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20 DE OUTUBRO DE 1984
CASCAIS, PORTUGAL






  SAÍ CORRENDO DOS BOXES até o pódio, cheguei antes mesmo dos pilotos já estarem a postos. Alain cumprimentava o público enquanto Niki parabenizava Ayrton, que tinha um enorme sorriso no rosto.

  Sua última corrida no ano, a última com a Toleman, ele terminou em terceiro lugar. Terceiro lugar!

  Ele não teve bons resultados nas últimas corridas, sem contar quando ele foi punido por toda a questão da sua saída da equipe, e então na próxima, no Grande Prêmio da Europa, ele retirou-se por incompetência do carro. E agora ele simplesmente conseguiu um pódio.

  Eu estava eufórica, tanto que sequer lembrei de fazer o meu trabalho.

  Reginaldo correu atrás de mim com câmeras e microfones, chamando meu nome para entregar-me o equipamento que eu havia esquecido.

  Não me importava, para ser sincera. Eu só queria compartilhar o momento com o piloto.

  Ayrton estava vibrante, com um dos maiores sorrisos que já vi em seu rosto.

  Sei que era por alguns motivos.

  Ele nunca estava satisfeito com apenas um pódio, ele precisava ganhar. Mas um pódio significava que ele estava perto disso, de seu sonho. Da vitória.

  Também estava aliviado que a temporada já havia chegado ao fim, por sua sorte. Ele estava pronto para descansar e começar 1985 na Lotus.

  Ayrton abraçava o seus mecânicos, aqueles que ainda gostavam do piloto, e mesmo no lugar que eu estava, quase sendo espremida entre as pessoas, ele me achou. Tentei passar pelo povo,  empurrando todos sem me importar, e Ayrton veio em minha direção, sorrindo.

  Ele me abraçou.

  Ele fez isso.

  Me pegou de surpresa, mas não deixei de devolvê-lo.

  Para nossa sorte, a estrela do dia não era ele, mas sim Niki. Havia ganhado o mundial por meio ponto de diferença de Alain, e isso deu o que falar. As câmeras não estavam focadas em nós.

  — Ayrton! Meus parabéns! — disse eufórica. — Céus, que corrida brilhante! Fantástica!

  Ele não soube me responder de imediato, ele apenas sorria satisfeito.

  — Terceiro lugar!

  — Terceiro lugar! Poderia ser melhor, mas diante da situação...

  — Ayrton, está ótimo! — o interrompi. — Um resultado ótimo!

  O piloto me olhou com certa dúvida, mas então cedeu, me abraçando mais uma vez.

  Seu suor gruda em mim, mas por minha sorte ele não fede. Deve usar um ótimo desodorante.

  — Você não trouxe o gravador? — Ayrton perguntou curioso.

  — Eu esqueci. Nem me importei, na verdade.

  Ayrton riu e concordou com a cabeça. Seus olhos profundamente encaravam os meus, e não fosse por Reginaldo, eu não sei até onde isso iria. 

  — Uma palavrinha, Ayrton? — ele nos interrompeu.

  Nós dois desviamos o olhar para o jornalista brasileiro, e com isso Ayrton acabou soltando suas mãos de meus braços. Sorri para ele e para o jornalista, então me afastando dos dois e os deixando ter esse momento.

  Peguei meu equipamento que Regi havia deixado em uma cadeira bem perto de onde eu estava e então corri para perto do pódio, para poder escrever uma matéria ao menos digna de uma coluna em um jornal. 

MY SOMETHING, ayrton senna (slow updates)Onde histórias criam vida. Descubra agora