Pensa num capítulo difícil para escrever. Jesus amado!
Só de partes descartadas dava um outro capítulo grande!!! E com isso fica a lição: não saia do roteiro, fdp!
Mas eu consegui e é isso que importa. Capítulo fresquinho na mão e longo: 14 páginas!Aproveitem e boa leitura!
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O silêncio pairou na sala.
A pouco mais de um minuto Theo observava a cena ainda surpreso. Nesse momento Clarice estava deitada com a cabeça no colo de sua maman que a envolvia com o braço enquanto segurava sua mamadeira e usava a outra mão livre para servir de apoio a cabeça com o cotovelo contra o sofá. Junto delas estava a cachorrinha de crochê Chloée que a Clara tanto amava.
Pela primeira vez em vários anos Theo via a pequena em seu mundinho e sem ser punida por isso e não imaginava que essa cena lhe traria tantos gatilhos.
Todas as vezes que Clara se atreveu entrar em seu mundinho era covardemente punida por seu pai e tias. Theo foi o primeiro que ousou denunciar a polícia e o resultado foi ainda pior. Dias depois o agressor estava solto outra vez, mais precisamente sob o mesmo teto que sua vítima e furioso. As cenas de horror ainda estavam vivas em sua memória e sempre que se lembrava dela se sentia culpado. Se tivesse ficado calado naquela época teria evitado tudo aquilo e se culpava por isso...
Ali porém não havia sinais de perigo. Ao menos não a sua frente.
- Você não se incomoda?
A pergunta foi lançada de repente pegando Valquíria de surpresa. Estava tão distraída imersa em seus próprios pensamentos admirando a sua pequena que por um momento se esqueceu de que Theo ainda estava ali.
- Perdão, sobre o que está falando?
- Sobre ela ser assim...
Val olhou para os lados esperando uma continuação que nunca aconteceu dando entender que isso era tudo que Theo tinha a dizer.
- Assim como? Infantilista? Não, não me incomodo. Eu acho fofo até.
- Nem tudo mundo aceita e digamos que a Clari não tem o melhor histórico de aceitação do mundo.
- É, eu tive o desgosto de ver com meus próprios olhos, - Valquíria não conseguiu esconder seu incomodo por tocar no assunto. Sua paz se desfazia em um passe de mágica apenas por lembrar do que viu. - Felizmente esse não é o caso por aqui. Eu sei muito bem o que é se sentir um peixinho fora d'água por não ser como eles, eu jamais faria a minha namorada se sentir assim aqui também.
Clara que estava nada interessada na conversa colocou seu braço sobre o braço da maman e acariciou sua mão que segurava a mamadeira. Seu tetê era muito melhor, tinha um efeito calmante único e preferiria mil vezes estar nele, mas o leite continuava igualmente bom e estava contente em poder ter ao menos ele agora.
- Fico contente em saber que pensa assim. Eu entendo que deva ser um tanto desafiador de vez em quando, mas eu literalmente conheço a Clarice desde que nasceu e posso afirmar; ela tem um bom coração. E pela forma que fala de você, eu não tenho dúvidas que te ame de verdade.
- Eu também não... amar uma little demanda muito mais energia e dedicação da minha parte, em compensação ninguém nunca me amou como a Clara me ama todos os dias. E pode ter certeza que o sentimento é recíproco. Estamos juntas tem poucos meses e eu sinto como se tivessem passado anos.
- Vocês ainda vão ser muito felizes juntas.
- Nós já somos, - Val sorriu e se voltou para a sua pequena. - Né, bébé?