Rodrigo perde sua noiva Eva, num terrível acidente automóvel. Seus órgãos são doados. Nunca conformado com sua morte, Rodrigo procura quem foi o receptor do coração de sua falecida noiva, na ilusão de se sentir um pouco mais próximo dela ao conhecê...
A bandeja de queijos que me foi entregue no quarto, iria ser o suficiente para o almoço, assim, não teria que descer tão cedo e encarar novamente aquela mulher.
Ela deixou-me nervoso. Não sabia quem esperava encontrar, mas de fato, não foi a reação que eu esperava ter.
Sempre pensei que ver de quem se tratava, e saber que estava bem de saúde, me deixaria satisfeito, e, de certa forma aliviado, em saber que um pedacinho de Eva ainda se mantinha vivo.
Que talvez isso me ajudasse a superar a sua morte. Só que assim que a vi, mesmo sem saber que era ela a receptora do coração de Eva, eu fiquei paralisado naquele olhar, com uma intrigante sensação que eu não sei explicar.
Assim que subi para o quarto a única coisa que me vinha em mente, era a vontade que eu fiquei de conhecer mais um pouco dela. Vê-la e saber que está bem, não foi suficiente. Fiquei com a sensação de que necessito de mais. Tento ser racional.
Aquela mulher é linda, e aparenta estar muito bem de saúde. Mas ela não é a Eva. O que eu senti, foi algo que eu já não sentia há muito, nervosismo perto de uma mulher. Mas talvez seja por saber que dentro dela bate algo que era do meu amor. Sinto-me confuso e completamente louco. Pego no meu computador portátil. Não iria ficar a pensar muito nisso, nem desperdiçaria o meu tempo com tolices. Felizmente havia Wi-Fi no quarto o que me permitiu trabalhar à distância.
Já perto da hora do jantar resolvo descer. Teria que procurar algum restaurante e não conhecendo a cidade, o melhor seria sair mais cedo para dar uma volta e conhecer um pouco da região antes. Ao aproximar-me da recepção, vejo que ela está sozinha. Minha intenção é apenas deixar meu cartão de acesso ao quarto, e sair. Mas quando me aproximei enquanto olhava o seu rosto, era como se algo me prendesse ali.
Novamente eu não queria tirar os olhos dela, eu sentia-me bem embora tenso na sua presença, por não entender estas sensações. Resolvo agradecer novamente a bandeja dos queijos, de forma a ter um assunto para falar com ela, e poder observá-la por mais uns minutos. Se havia alguma tensão da sua parte pelo que se passou mais cedo, ela disfarçava bem, mantendo sempre sua pose simpática e profissional. Até à parte que eu recusei todos os cartões dos melhores restaurantes sugeridos por ela.
Não quis colocá-la numa situação de constrangimento, mas acho que foi o que eu acabei por fazer.
Sou um idiota.
Eu sabia que provavelmente o nível de vida dela, não lhe permitia ir em nenhum daqueles restaurantes sugeridos, mas também tive necessidade de lhe mostrar que apesar de o meu nível de vida ser alto, eu não sou do tipo de pessoa que não frequenta nada da classe mais simples. Pelo contrário, nunca liguei ao luxo, desde que fosse um ambiente ao qual eu me sentisse bem. O luxo para mim era apenas mais um dos bens que felizmente por ser bem sucedido nos negócios me permitia comprar.
Ela estava a julgar-me pela aparência, e eu não gostei. A razão porque eu quero que ela entenda isso, nem eu sei. Seu aparente nervosismo e suas mãos trêmulas enquanto escrevia o endereço no papel, deixaram-me com a sensação de que eu sou mesmo um idiota.
Não queria ter causado isso nela. Meu desejo era convidá-la para o jantar, para a conhecer um pouco mais. Mas isso ia parecer estranho, e talvez ela achasse que aquilo fosse algum tipo de tentativa de conquista. E não era de todo o caso. Ignorei a minha vontade e peguei no papel agradecendo. Dou um pequeno sorriso, e ela retribui. Embora eu saiba que é por pura educação, pois ela está nervosa, e agora deve-me achar ainda mais louco.
Que se lixe, em breve não a verei mais.
Saio do hotel e vou até o carro. Iria dar uma volta pela cidade antes da hora do jantar. Depois passaria no restaurante indicado por ela. Jantar um peixe fresco assado na brasa de forma tradicional, iria saber-me bem melhor do que qualquer prato feito pelo melhor chef de qualquer restaurante com estrelas Michelin.
A cidade não é muito grande, então em pouco tempo eu pude conhecer grande parte dela. O restaurante que ela me indicou ficava a 3km da praia, e antes do jantar fui até à beira mar para apreciar o pôr do sol.
Confesso que enquanto apreciava aquele espetáculo da natureza à minha frente, meus pensamentos estavam nela, Brenda. Fiquei intrigado, pois pela primeira vez meus pensamentos não estavam em Eva, e sinto-me péssimo por isso.
Eu estou a confundir as coisas só pode. A minha cabeça dói, e eu tento me concentrar em outra coisa enquanto aprecio o horizonte, mas em minha mente uma só imagem aparece, o rosto de Brenda, e aqueles olhos verdes em mim.
Abano a cabeça negativamente para tentar afastar esses pensamentos. Dirijo-me até o restaurante.
Ainda bem que não aceitei nenhuma das outras propostas, pois este restaurante além de pequeno e modesto, cozinhou um dos melhores peixes que já comi. Além da simpatia dos donos no atendimento, sem aquelas formalidades chatas dos restaurantes mais caros. Senti-me como em casa. Voltei para o hotel e já outra equipa fazia o serviço da recepção. Provavelmente ela já teria acabado o seu turno.
Assumo que senti uma certa decepção por isso, esperava vê-la mais uma vez naquela noite. Subi ao quarto e deito-me na cama a pensar no dia de hoje. Tantas emoções envolvidas, que eu não entendia. Estou cansado e com sono. Adormeci com aquele rosto na mente, pela primeira vez depois da morte de Eva sem recorrer à bebida.
🫀🫀🫀
Rodrigo quer conhecer melhor a Brenda.
Será que faz bem?
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.