CAPÍTULO 10 |BÔNUS|

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JORGE MATUVIET

Vou até o banco de sangue do hospital, e faço uma demorada busca para encontrar uma das bolsas de sangue da última coleta que Vanessa fez. Uma exímia doadora de sangue. Minha esposa, sempre tão bonita e atraente, arrancando olhares por onde passa, com seu jeito alegre e atencioso. Como isso me enfurecia.

Após ter conseguido o tão querido sangue, organizei uma excursão de busca pela minha amada esposa. Realmente não queria que algo tivesse acontecido com ela, porém, Vanessa desapareceu a duas semanas e os guias têm provas e alegam que ela quis ficar em uma planície congelada ao longo da montanha, onde provavelmente lobos solitários devem ter encontrado. Porém, atestado de óbito não é tão fácil, porque não foi encontrado exatamente nada, que indique que ela esteja morta.

— Vamos passar a noite aqui. — O guia avisou, parando em uma encosta congelada.

Agradeço internamente por isso, porque além da exaustão, preciso colocar meu plano em prática. Quando apenas a Aurora boreal estava iluminando o céu, fui pelo lugar já mapeado por mim, até encontrar o lugar apropriado para fazer o literalmente derramamento de sangue.

Com a cena armada, voltei para onde os outros se encontrava, e deixei relaxar e descansar. Minha amada esposa deixou um belo seguro de vida, onde eu sou obviamente o único beneficiário. Um seguro de vida de dois milhões, e isso poderá mudar totalmente a minha vida. De um simples enfermeiro, a um novo milionário.

A vida é boa. — Sussurro para ninguém em específico.

[...]

No outro dia, e meu plano agiu como o planejado. Pela quantidade de sangue que ela perdeu, agora apenas faltava encontrar o corpo, porém, o mais importante já existe que é o DNA, e como está entrando no inverno, a nevasca logo impedirá as buscas por um corpo e tudo estará resolvido. Bom, talvez encontrem um corpo, afinal nem tudo é cena. Minha esposa realmente desapareceu e não deixou rastros, porém, estou agilizando as coisas.

— Estou me sentindo destruído. — Choro, vendo o sangue da minha esposa espalhada pelo espaço. — Tão jovem.

— Sinto muito. Ainda não sabemos se é dela. — Um dos guias da busca, tenta me consolar. — Esse sangue está muito suspeito. Não existe sinais de luta, ou nada que ligue ela ao lugar, como seus materiais ou algo parecido.

Tento pensar no que fazer, para deixar a situação mais parecida. Sei que quando fizerem os exames, apenas essa quantidade de sangue pelo lugar, será o suficiente para atestar o óbito, porém, quero que não tenham nenhuma dúvida.

Enquanto a equipe chega para recolher o material, resolvo andar um pouco a uma maior distância, agora, realmente querendo encontrar algo que ligue a ela. Tenho que descobrir o que aconteceu, e se por algum acaso ela ainda estiver viva, término o trabalho que já deveria ter feito a anos.

— O que é aquilo?! — A distância, vejo alguém encolhido e apresso indo na direção, que parece cada vez mais e mais distante.

Certo ponto, já nem percebia o quanto havia caminhado e consegui finalmente chegar até a mulher. Minha esposa. Está linda como sempre, não usa quase roupa de frio, e isso me deixa impressionado, porém, não é o que pretendo me interessar no momento.

— Amor! Estava procurando você a dias. — Me aproximo, deixando a adaga perfeitamente adequada a palma da minha mão. — Vanessa? — chamo, percebendo que ela está sem nenhuma reação.

Melhor assim, não queria vê-la chorando e implorando para viver. Me aproximo ao máximo, e toco minha mão na sua pele estranhamente quente, e sinto todas as vezes que magoei ela e machuquei passando na minha visão. Uma sensação tão angustiante, parecia que estava sentindo tudo o que ela estava sentindo, e finalmente Vanessa me abraçou.

— Você veio me salvar. — Sua voz é suave, e me faz sentisse ainda mais inquieto, como se todos os meus sentimentos estivessem aflorados, arranhando minha pele.

— Exatamente isso. — Sussurro no seu ouvido, juntando toda a minha coragem, vendo a lâmina nas costas dela. — Vou sentir sua falta. — Declaro com sinceridade, porque apesar de tudo, minha esposa foi a mulher que mais me cativou.

Por um instante penso em desistir, alguns momentos que tivemos juntos expandindo minha mente, me deixando meio zonzo de tantas lembranças, como um teste para que eu desista do meu ato.

— Vai? — senti o calor das suas mãos, atravessando a roupa térmica e acertando minhas costas, e abraço ela com mais força, aproveitando o momento para enfiar a lâmina nas suas costas com força. — Jorge?! Por que fez isso? — os olhos dela brilham, parece estrelas cintilantes e me vejo fechando os meus e enfiando com mais força a lâmina, tentando garantir que ela não mais me olhara daquela forma.

— O que?! — o gosto ferroso de sangue invade meu paladar, e tento me apegar ao corpo da Vanessa a minha frente, mas ele se desfaz sobre o meu olhar, milhares de borboletas prateadas se espalhando como um enxame. — O que está havendo? — toco a mão no meu peito, e sinto a adaga enfiada no meu peito, apenas o cabo mantendo no exterior do meu corpo.

"— Pobre homem. Sucumbiu à ganância, desprezou o amor e agora agoniza no seu próprio desespero." — A voz suave se manteve ao meu redor, e procuro de onde vem, tentando encontrar alguma consistência sobre o que está havendo. "— O amor e o desapego, dá a vida, da mesma forma que o desamor e a ganância a retira." — Na minha visão já embaçada, consigo ver a cena de minutos atrás, onde achei abraçar e matar Vanessa, seguida por uma outra cena, um casal abraçado em meio a uma fenda em um desfiladeiro, enquanto as mesmas borboletas dançam ao seu redor.

— Por favor. — Eu imploro, sentindo meu sangue quente se espalhando por dentro da minha roupa, e enxarcando minha vida. — Vanessa?! Vanessa, por favor. — Procuro ao redor, tentando encontrar seu corpo.

Apenas seu rosto aparece bem diante do meu, formado pelas borboletas cintilantes, então dos seus lábios saem um sopro quente que me faz agoniza, me engasgando com meu próprio sangue. A vida se esvaindo, de forma tênue e dolorosa, da forma que desejei tirar a vida da minha esposa.

[...]

NOTÍCIA

Quatro anos após o desaparecimento da conhecida fotógrafa Harley Coleman, a montanha Yuti fez mais duas vítimas. A designer e fotógrafa Vanessa Mota, desaparecida a duas semanas, após mais uma das suas empreitadas para descobri algo sobre o sumiço da sua amiga e chefe, teve seu misterioso fim, tendo a morte confirmada nos últimos dias, e seu marido, o enfermeiro Jorge Matuviet tirou a própria vida na mesma montanha após ter a confirmação da morte da amada esposa.

[...]

❤️❤️❤️❤️
Curte e comenta bastante, que eu volto em breve.

O SEGREDO DA MONTANHA 2 |+18| ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora