Boiuna

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Esse é o ultimo da madrugada.. Volto só a noite... ou talvez antes kkkk

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Inês tentava controlar as lágrimas, mas estava difícil, Márcia se aproxima novamente, pega em sua mão e a leva para a cama, fazendo ela se deitar em seu colo, então começa a fazer carinho no cabelo dela e após um longo tempo em silencio Inês aparentava estar mais calma, então começa a falar, mas sem levantar colo da policial que continuava a fazer cafuné nela.

- antes de contar quem é boiuna, preciso que você entenda que existem forças bem maiores que nós entidades. São os deuses, e embora muitos tenham esquecido ou ficado céticos em relação a eles, eles continuam existindo e protegendo quem os chamam. São eles que nos dão uma segunda chance, ou retiram essa chance.

Marcia prestava atenção no que Inês falava, e já sentia que a história seria complicada, mas pelo incrível que pareça, saber da existência de deuses não a assustou, ela já estava preparada para a existência de tudo que sempre achou ser lenda. Ela mesma estava com a Cuca deitada em seu colo, nada mais a surpreendia. Inês então da continuidade a história

- Boiuna é uma das entidades mais velhas, ela surgiu logo após a criação do mundo, era ela quem dava direção aos rios, por isso ela possui basicamente um mapa na mente, embora agora muitos rios tenham mudado o curso por vontade humana. Ela deveria ser uma entidade de proteção para os rios da Amazônia e de todo o mundo, ela sempre foi descrita como uma cobra gigante que pode se transformar em uma mulher ou em uma embarcação, ela saia do fundo do rio para espantar aqueles que faziam mau aos animais ou as aguas dos rios. Ela sempre foi uma entidade cruel, que nunca gostou dos humanos, ela sempre dizia que preferia ver eles mortos do que nas suas aguas, mas permitia que eles pescassem para sobreviverem, não por diversão, até que em um determinado dia, ela conheceu um rapaz e acabou se apaixonando. Ela amava ele, e estava disposta a tentar mudar, ele por sua vez, não era uma boa pessoa, e quando soube que ela estava gravida a abandonou. Ela ficou furiosa, os rios transbordaram com suas lagrimas, os peixes sumiram por um tempo, até que ela novamente retomou o controle de seus sentimentos e foi atrás dele, e sem um pingo de dó o matou.

Inês fez uma pausa em sua fala, parecia tentar se lembrar da história, ou estava revivendo a mesma. Márcia não se pronunciou, apenas ficou ali, esperando a entidade continuar a falar.

- Quando tudo aconteceu eu já estava no mundo a alguns anos como uma entidade mãe, até tentei avisar ela sobre ele, mas ela não acreditou em mim, depois tentei impedir ela de fazer besteira, mas a raiva e a frustração a deixaram "cega e surda". Boiuna teve gêmeos, que também possuíam o mesmo poder que ela, Maria Caninana e Honorato. Maria puxou a mãe em tudo, inclusive na crueldade, desde pequena já matava por diversão, já Honorato era bondoso e odiava o jeito da mãe e da irmã, ele não entendia como alguém podia ser tão cruel. Quando já eram jovens, Maria Caninana por não aceitar a bondade do irmão, o atacou. Eles travaram uma dura e difícil batalha, onde Maria acabou por ser morta pelo próprio irmão.

Inês deu um longo suspiro e ficou em silencio por um tempo, parecia que a parte que estava por vir era dolorosa para ela. Então antes de retomar a fala, ela se levanta do colo de Marcia, mas permanece sentada ao lado dela. Aparentemente ela precisava olhar nos olhos da mais nova antes de falar, ou enquanto falava, para saber se seria julgada ou entendida.

- Após Honorato matar Maria, ele decidiu que não queria mais ser entidade, ele não queria matar mais ninguém e não queria viver séculos e séculos carregando a culpa de ter matado a própria irmã, mesmo que por defesa, ele queria ser humano, ter uma vida normal e partir quando chegasse a hora. Então ele veio até mim pedindo ajuda, pois sabia de minha ligação com Ticê, que é a deusa que decide quem vem e quem volta como entidade. Boiuna ficou sabendo de tudo o que ocorreu, inclusive da decisão do filho, ela ficou furiosa e não aceitava que além de ter matado Maria, ele deixasse de ser uma cobra. Ela tentou de tudo para impedir que eu fizesse o feitiço para tirar os poderes dele, mas até ela chegar até onde estávamos, eu havia terminado o ritual e ele já era uma pessoa normal.

Marcia pela primeira vez em horas, resolve falar, pois questões surgiam em sua mente, e embora um pouco assustada com a história, em momento algum julgou as atitudes que Inês tomava, e sim, tentava compreender o que levou ela a tomar tais atitudes

- Então é por isso que ela quer se vingar de você? Por você ter tornado filho dela humano? E se você sabe como tirar os poderes de uma entidade, por que não faz o mesmo com ela?

