Primogênita

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Pov
Ana

Que dor de cabeça infernal! Nem consigo abrir os olhos... Preciso de um analgésico. Nunca mais vou beber, pelo menos por um bom tempo. Levantei do sofá fedido a vômito, meu vômito. Preciso mandar higienizar, é o mínimo que posso fazer, pensei.

Peguei o meu celular para ver a hora e tentar falar com as crianças. Eram oito da manhã e não tinham mensagens, estranho. Ok, deve estar tudo bem, hoje é sabado e eles devem estar dormindo. Olhei ao redor e nem acredito que fui parar na casa da Mariana. Sempre que bebo tanto assim, fico com a memória afetada, passam apenas flashs na cabeça, sou dessas que esquece por auto defesa. Minha última lembrança foi ter chegado ali, vomitado e... Espera?! Acho que beijei a Mariana. Ou será que sonhei com isso? Pelo visto vou ficar na dúvida. Meu telefone tocou, era a Marcela, atendi:

- Oi, bom dia! - Marcela falou do outro lado animada.

- Que animação, pode falar mais baixo... Minha cabeça tá doendo... - reclamei com a mão na cabeça.

- Liguei para saber se você chegou bem em casa.

- Cheguei bem, obrigada... Mas não na minha casa.

- Não acredito?! Onde você está Ana? Não me diga que dormiu com a mulher que estava ficando no bar???

- Shiii... Meu Deus! Como você consegue falar tão alto assim... - coloquei mais uma vez a mão na cabeça e continuei: - Não dormi com ninguém. Estou na casa da Mariana.

- Você não perde tempo heim?!

- Já falei que não rolou nada. Eu simplesmente dei esse endereço para o taxista, acho que foi uma espécie de ato falho.

- Ou o destino...

- Acabei de lembrar! - agora eu exaltei a voz e continuei: - Hoje tem vivência no co-working... Preciso urgente de um analgésico. - me apressei para tentar encontrar um remédio para ajudar a me recuperar.

- Você está mal mesmo...

- Me admiro que você esteja inteira.

- Não bebi tanto quanto você...

- Mas sei que se deu bem ontem. - comentei animada.

- Ainda estou me dando querida.

- Não brinca?! Ok, desliga esse telefone então... - respondi com um sorriso e ainda animada. Nos despedimos e eu fui a procura do tal analgésico...

Andei pelo corredor e vi duas portas, ambas estavam entre abertas, olhei através da primeira e o quarto estava vazio, tinha um berço, certamente que era o da Regina. Hoje ela está com o Pablo, pensei. Mas Mariana não estava ali. Respirei fundo e olhei através da outra porta, e la estavam as duas dormindo na mesma cama, Elena e Mariana. Senti meu rosto esquentar e meus olhos marejaram, não consegui conter as lágrimas e voltei abruptamente para a sala. No caminho esbarrei num vaso de planta que fez barulho. Fiquei nervosa de acorda-las.

Elas estavam juntas, ficaram juntas, pensei, eu perdi todas as minhas chances com a Mariana. Me sentia derrotada. Remexi na minha bolsa e encontrei um analgésico, tomei e fui embora. Ainda estava cedo e conseguiria passar em casa, tomar um banho frio, trocar de roupa e ir para o escritório. Peguei um táxi, fui no bar, peguei meu carro e fui para casa.

Cheguei em casa e encontrei Cecília na cozinha, ela estava tomando café da manhã. Tentei passar desapercebida, mas não consegui.

- Mamãe?!

- Oi meu amor, o que faz acordada tão cedo no sábado?

- Eu perdi o sono cedo hoje... Que cheiro é esse? - Ceci fungou perto de mim, certamente o cheiro da minha roupa.

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