Valquíria respirou fundo contemplando o céu sob o horizonte. A xicara quente de chá entre suas mãos lhe passava sensação de paz e tranquilidade. Estava ali desde que sua bébé subiu para se banhar para se livrar da tinta que cobria todo o seu corpo e ficou ali refletindo sobre tudo que acontecera.
Ela sempre soube que precisaria tomar cautela quando diz respeito a sua namorada em estado de regressão, porém não imaginava que a sua pequena seria capaz de prejudicar a si própria enquanto regredida. Embora Clarice não quisesse falar sobre o ateliê, era evidente que estava chateada com o estrago que ela mesmo fez. E suas pinturas novas eram provas evidentes de que estava mesmo chateada com toda a história do Miguel. Não era como se Valquíria fosse profissional em analisar arte, no entanto, ela conhecia muito bem as obras da sua garota e aqueles traços tinha tudo, menos a delicadeza em que Clara costumava desenhar.
Precisava encontrar uma solução, disso tinha toda certeza. Clarice não poderia ter essa reação toda vez que a visse com um bebê no colo. Seu coração era bom, tinha saúde impecável, mas isso não significa que pode passar por sustos como o que tivera mais cedo com muita frequência. Por algumas horas sofreu desnecessariamente achando que viveria um drama tal qual as novelas que assistia. Provavelmente cometeria um crime se seu namoro viesse ao fim por um mal entendimento, principalmente envolvendo o traste do Pedro.
A tensão que se espalhava pelo corpo de Valquíria outra vez foi interrompida pelo toque de Clara deslizando pelo seu ombro a pegando de surpresa por trás. Clara se inclinou para frente abraçando a namorada por trás e lhe deu um beijo demorado na bochecha.
- Pronto, estou limpinha! - Comentou satisfeita.
Val jogou a cabeça para trás e fez um biquinho pedindo um beijo também nos lábios sabendo que Clara jamais negaria seu pedido.
- Limpinha e cheirosa. Vem cá, senta no meu colo, deixa eu dar um cheiro no seu cangote - Val deu espaço para sua namorada sentar em seu colo e a recebeu com um abraço apertado e muitos beijinhos pelo rosto e pescoço. Sua pequena precisava receber todos os miminhos do mundo para saber que era o ser mais precioso da vida dela e lhe ofereceria todos de bom grado. - Está muito cheiroso o meu neném, - Val afundou o rosto no pescoço de Clara para lhe dar um cheiro e a fazendo contorcer.
- Faz assim não, maman - Clara soltou gargalhadas com as cócegas involuntárias que sentia. - Faz cosquinha.
- Eu amo a sua risada, bébé.
- Mais que a do Miguel?
Val afastou o rosto do pescoço de Clara e a encarou seriamente nos olhos. - Você é e sempre será a única bebê da minha vida, Clarice - Val pegou a mão da namorada e depositou um beijo prolongado. - Me peça o mundo que eu te dou, mon amour. Je promets de t'aimer pour l'éternité et de consacrer ma vie pour la nôtre. Je te le promets, mon amour ! Tu peux me faire confiance !
Clarice sorriu sem entender e mesmo sem entender sentia em seu coração que se tratava de algo muito sério. Namorar Valkyrie estava lhe obrigando a procurar aprender o francês o quanto antes. Detestava quando sua namorada lhe dizia algo que acreditava ser uma declaração e não era capaz de entender tudo. Entretanto, Clarice sabia que para Val era mais fácil se expressar assim e por essa razão se contentava em entender por alto e apreciar cena, palavras não era o forte da sua mulher e o que vinham dela era sempre muito bem recebido.
- Eu não entendi uma palavra, - Clara confessou fazendo Val rir com tamanha fofura.
- Você pode não entender uma palavra, mas verá com os próprios olhos, - Val a acariciou o rosto. - Vamos comer, Zé Bonitinha? Eu não acho que a senhorita comeu algo enquanto estava sozinha e também quase não comeu na casa da Naya. Eu trouxe bolo para você.
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