalidade e atitudes também mudam. Não estou dizendo que ele era mau antes, mas estou dizendo que ele pode ter voltado como uma entidade não muito boa.

Márcia sente seu rosto queimar de vergonha por ter alterado a voz com a bruxa, e na tentativa de amenizar o ocorrido toma um gole do chá, que a essa altura já estava meio morno. Inês estava sendo educada e paciente, não merecia ser recebida com 4 pedras na mão.

- Desculpa por ter alterado meu tom de voz Inês, eu não sou assim... só que estou cansado de tudo isso.

- Eu sei como você é Marcinha, e também sei que sua mente está gritando que você não está bem. Eu quero te ajudar Márcia, mas não posso fazer isso se você não me permitir, se você não me ouvir.

Marcia novamente toma seu chá, respira fundo e pela primeira vez olha no fundo dos olhos de Inês, e isso faz um frio percorrer sua espinha. Aquele olhar era tão assustador e acolhedor ao mesmo tempo. Era como se fosse um oceano, contendo belezas e segredos que nunca seriam desvendados. Ela então toma mais um gole do chá e continua

-Não gosto de expor minha vida para ninguém, princípios de autodefesa. Mas tem algo que grita para que eu confie em você, não sei explicar, desde o dia em que você entrou em minha mente, eu deveria ter sentido raiva por você ter aberto uma ferida minha, mas pelo contrário, eu me senti leve depois.

Inês observa Márcia falando e sem perceber fica com um sorrisinho fofo nos lábios. Ela realmente sentia algo diferente pela policial, algo que deveria ser motivo de alerta, mas aparentemente os alarmes do coração da bruxa foram desligados, e ela não recebeu o sinal de sentimento crescendo. Inês é tirada de seus pensamentos por uma batida na porta, era um de seus garçons avisando que um dos fornecedores estava esperando por ela.

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