Segurando a Onda

520 33 1
                                    

Estavamos tomando café, as crianças prontas para escola. Regina e Valentina tomavam café nos seus cadeirões, Alta Gracia estava alimentando elas. Eu não conseguia encarar as crianças, em compensação eles não tiravam os olhos de mim.

- O que foi?! Tem algo errado aqui? - me irritei com tantos olhares.

- Calma mamãe, você anda muito nervosa desde ontem. - Ceci falou.

- Estou com muitas preocupações no trabalho, isso não tem nada relacionado com vocês, sabem disso, não é?

- Claaaro mãe. - Rodrigo respondeu, eles sabiam mais do que eu poderia imaginar, como Mariana mesma falou, eram espertos.

- Você está preparado para a prova filho? - tentei iniciar um diálogo.

- Sim. - Rodrigo respondeu com confiança.

- Quer que eu te busque depois da prova?

- Não precisa, vou ter atividade depois...

- Meu filho está crescendo, cheio de compromissos. - comentei orgulhosa, ele sorriu.

- Mamãe, você pode falar melhor sobre o lance com a Mariana? A gente tem direito de saber, não é? - Cecília falou impaciente, de braços cruzados, não parecia muito feliz.

- Cla-claro... Mas vamos deixar isso para depois da aula? O Rô tem prova e ele precisa se concentrar... Hoje a noite vamos conversar juntos sobre isso. - tentei ganhar tempo. Claro que eles não ficaram convencidos, mas tiveram que aceitar.

- Bom diaaa! - Mariana chegou animada como sempre, juro que quando olhava para ela, sentia frio na barriga e por mais que eu fizesse de tudo para me controlar, percebia meu rosto esquentar e com isso, provavelmente entregava o jogo. Sinceramente ainda não sabia se esse pacote de sensações se deviam ao fato de eu estar nervosa com a mentira que contamos, ou se era porque sentia algo aflorando dentro de mim.

- Bom dia! - respondi sorrindo mas sem encara-la.

- Como minhas bebês estão grandinhas, olha Ana, elas estão comendo sozinhas... - Mariana ficou empolgada pelas meninas estarem segurando seus próprios talheres, evidente que mais faziam bagunça do que comiam mesmo, Alta Gracia ja estava impaciente.

- Não é?! São tão desenvolvidas... - comentei. Mariana sentou a mesa, ao lado das meninas e falou: - Pode deixar que assumo Alta. - ela percebeu a impaciência da Alta.

- Obrigada senhorita Mariana, preciso mesmo cuidar da cozinha. -Alta comentou aliviada.

- E vocês meninos, como passaram a noite? - Mariana tentou uma via de comunicação com Ceci e Rô.

- Não vai cumprimentar a mamãe? - Ceci era perspicaz e com certeza estava desconfiada. Mariana ficou desconcertada e sem ação, era minha vez de agir.

- Já nos cumprimentamos lá em cima, no quarto. - dei uma pausa, olhei para o relógio e falei: - Vocês dois não estão atrasados? -  Eles terminaram a última garfada e levantaram indignados, principalmente a Cecília que estava certa que tinha algo por trás de tudo. Assim que saíram, olhei para Mariana preocupada, ela retribuiu ao olhar.
Terminamos o café, subi, tomei um banho, me arrumei e fui para o trabalho, tinha muita coisa para fazer, agendar reuniões, falar com investidores, essa era a minha parte. Mariana não iria trabalhar naquela manhã, disse que tinha um compromisso e que só iria a tarde. Menos mal, eu teria um tempo a sós, precisava pensar sem ninguém perguntando coisas. Entrei na minha sala e dei de cara com o Ferrán, ele estava sentado na minha cadeira e segurando que caneta. Evidente que seu semblante não era dos melhores, era ameaçador. Respirei fundo e revirei os olhos:

- O que está fazendo na minha sala? - indaguei impaciente.

- MINHA sala você quer dizer? Esqueceu que o espaço é meu? - Ferrán estava exaltado.

O Improvável Onde histórias criam vida. Descubra agora