DIX

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23 DE DEZEMBRO DE 1985
TATUÍ, SÃO PAULO






  EU NUNCA TINHA PISADO no Brasil antes de hoje, e sempre acreditei que isso apenas aconteceria por conta da Fórmula Um. Bom, está acontecendo pela Fórmula Um, mas não em uma corrida, e sim por uma amizade que ela me deu.

  Eu estava nervosa pra caramba, não só pelo fato de entrar em um país onde não falo a língua e muito menos as pessoas aqui falam francês, mas também porque eu iria comemorar o Natal depois de anos, e com a família de Ayrton.

  Sem contar o calor do país.

  Céus, o Brasil é quente!

  Quando observava a cidade pela janela do avião, acreditei que estivesse frio ou ao menos fresco por conta do céu nublado, mas o vento quente quase me derrubou assim que botei meus pés na frente da porta do avião.

  Ayrton foi gentil o suficiente — como sempre — ao me buscar no aeroporto de Guarulhos, e para minha surpresa, que na verdade não deveria ser tanta, conhecendo o piloto, ele estava lá, me esperando de bom grado, pronto para nos levar até o heliporto.

  Senna iria nos levar até sua fazenda de helicóptero.

  Quando o vi, eu o reconheci de longe. Estava usando uma calça de alfaiataria — nesse calor? —e uma camiseta simples presa em seu cinto. Ah, e seu óculos escuros.

  Isso está se tornando sua marca registrada.

  Sorri para ele, que me viu e descruzou os braços para acenar. Fui até ele caminhando rapidamente sem me importar com minha bagagem pesada que hora ou outra balançava demais, e então o abracei forte assim que cheguei perto o suficiente.

  — Céline! — ele disse surpreso e com certa dificuldade, já que ambos nos apertávamos como se não nos víssemos há anos.

  Faziam poucas semanas, na verdade.

  — Com esse calor eu me surpreendo de não colar em você depois desse abraço! — disse animada.

  Ayrton riu e concordou, logo tirando de minhas mãos a minha mala.

  Me pegou de surpresa quando ele me puxou delicadamente pela mão.

  Fingi que não era nada demais, que era corriqueiro, mas por dentro eu não tive como ignorar a pontada de felicidade genuína que esse pequeno gesto me causou.

  — É, realmente está um calor do cão em São Paulo — ele disse. — Como foi a viagem?

  — Tranquila. Eu dormi grande parte do tempo.

  Ayrton se virou na minha direção e sorriu.

  — Vamos ver se você vai dormir daqui até Tatuí.

  Seu tom era divertido, perverso, e isso me fez rir, já sabendo o que deveria esperar de Senna.

  Caminhamos até o outro lado do aeroporto para chegar até o heliporto. Não havia ninguém lá além dos operadores de pista, ou seja lá o que faziam.

  Ayrton guardou minhas coisas na parte de trás da aeronave e gentilmente me prendeu entre os cintos do banco enquanto me explicava a nossa rota. O caminho normal levaria dez minutos, mas como ele decidiu voar aos redores de outras cidades, vamos levar meia hora até chegar em sua fazenda.

  Quero que tudo passe devagar, para poder aproveitar todo o tempo que tenho ao seu lado, e no Brasil.

  É um lugar muito diferente dos vários outros que já frequentei. Cidade grande, assim como Guarulhos, eu nunca visitei.

MY SOMETHING, ayrton senna (slow updates)Onde histórias criam vida. Descubra agora