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Gustav:

Finalmente é sábado, um dia em que eu posso descansar sem me preocupar com mais nada. Acordo me sentindo mais leve, talvez essa leveza não seja só devido ao fim de semana, ontem eu estava em um dia péssimo, o trabalho cansativo da semana toda se acumulou nas  minhas costas e eu me sentia sufocado, como uma bomba prestes a explodir. Foi então que em plena hora do rush, meu secretário, Enzo, veio até minha sala aparentemente tão estressado quanto eu, ele disse “Olha, tá uma loucura essa semana, eu preciso de descanso, preciso de férias, eu estou trabalhando feito uma vagabunda aqui nessa empresa, tudo cai nas minhas costas, eu concerto os erros de todo mundo por aqui. Sexta passada foi o inferno na terra porque o excelentíssimo chefe decidiu tomar todas e acordar de ressaca em plena sexta feira, porra se você quer me foder pelo menos me paga um jantar…’’ ele continuou falando mas eu permaneci em silêncio, apenas o observando, meu rosto ficou vermelho de raiva, eu precisava mostrar para ele quem é que manda. Fui me aproximando devagar enquanto ele não parava de me atacar, quando fiquei mais perto ele começou a repetir “Gustav? Está me ouvindo? O-o que você está fazendo? … Gustav?” O medo começou a transparecer por ele e eu me aproximei até ficar cara a cara com ele, eu olhando para baixo e ele curvando o pescoço ao máximo para me encarar de volta, então eu, com toda a coragem da minha vida, disse “Escuta bem, Enzo, porque essa é a última vez que vou falar isso. Eu sou o chefe aqui, quem grita aqui sou eu, quem manda aqui sou eu e se essa sua conduta continuar você vai se arrepender amargamente.” Disse tudo isso olhando nos olhos dele, pude ver as mãos tremendo e uma gota de suor se formar em sua testa _nunca me senti tão másculo_, depois de engolir em seco ele disse “S-sim senhor, com licença” e saiu praticamente correndo da minha sala, depois disso eu me sentei sentindo uma leveza  inexplicável _ainda bem que fiz isso_.

Me levanto e vou dando pulinhos até o banheiro, tomo banho, escovo os dentes, penteio o cabelo e passo desodorante e perfume, me sinto muito feliz hoje, vou fazer um longo passeio com o mussarela, assim que saio do banheiro vestindo minha regata e shorts de caminhada o filhote de Pitbull levanta da caminha em um pulo e começa a abanar o rabo de felicidade, pego a guia dele e logo saímos de casa, passear com meu cachorro é sempre muito bom, queria ter mais oportunidades de fazer isso com ele, talvez em um futuro próximo quando eu não precisar trabalhar tanto, seria muito bom… Distraído em pensamentos, viro na direita errada a caminho do parque, quando me dou conta disso, paro a caminhada e olho para os lados, é nesse momento que uma estranha surpresa me vem, por coincidência eu parei em frente a uma feira de adoção, mas meu olhar para fixo na mulher trabalhando em uma das barracas da feira, a mesma mulher do café da esquina, a morena do sorriso lindo… Sem controle sobre meus pés eu começo a caminhar em direção a ela, que me vê depois de alguns segundos, ela provavelmente não me reconhece _e se ela soubesse que nesses últimos dias ela é tudo em que eu penso?…_ Paro em frente a ela e ela me dá mais um daqueles sorrisos perfeitos.

— Gostou de algum? - ela me pergunta.

— O que? - respondo com a maior cara de idiota possível.

— Os gatinhos. - ela aponta para o cercadinho a nossa frente cheio de filhotes de gato — Quer adotar algum? - meu rosto fica imediatamente vermelho e percebo que só vim aqui para olhar para ela e atrapalhar seu serviço, olho para os gatos e todos parecem ariscos ao mussarela, todos menos um, um gatinho preto muito corajoso está perto da grade olhando para mussarela com um ar de “eu sou melhor que você”.

— Esse gatinho o preto não tem medo dele. - digo admirado.

— Ela não tem medo de nada, é muito valente, encontramos ela recém nascida em uma caixa de papelão abandonada na rua, estava prestes a morrer. - abaixo e toco a gatinha, que relutante aceita meu carinho. — Vai levar? O processo de adoção é muito simples, você paga uma taxa de 10 reais para manutenção da ong e assina um comprovante de adoção, depois disso ela é toda sua. - _como eu posso dizer não quando você está sorrindo assim pra mim?_

— Vou levar então. - ela da um pulinho e pega a gatinha no colo. Sorrio com isso e ela parece surpresa ao me ver sorrindo, mas logo o espanto passa e ela sorri de volta, vendo isso sinto uma fisgada no peito e uma sensação engraçada no estômago.

Hoje eu achei que só ia dar um passeio com mussarela, mas agora estou voltando pra casa com uma gatinha dentro de uma caixa de transporte e uma sacola cheia de brinquedos e coisas pra gato. Mas o mais estranho de tudo é que sinto que aquela mulher se tornou alguém especial pra mim, como poderia me manter afastado dela agora?

Meetings and DisagreementOnde histórias criam vida. Descubra agora