TROIX

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18 DE JULHO DE 1984
PARIS, FRANÇA



  UMA das coisas que passei a detestar no meu trabalho, apesar de amá-lo, é não poder acompanhar todas as corridas de perto. Ou seja, não ser uma jornalista oficial da Fórmula Um. Tentei várias vezes alguma vaga em vários dos jornais e nenhum me aceitou. Não tinha experiência o suficiente. Claro que o erro possa ter sido meu, afinal não foi para essa área específica que estudei na faculdade. De qualquer maneira, falta de interesse e de busca não foi o motivo.

  Voltando ao assunto principal, detesto não conseguir acompanhar as corridas de perto, detesto não ter ido nas últimas três corridas e detesto mais ainda ficar tanto tempo sem falar com Ayrton. Claro que, todas as semanas a gente conversava ao menos uma vez para atualizações tanto para mim quanto para ele, mas ainda assim eu sentia falta. Não era a mesma coisa do que pessoalmente.

  As últimas corridas, no entanto, não foram tão boas para Ayrton e isso era uma pena. Quase todas ele precisou se retirar, ou porque passava mal ou porque o carro quebrava. Era um baita azar para o brasileiro, que merece uma equipe mais resistente do que a Toleman. No último abandono que teve, em Dallas, Ayrton me ligou — para minha surpresa — e a primeira coisa que fez foi desabafar para mim. Estava furioso, o que era de se esperar, e não parava de reclamar do motor do carro.


  — Você não conseguiu arrumar muita coisa, não? — pedi à ele.

  — O que fiz eram coisas simples — disse chateado. Poderia jurar que ele estava, na verdade, emburrado. — Não sou eu quem monto o carro, infelizmente. Esse carro está uma porcaria!

  — Eu imagino a sua frustração, Ayrton.

  — É a quarta vez e não estamos nem na metade da temporada! E o asfalto estava uma merda para pilotar!

  — Se acalme, Ayrton. Tenho certeza de que logo sai dessa. E vamos levar em conta que é seu primeiro ano na Fórmula Um, e para um novato você está indo muito bem — sorri para mim mesma.

  O brasileiro suspirou do outro lado da ligação, e por alguns instantes ficamos em silêncio.

  — Você realmente está indo muito bem, Ayrton.

  — Obrigado — ele disse por fim. — Mas eu posso ser muito melhor que isso, só preciso de um carro melhor.

  — E você vai ter — sorri. — Já conversou com seu agente sobre aquela vaga que comentei?

  — Falei — disse. — Nigel realmente vai sair da Lotus, estamos indo atrás dessa mudança. Mas isso é extremamente confidencial, Céline — apontou.

  — Do que estávamos falando mesmo? — brinquei.

  — Estou falando sério.

  — Pode ficar tranquilo, Ranzinza — peguei no seu pé.

  Escutei-o soltar o ar mais uma vez, e segundos depois e se desculpou.

  — Me desculpe, estou estressado.

  Ri do outro lado da ligação. Ele nem precisava explicar, porque estava bem nítido.

  — Você deveria sair para dispersar a mente — sugeri. — Vai ficar na América nessa semana? — pedi curiosa.

— Um pouco na América, um pouco no Brasil e então vou para o Reino Unido.

  — Vai para o Brasil? — pedi curiosa.

MY SOMETHING, ayrton senna (slow updates)Onde histórias criam vida. Descubra agora