DEUX

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7 DE JUNHO DE 1984
MONTREAL, CANADÁ



  CHEGUEI no padoque e parecia que não existia uma alma viva sequer, mas Ayrton me confirmou que estaria aqui. Havia respondido meu telefonema com um Fax e deixou bem claro que era pra entrar e procurar os boxes que tinham no autódromo.

  Poucos estavam montados, visto que os testes irão acontecer apenas no final de semana, portanto não foi nada difícil encontrar o pit da Toleman. Procurei por Ayrton, mas havia apenas um carro pendurado a poucos centímetros do chão.

  — Olá? — Chamei.

  Levei um susto quando surgiu um barulho de rodas se arrastando pelo chão. Logo vi a cabeça de Ayrton se levantar e pude ver que seu rosto estava sujo de graxa.

  — Céline — ele disse, logo se levantando. — Chegou na hora certa — sorriu fraco.

  — Ayrton — o cumprimentei — Espero que valha a pena. Custou muito conseguir vir para cá.

  — Tenho certeza que Alain está satisfeito com sua vinda, madame — disse com um tom tanto cínico.

  Semicerrei os olhos.

  — Alain não era o problema, Senna — o respondi afiada. Ele me encarou de canto de olho. — Eu trabalho fora.

  — Ah, certo — concordou. — Mas conseguiu, não conseguiu?

  — Sim. Mas me diga, o que vamos fazer?

  Ayrton abriu um sorriso divertido e encarou seu carro que estava um tanto quanto sujo. Sua resposta foi o silêncio seguido de uma movimentação que não pude entender: foi até uma alavanca e a puxou, fazendo o carro se erguer um pouco mais do chão.

  — É o máximo que consigo levantar, garanto que pouco irá se sujar. Venha — me chamou.

  — Para debaixo do carro? — perguntei sem acreditar.

  — É claro, Céline!

  Relutei, mas caminhei até ele, segurando sua mão que me ajudara a deitar em um... skate.

  — Você tem certeza que isso é seguro?

  — Faço isso todos os dias e aqui estou, sem nenhum arranhão!

  Encarei Ayrton e seu sorriso divertido e por fim me deitei no skate. Logo ele me empurrou para baixo do carro e instantes depois já estava do meu lado, direto no chão.

  — É um tanto claustrofóbico — comentei.

  Ayrton riu.

  — Se acostume com isso, mon cheri — zombou. — Pronta?

  Respirei fundo e suspirei, então olhando para o motor que tinha na minha frente.



(...)




  — [...] Agora que aprendeu certas coisas, já pode entender a razão de algumas competitividades do padoque — Ayrton explicou enquanto caminhávamos pelo box. Seu rosto com mais graxa ainda.

  — Interessante...

  — Sabe, Céline, poucos jornalistas fazem isso, de saber o por trás de tudo. Todos eles entendem o esporte... Assim como os pilotos, eles só fazem aquilo que "devem fazer", correr, ou no caso dos jornalistas: escrever e entender o básico do esporte. Não procuram saber os bastidores de cada equipe, nos boxes, dentro do cockpit, dos motores... Isso realmente vai agregar na sua carreira. Pode ter certeza!

MY SOMETHING, ayrton senna (slow updates)Onde histórias criam vida. Descubra agora