FAZ DIFERENÇA

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Segunda-feira, 07h da manhã, sai apressada de casa para pegar o ônibus e ir para o meu estágio. Ao avistar o ponto de ônibus ainda de longe o vi parado, pensei se iria correr ou não, gritar ou não. Só pra iniciar bem o dia resolvi correr, quando alcancei o desgraçado partiu, suspirei me segurando para não gritar de ódio.

Bom, acima apenas uma palinha da minha vida, meu nome é Luiza, moro no Rio de Janeiro, faço estágio em um grande escritório de advocacia e curso direito na PUC-Rio, pego o total de seis ônibus diariamente, então – alerta ao leitor – cenas como essa são comuns.

Esperei até o próximo ônibus chegar, segui minha rotina normalmente, do estágio direto para a faculdade, na faculdade era o único lugar que eu nunca me atrasava por questões dos ônibus, afinal eu saia as 16h do estágio e minha aula começava apenas as 19h.

Por vezes eu ficava passeando pelo campus, por vezes na biblioteca, afinal bolsistas não podem se dar ao luxo de reprovar, assim como quanto antes eu saia de férias poupava dois ônibus, mas eu gostava mesmo quando minha melhor amiga, Duda, chegava mais cedo e ficávamos falando sobre a vida.

Duda havia me mandado mensagem dizendo que estava chegando na faculdade, me animei e esperei sentada no gramado curtindo a sombra das árvores e ouvindo os pássaros cantarem, local de fácil localização uma vez que Duda e eu sempre ficávamos ali.

Ao avistar Duda começou a subir a irritação, eu jurava que meu dia não teria como piorar, mas pronto, Duda não estava sozinha, vinha com Igor, estudante de administração que ela estava ficando e ela, a irmã dele, Valentina.

Eu não tinha absolutamente nada contra o Igor, ele parecia ser legal, tratava a Duda como uma verdadeira princesa, mas a irmã, essa menina era literalmente insuportável. Valentina era minha colega no curso de direito e eu duvido que exista no mundo alguém mais irritante. Eu, muito madura que sou, fechei a cara, segurar vela para a Duda e o Igor de forma alguma seria um problema pra mim, mas segurar vela com a Valentina era demais pra mim.

- E aí. – Vejo uma Duda sorridente vindo me dar um beijo e sentando no chão ao meu lado. – Esperou muito?

- Oi, Duda. – Bem seca mesmo. – Não, uns vinte minutos apenas. – Igor fez o mesmo. Virei a cara pra não ter que cumprimentar a irmã. – Oi Igor.

- Oi, Lu. – Disse sentando ao lado da Duda que se encostou nele. – Espero que não se importe de termos vindo, a Duda estava lá em casa e disse que não tinha problema.

- Não, claro que não. – Sorri amarelo ainda sem ter feito qualquer contato visual com Valentina.

- Oi, Luiza. – Até a voz dessa menina me irritava.

- Oi, Valentina. – Sorri amarelo, mas logo desviando o olhar, não queria ter que trocar beijinhos com ela também.

Considerando que para um bom entendedor meia palavra basta, ela não arriscou, apenas sentou ao lado do irmão.

- Lu, você lembra do aniversário da Lara nesse sábado, né? – Duda tentando puxar assunto.

- Não, eu tinha esquecido na verdade e eu não vou.

- Nem vem com essa, vai sim, a Lara é sua colega, e inclusive me convidou só porque eu sou sua amiga, lembra?

- Eu sei, Duda, mas você sabe que eu moro longe e é ruim de ir até a casa da Lara e voltar depois.

- Ué, mas não é só chamar um uber? – A embuste falou.

- É, Valentina, é só chamar um uber, você pega uber? Sabe quanto custa um uber na madrugada? Não, né. Nem todo mundo ganhou carro de 18 anos do papai. – Falei ríspida diante da falta de noção dessa garota que achava que só porque ela tinha dinheiro todos tinham.

- Mas é só uma vez, não deve fazer tanta diferença assim. – Argumentou.

- Faz, Valentina, faz diferença pra mim.

- Deixa de ser mão de vaca Luiza, vai ser o maior festão. Você é tão mal humorada que eu acho mesmo que o que falta na sua vida é diversão, só estuda.

- E quem foi que te perguntou o que você acha Valentina? – Falei irritada, estava demorando.

- Ta bem, se quiser eu te dou uma carona, eu te busco, te levo de volta, ou você dorme lá em casa/

- Valentina, não existe a menor possibilidade de eu pegar carona com você e muito menos de dormir na sua casa e pra mim já deu, só de saber que você vai estar nessa festa é mais um motivo pra eu não ir e estou indo. – falei de olhos fechados entredentes pra não surtar levantei e sai antes de alguém responder.

A Valentina parece que desde o primeiro dia de aula a dois anos atrás tem como principal passatempo ser sem noção perto de mim, mas eu simplesmente não consigo ignorar e ela insiste em falar comigo, por isso deduzi a muito tempo que é pessoal.

Estava sentada na cantina tentando ficar menos irritada mexendo nas redes sociais quando vi Duda, dessa vez sozinha, se aproximando.

- Precisava ter falado assim com a garota? – Perguntou ao sentar na cadeira a minha frente.

- Poxa Duda, você sabe que eu não suporto essa garota e trazer ela junto, sem falar que tive um dia terrível.

- Ela estava sendo legal e/

- Ah Duda, você sabe muito bem que eu passo isso a dois anos, ela me inferniza, aí agora com esse papinho de carona, não vem me dizer que ela resolveu ser uma boa pessoa de uma hora pra outra.

- Ta, desculpa, é que nós estávamos na casa deles e eu disse que viria te encontrar, convidei o Igor e ela ouviu, perguntou se poderia vir e eu achei que não teria problema.

- Pois tem, o Igor é um fofo, mas eu não quero aproximação com a Valentina, por favor.

- Tudo bem, sem Valentina, bandeira branca? - Ergueu as mãos em rendição – Mas ela bem que espichou a orelha quando ouviu falar no seu nome. – Falou rindo, rolei os olhos. – Eu acho que ela tem uma queda por você.

- Nem vem com isso pra cima de mim, ela me inferniza desde o dia que me conheceu, sem falar que é uma galinha completa, todo mundo baba em cima dela o tempo todo e ela sempre deixou claro que adora essa atenção. Não existe a menor possibilidade, nunca, nunca, nunca, de eu me interessar por ela. – Falei tentando não usar um tom grosseiro.

- Nem quando você olha aqueles olhos, aquela boca/

- Ué, troca de irmão e pega pra você. – Essa frase saiu em um tom mais irritado do que eu planejei arrancando uma risada alta da Duda, eu adorava a risada dela, não pude evitar de rir junto.

- Eu estou bem com o Igor, vamos mudar de assunto antes que você acabe se irritando comigo também. 

Verdade ou Desafio?Onde histórias criam vida. Descubra agora