- Não é tão fácil assim Marcia, eu só pude tirar os poderes de Honorato porque ele me pediu para fazer, e Ticê concordou, e também ele não era uma entidade que recebeu uma missão, ele só era filho de uma. Mas para você entender o motivo do ódio dela por mim, preciso terminar a história. Enfim para que eu pudesse tirar os poderes dele, nós precisávamos ir até o coração da Amazônia, embaixo da arvore mais velha em uma noite de lua cheia, e com a espada que anhanga forjou eu precisava cortar os poderes dele. É como se eu matasse a entidade, mas preservasse o humano existente ali, e assim eu fiz. Quando boiuna chegou onde estávamos e viu seu filho caído, já em forma humana, e me viu com a espada em mãos, sua fúria foi tanta que não pensou duas vezes antes de me atacar

Nesse momento Inês se levanta da cama e abre a parte de trás de seu vestido, Márcia se sentiu desconfortável pela palpitação que sentiu em seu ventre ao ver ela quase se despir em sua frente. Mas Inês só afastou um pouco a parte de cima, mostrando uma enorme cicatriz que ia das costas até abaixo de sua costela.

- Ela conseguiu me ferir com sua presa, pois me pegou desatenta, mas consegui virar borboleta antes que ela me matasse. Travamos uma batalha difícil, dolorosa e sangrenta, que só foi parada quando Honorato, pegou a espada que estava no chão e cortou a ponta do rabo de boiuna, forçando ela a voltar para sua forma humana. Ela estava cega pelo ódio, e tão grande foi sua fúria, que sem pensar duas vezes matou o próprio filho. Quando ela percebeu o que havia feito, e viu o próprio filho morto em seus braços jurou se vingar, pois disse que tudo foi culpa minha. Ela soltou Honorato no chão e gritando de uma forma ensurdecedora voltou ao rio, e começou a matar tudo o que via em sua frente, desde humanos até animais. Eu estava machucada, e enfraquecida, pois havia gasto muita energia para ajudar Honorato, mas não podia deixar ela continuar com isso, então chamei por Ticê, e ela reestabeleceu minhas forças e me deu poder para acabar com boiuna.

Márcia ainda focava o olhar na pele desnuda de Inês, que continuava de costas para ela, mas prestava atenção em cada palavra que era dita. Inês fecha o vestido novamente e volta a sentar na cama, seus olhos estavam marejados, e sua face demonstrava medo pela reação que Marcia teria, ela se sentia um monstro por ter matado uma entidade, um dos dela.

- Então, deixa ver se eu entendi, boiuna te culpou pela morte do filho, que foi ela mesma quem matou, e quando você diz que acabou com boiuna, é que você matou ela, certo? - Inês confirma com a cabeça, mas permanece em silêncio, ela esperava que Márcia a repudiasse a partir desse momento - okay, e foi aí que Ticê disse que ela não voltaria tão cedo?

Inês olhou para Márcia e percebeu que não estava sendo julgada, nem odiada como achou que seria, pelo contrário, estava sendo acolhida e compreendida, pela primeira vez alguém estava interessada em saber a sua versão da história.

- Não. Boiuna voltou mais 3 vezes antes de Ticê a prender de vez, já que todas as vezes que voltava, ela me procurava em busca de vingança. Na sua última volta, ela matou uma entidade ainda criança, que eu cuidava como meu filho. Essa foi a gota d'água para Ticê, que mandou eu não ter piedade e mandar ela de volta para o submundo imediatamente, foi aí que ela disse só deixar boiuna voltar 2000 anos depois.

- Mas pelo que você contou, não fez todo esse tempo ainda. Então, como ela voltou? E por que você ficou tão abalada? Você já não deu fim nela todas as outras vezes?

- Sim, eu dei fim. Mas em todas as voltas ela acaba levando uma parte minha. Ela sempre mata alguém que eu tenha algum tipo de sentimento, e isso dói.

Um silêncio se instaurou e sem que Márcia esperasse Inês se deitou em seu colo novamente, o choro voltou a rolar, eram lagrimas de tristeza por lembrar de todas suas perdas, mas também eram lagrimas de alívio por poder falar com alguém, parecia que um peso havia saído das suas costas.

Ver Inês chorando cortava o coração, Marcia queria poder tirar a dor dela com as mãos, mas como não podia, e sentia que não havia o que pudesse falar para ajudar, passou a fazer carinho nos braços dela, não haviam segundas intenções, era apenas algo do tipo " eu estou aqui, e não vou te deixar só" 

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Fiquem bem xuxus... Até logo... cuidem-se e hidratem-se.... bjinhos na pontinha do nariz

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