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Gustav:

_O que foi que eu fiz?_
Depois de deixar a Erica na casa dela, voltei para a minha casa sem ter muitos pensamentos coerentes, assim que cheguei tomei banho e a sobriedade caiu como uma pedra na minha cabeça. "Eu estou ocupado com uma conversa muito importante pra mim", "jamais deixaria uma mulher tão linda ir sozinha ou com um desconhecido", "a gente pode se encontrar e dar uma volta de moto", _O QUE EU TINHA NA CABEÇA?!_
Meu Deus, como vou encarar ela agora? Depois de tudo que eu falei? Não deveria ter bebido tanto, principalmente com ela lá, e ainda levei ela de moto bêbado _se eu estivesse sozinho não teria problema, mas levar ela na garupa sem estar sóbrio, foi uma irresponsabilidade_, meu rosto queima de vergonha e minha cabeça não consegue parar de pensar em tudo que falei, depois de umas doses _muitas doses_ simplesmente perdi toda a timidez, o que ela vai pensar de mim agora? Vai pensar que sou extrovertido e depois vai se decepcionar quando descobrir que sou tímido demais até para manter uma conversa muito longa... Paro de pensar quando Mussarela começa a lamber meu pé, ele sempre faz isso quando me sinto ansioso, é como se soubesse quando estou angustiado e não consigo dormir.

- Obrigado amigo. - digo para ele, que abana o rabo e volta para sua caminha.

Não adianta ficar remoendo o que fiz quando estava bêbado, na próxima vez que a encontrar vou estar sóbrio e vou tentar esclarecer a situação. Só de pensar em falar para ela que quando bebo fico desinibido sinto meu rosto queimar de novo _isso vai ser um desafio, acho que vou ao café na segunda_.

...

Fico constantemente olhando o relógio, ansioso para a hora do almoço, vou ir até o café da esquina e tentarei conversar com a Erica, falar tudo as claras _isso mesmo_.

Volto para o escritório me sentindo derrotado, quando deu o horário do almoço saí praticamente correndo para vê-la, mas no meio do caminho comecei a pensar se realmente deveria ir, parei em frente ao Dream café, lugar onde sempre vou, e comecei a pensar se não deveria só deixar aquilo para trás e tentar esquecer que a noite de sábado aconteceu. No final das contas entrei no café de sempre, comi a comida de costume e voltei para o trabalho.

_Mas de amanhã não escapa, amanhã eu vou ter coragem de ir falar com ela_

...

Sou um covarde, realmente eu não sirvo para ser sociável, comunicativo, não sou como ela. Já é quinta feira, hoje saí mais tarde do trabalho, são 23:30h e ainda estou dirigindo para casa, as ruas vazias e mal iluminadas combinam com meu humor dessa semana _o sentimento de fracasso é tão doloroso quando uma surra_. Dirijo pelo caminho de sempre, mas hoje alguma coisa me chama a atenção, uma pessoa na verdade, andando na calçada vejo uma mulher familiar, está usando calça jeans azul e cropped branco, as curvas bem marcadas e o cabelo castanhos avermelhado me fazem dirigir um pouco mais lentamente na esperança de ver o rosto da pessoas, mesmo já sabendo quem é, ela olha para os lados quando atravessa a rua e consigo ter uma boa visão de seu rosto, é Erica, mas o que ela faz aqui a essa hora? Sinto vontade de parar o carro ao lado dela e lhe oferecer uma carona, mas a timidez fala mais alto novamente e eu fico apenas a seguindo com o carro _como um psicopata_, ela para no ponto de ônibus e eu resolvo apenas seguir meu caminho e deixar essa pequena coincidência para trás, mas piso no freio quando um homem suspeito se aproxima dela, parece um morador de rua, não consigo ouvi-lo mas sei que ele diz alguma coisa, e pela expressão dela de nojo e medo, sei que não foi algo bom. Então dou ré e paro em frente ao ponto onde ela está parada, abro a janela e sorrio da melhor forma que consigo.

- Quer uma carona? - vejo a expressão dela de alívio quando me vê e sorrio ainda mais, ela corre para dar a volta pelo carro e entra pela porta do carona, se sentando bem ao meu lado.

- Obrigada, é muita coincidência você ter passado por aqui, parece que você sempre chega na hora certa para me salvar. - ela diz sorrindo de orelha a orelha, o que me faz corar e sorrir como um bobo.

O trajeto é tranquilo, não falamos muito, apenas coisas do dia a dia, descubro que ela faz faculdade de história a noite e por esse motivo estava tão tarde na rua _história realmente é a cara dela_, assim que paro em frente ao prédio onde ela vive respiro fundo reunindo coragem para falar.

- Olha Erica, eu realmente gostei de você, te achei uma pessoa muito divertida e quero tentar me aproximar de você. Mas preciso te falar que eu não sou aquela pessoa que te ajudou no sábado a noite, a verdade é que sou muito tímido e não sei muito bem conversar, não sei como me aproximar de alguém apropriadamente. Então, se você quiser construir algum tipo de relação comigo, eu só te peço que tenha um pouco de paciência. - digo tudo de uma vez sem respirar entre as palavras, e quando termino de falar respiro fundo sentindo meu rosto esquentar mais que nunca, olho para meus pulsos e mãos e vejo que até essas partes estão avermelhadas. Ela ficou alguns segundos em silêncio, absorvendo tudo que falei, até que diz:

- Na primeira vez que te vi, quando te atendi no café, achei que você era uma pessoa muito rude e sem educação, e tirei conclusões precipitadas sobre você. Mas... - ela deu uma breve pausa para pensar no que diria e senti minhas mãos tremendo pela ansiedade - quando te vi na feira de adoção e no bar, mudei de opinião sobre, você se mostrou uma pessoa muito diferente do que eu pensava, e eu realmente quero que a gente se aproxime mais. - ela faz pausas demais, meu coração parece que vai explodir - Eu realmente achei você atraente, mas também é difícil para mim começar a me aproximar de alguém, algumas coisas do passado me marcaram muito... Eu estou disposta a mudar isso, podemos nos tornar amigos?

Amigos? Não é exatamente o que eu esperava, mas já é um começo _logo poderemos ser mais que amigos_ calma calma, uma coisa que de cada vez.

- Eu gostaria muito. - ela sorri e pega o celular.

- Quer me dar seu número? - fico vermelho de novo e tentando não gaguejar, eu falo meu número e ela salva meu nome como Gus _gostei disso_ . Nos despedimos e ela entra em casa, fico parado ali por um tempo apenas processando tudo o que aconteceu, menos de 5 minutos depois dela entrar em casa uma mensagem chega no meu celular

"Obrigada pela carona ❤️"

- Não tem de que. - respondo.

Volto para casa com um sorriso enorme, e esse sorriso não some até eu finalmente adormecer.

Meetings and DisagreementOnde histórias criam vida. Descubra agora